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Alex Solnik

Alex Solnik, jornalista, é autor de "O dia em que conheci Brilhante Ustra" (Geração Editorial)

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Nem Bolsonaro, nem Mourão

Para Alex Solnik, Bolsonaro e o vice "são iguais. É um a cara do outro, apesar do esforço de Mourão de se diferenciar. Ambos de extrema-direita, ambos militares, ambos autoritários"

Bolsonaro e Mourão (Foto: Isac Nobrega/PR)

Haveria impeachment de Collor se o seu vice fosse igual a ele?

Collor era jovem; Itamar tinha cabelos brancos. Collor estava envolvido em tenebrosas transações, ele não. Collor era falastrão e ele, mineiro. Collor radical, Itamar moderado. Collor explosivo, Itamar taciturno. 

Collor caiu porque era certo que com Itamar Franco seria diferente. Para melhor.

Temer também era diferente de Dilma. Partidos diferentes, ideologias diferentes. Ele de direita, ela de esquerda. Ele, velha raposa; ela, novata. Ele envolvido em tenebrosas transações, ela não.

Os mentores dos impeachments sabiam como seria depois de Collor e depois de Dilma. Impeachment detesta surpresas.

O caso de Bolsonaro e Mourão é diferente. Ou seja: eles são iguais. É um a cara do outro, apesar do esforço de Mourão de se diferenciar. Ambos de extrema-direita, ambos militares, ambos autoritários. O primeiro a falar em autogolpe foi Mourão.

Brasília não tem a menor ideia de como seria um governo Mourão. Ou quem seriam seus ministros. Mourão não foi eleito, não tem compromisso com o eleitor, não é político, não convive com políticos, passou a vida toda dando ou recebendo ordens. Tiraria os militares do governo? Mudaria o rumo da economia? Garantiria a democracia? 

Perder meio ano para, ao final e ao cabo, entregar o poder a outro militar não apetece ao centrão. Trocar um capitão, que seus líderes já conhecem e com quem sabem lidar por um general que é uma incógnita pode ser um tiro no pé. Sabe-se lá se ele volta com a Lava Jato e coloca todos eles na cadeia? 

Políticos não abrem impeachment sem terem certeza de que, para eles, a situação vai melhorar com a troca.

Se dá no mesmo, ou periga piorar, chance de impeachment é zero.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.