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Paulo Henrique Arantes

Jornalista há quase quatro décadas, é autor de “Retratos da Destruição: Flashes dos Anos em que Jair Bolsonaro Tentou Acabar com o Brasil”

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Neoliberais fracassam, mas não desistem

"Sob Lula, o Brasil possui ferramentas para livrar-se da mentalidade selvagem dos Chicago Boys", diz Paulo Henrique Arantes

Lula e Paulo Guedes (Foto: Felipe Gonçalves/247 | Reuters)
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Paulo Nogueira Batista Jr. disse à TV 247 que o neoliberalismo econômico está intrinsecamente ligado a governos autoritários, pois seus cânones jamais seriam predominantes em regimes democráticos. Trata-se de verdade factual e, por factual, incontestável. Ilustram-na à perfeição algumas das ditaduras latino-americanas dos anos 60-70-80, dentre as quais o Chile de Pinochet é modelo perfeito, tendo constituído laboratório de Milton Friedman e sua Escola de Chicago. 

Os meios utilizados pelos discípulos de Friedman para tomarem conta da economia dos países são descritos com riqueza de detalhes no livro “A Doutrina do Choque – A Ascensão do Capitalismo de Desastre”, de 2007, obra consagrada de Naomi Klein que merece revisitação.

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O polo chileno das experiências neoliberais está presente em boa parte do livro de Klein. É o mercado, na sua pior acepção, a chancelar uma ditadura implacável em troca de sinal verde para suas experiências econômicas, algo que se tentou reproduzir no Brasil de Paulo Guedes e Jair Bolsonaro (sim, é verdade que a ditadura bolsonarista não se concretizou – morreu na tentativa).

Eis um trecho de “A Doutrina do Choque”:

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“Ainda que Pinochet pouco entendesse de inflação e taxas de lucro, os technos falavam uma língua que ele compreendia. A economia para eles era como as forças da natureza e precisava ser respeitada e obedecida porque agir contra a natureza seria contraproducente e ilusório. Pinochet concordava: as pessoas devem se submeter às estruturas porque a natureza mostraria que uma ordem elementar e uma hierarquia eram necessárias. Essa crença mútua de que estavam obedecendo a leis naturais superiores formou a base da aliança entre Pinochet e os Garotos de Chicago.”

Nas linhas a seguir, a autora, jornalista premiada, poderia estar descrevendo o Brasil idealizado por Paulo Guedes, e, antes dele e de Bolsonaro, por Michel Temer e Henrique Meirelles:

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“Durante o primeiro ano e meio, Pinochet seguiu fielmente as regras de Chicago: privatizou algumas, mas não todas as empresas estatais (inclusive bancos); autorizou novas formas de especulação financeira; abriu as fronteiras para a importação, derrubando as tarifas que protegeram por muito tempo as manufaturas chilenas; e cortou os gastos governamentais em 10% - com exceção dos militares, que receberam um aumento considerável.”

As tais “leis naturais da economia”, que os neoliberais tanto amam, garantiriam o equilíbrio econômico e recuo da inflação – a cabeça de Pinochet estava feita.  Mas eles erraram no Chile, como de resto em todos os lugares nos quais se meteram. Em 1974, cerca de um ano depois de os Chicago Boys apossarem-se da economia chilena, a inflação anual atingiu 375%, segundo Klein a taxa mais alta do mundo na época e duas vezes maior do que a do governo socialista de Salvador Allende, o heroico antecessor do ditador.

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O resultado imediato do neoliberalismo durante a ditadura Pinochet foi o aumento do desemprego e a inundação do comércio por produtos importados. Empreendimentos locais fecharam, incapazes de competir. O desemprego bateu recordes e a fome tornou-se alarmante. O laboratório da Escola de Chicago era um fracasso e os remédios ministrados a partir dali, ainda em conformidade com o receituário de Friedman, deram num tipo de tragédia bem conhecido por aqui:

“Deu-se continuidade à tarefa de destruir o Estado de bem-estar para alcançar a utopia de capitalismo puro. Em 1975, fizeram um corte de gastos públicos de 27% numa tacada só – e continuaram cortando até que, em 1980, estes já representavam metade do que haviam sido com Allende. Saúde e educação sofreram os maiores baques. Mesmo a revista The Economist, uma defensora declarada do livre mercado, chamou aquilo de ‘uma orgia de mutilação’”. 

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Sob Lula, o Brasil possui ferramentas para livrar-se da mentalidade selvagem dos Chicago Boys. Mas é preciso muita atenção: escandalizados com a bestialidade bolsonarista, muitos deles apoiaram o candidato do PT e exercerão toda forma de pressão sobre a equipe liderada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Todo cuidado é pouco.

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