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Cesar Locatelli

Economista e mestre em economia.

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Nem o Financial Times aguenta Bolsonaro

O jornal inglês, porta-voz dos interesses financeiros mundiais, não admite, entretanto, que a horrível gestão econômica desse governo começou na sua posse

(Foto: Reprodução)
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Reconhecidamente conservador e defensor das políticas econômicas que estão conduzindo a extrema direita ao poder mundo afora, o jornal inglês, Financial Times, publicou um editorial para afirmar que Bolsonaro não é somente incapaz de gerir a pandemia, mas igualmente incapaz de administrar a economia.

O jornal inglês, porta-voz dos interesses financeiros mundiais, não admite, entretanto, que a horrível gestão econômica desse governo começou na sua posse. Sua justificativa para admitir a incapacidade de Bolsonaro de conduzir a economia é centrada na medida eleitoreira de aliviar o sofrimento daqueles no piso da renda no país, o que comprometeria as já abaladas finanças públicas, no entender do jornal.

Nada diz sobre a ausência de investimento público e políticas de incentivo ao investimento e à produção privada, largamente realizados em países como os EUA, para tirar o país do atoleiro. Aproveita, entretanto, para criticar a gestão petista sem nada dizer sobre o crescimento, sobre diminuição da relação entre a dívida pública e o PIB, a acumulação de mais de 370 bilhões em reservas internacionais, a diminuição da desigualdade, do desemprego e da fome nesse período.

Tampouco rememora a crise política fabricada e a decisão das elites econômicas e políticas de impedir a presidenta eleita de governar. A inflação e o orçamento público são as preocupações únicas do jornal. Um país subserviente, atrasado e dividido atende melhor aos interesses dos grupos financeiros e, por consequência, de seus arautos.

Segue a íntegra do editorial.
* * *

As falhas de Jair Bolsonaro vão muito além da pandemia

Poucos presidentes em exercício enfrentam tantos problemas legais quanto o chefe, de extrema direita, do executivo brasileiro, Jair Bolsonaro. Uma comissão do Senado recomendou na semana passada que os promotores imputem a ele 9 delitos, dentre eles crimes contra a humanidade, por comando impróprio da pandemia.

Mais de 600.000 brasileiros morreram de Covid-19 e a magnitude facilitou a identificação do presidente como o responsável por esse número.

Sua tentativa de minimizar a pandemia como “uma pequena gripe”, suas mensagens enganosas sobre as vacinas, sua oposição veemente aos isolamentos e sua promoção obstinada de drogas de resultados duvidosos municiaram seus críticos com provas abundantes.

Bolsonaro desqualificou a investigação do congresso sobre a pandemia de Covid, rotulando-a de uma "piada", mas o dano à sua popularidade já aconteceu. Seis meses de depoimentos sobre o manejo incorreto da pandemia pelas autoridades, grande parte ainda em veiculação pela imprensa, derrubaram sua aprovação até a casa dos 20 pontos.

Esse é apenas o começo dos problemas que o presidente brasileiro enfrentará naquela que promete ser uma difícil luta pela reeleição em outubro do próximo ano. O forte aliado de Trump também consegue ser o alvo de mais de 100 pedidos de impeachment no congresso do Brasil. O Supremo Tribunal está investigando alegações de que ele e seus filhos políticos promoveram intencionalmente informações falsas. Ativistas ambientais demandam que o Tribunal Penal Internacional o investigue por crimes contra a humanidade por sua suposta participação na destruição da floresta amazônica.

Não importam os méritos dessas denúncias, poucas delas têm probabilidade considerável de prosperar. O responsável por decidir se Bolsonaro será responsabilizado pelo manejo impróprio da pandemia é o procurador-geral Augusto Aras, nomeado pelo próprio presidente. Um outro aliado, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, está convenientemente sentado sobre todos os pedidos de impeachment. Por sua vez, o Supremo Tribunal está relutante em eventualmente provocar um desastre constitucional ao colocar um presidente em exercício em julgamento.

Mas o risco mais potente para as esperanças de reeleição de Bolsonaro pode muito bem se transformar em financeiro, mais no campo da condenação de sua legitimidade do que no de uma condenação legal. Os mercados brasileiros despencaram na semana passada com o temor de que seus planos de distribuir subsídios mensais de 70 dólares para os eleitores mais pobres, pressionem as já conturbadas finanças públicas.

O ministro da Fazenda Paulo Guedes, tido anteriormente como guru da ortodoxia fiscal, foi persuadido a liberar 14 bilhões de dólares adicionais nos próximos 12 meses para ajudar a financiar a gastança pré-eleitoral. Quatro membros de sua equipe renunciaram devido à medida; Guedes pode vir a lamentar não tê-los ouvido com atenção redobrada. A indisciplina fiscal do governo federal e o espectro da inflação de dois dígitos já levaram o banco central independente a aumentar as taxas de juros em 5,75 pontos percentuais desde março, tornando-o o que mais agressivamente subiu a taxa de juros no mundo.

Consequentemente, a restauração financeira inicialmente rápida do Brasil da pandemia está fraquejando; alguns analistas estão prevendo que o crescimento sofrerá uma virada adversa nos próximos 12 meses. O mercado de bolsa está tendo seu pior desempenho desde 2014, o mercado real enfraqueceu e o prêmio de risco do país aumentou.

Bolsonaro ganhou a eleição em grande parte porque os brasileiros acreditaram que ele administraria o sistema econômico de forma melhor do que a esquerda, cujos 13 anos no poder resultaram em um desastre financeiro extremo. Alguns eleitores prontamente deixaram de lado a homofobia de Bolsonaro, sua obsessão por armas e generais e suas sombrias credenciais ambientais na esperança de que ele trouxesse prosperidade.

Bem ao contrário, ao entrar nos últimos 12 meses de seu mandato, Bolsonaro se mostrou incapaz de administrar tanto o sistema econômico como a pandemia e a maior nação da América Latina está pagando um valor excessivamente alto. Para o Brasil, as eleições de 2022 viram tarde.

*Publicado originalmente em Financial Times | Tradução por César Locatelli

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