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Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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Neoliberalismo não rima com democracia

"O neoliberalismo é incompatível com a democracia", escreve o sociólogo Emir Sader. "Quem defende esse modelo, não defende a democracia, precisa da sua ruptura, para que o seu modelo sobreviva", diz. "A manutenção do modelo neoliberal passou a depender do político mais antineoliberal, mais antidemocrático em termos políticos", acrescenta

(Foto: Esq.: Fabio Pozzebon - ABR)
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​​O liberalismo tem duas caras: o liberalismo político do sistema democrático e o liberalismo econômico do livre mercado. Por má fé, há sempre os que querem separar essas duas faces da mesma moeda.

​​A chegada do neoliberalismo na América Latina foi feita pelas mãos da sangrenta ditadura do Pinochet, demonstrando como esse modelo podia perfeitamente conviver com a mais radical falta de democracia. Depois ele foi assumido por governos com democracia política, como os do Menem na Argentina, o de FHC no Brasil, os dos PRI no México, entre outros. No próprio Chile a coalizão do Partido Socialista com a Democracia Cristã, já depois da ditadura pinochetista, manteve o modelo neoliberal.

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​​No Brasil o PSDB adotou o modelo neoliberal com FHC, copiando o caminho da social democracia francesa e da espanhola. O fracasso do governo tucano fez com que eles nunca mais pudessem eleger um presidente na democracia brasileira, foram derrotados pelo PT em quatro eleições democráticas sucessivamente.

​​O neoliberalismo revelava sua incompatibilidade com a democracia, pelas duras consequências sociais das suas políticas para a massa da população, que demonstrou reiteradamente preferir o modelo antineoliberal de crescimento econômico com políticas de distribuição de renda. Demonstrou como não consegue conquistar bases sociais de apoio para vencer em eleições democráticas.

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​​Não por acaso o modelo neoliberal foi reinstalado no Brasil por um governo saído do golpe que tirou do governo uma presidenta reeleita democraticamente pelo voto popular e derrubada sem justificativas legais – a tal ponto, que até hoje o STF não julgou o impeachment, porque sabe que não encontraria razoes constitucionais. O neoliberalismo voltou a ser colocado em prática, assim, por um governo não eleito pelo voto popular, ao contrário, instalado por um golpe.

​​O governo instalado pelas monstruosas manobras midiáticas, com a conivência do Judiciário e a ação aberta da mídia privada, manteve e radicalizou o modelo neoliberal. Que teria sido liquidado caso se desse a vitoria do Lula no primeiro turno, como as pesquisas indicavam, ou do Haddad, que passou a liderar as pesquisas com a carteira de trabalho numa mão e o livro na outra. Para evitar outra derrota do projeto neoliberal, em disputa democrática, se deformou brutalmente a vontade majoritária da população, se colocou em pratica a brutal operação midiática, com a conivência do Judiciário e a participação ativa do grande empresariado e da mídia, para colocar na presidência do País, através de uma farsa eleitoral, a um personagem monstruoso.

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​​A manutenção do modelo neoliberal passou a depender do político mais antineoliberal, mais antidemocrático em termos políticos. Mas a direita e seus representantes toparam tudo, contanto que o PT, com seu modelo de desenvolvimento econômico com distribuição de renda, voltasse a ser colocado em prática. Sabiam de quem se tratava, toleraram tudo o que foi dito e feito pelo personagem a quem eles entregaram a presidência do País.

​​A eleição antidemocrática desse personagem foi condição da manutenção do modelo neoliberal. Por esse serviço prestado ao grande empresariado e à mídia, estes toleram tudo o que ele representa.

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​​Daí personagens que pretendem defender o liberalismo, como o grotesco juiz Luis Roberto Barroso ou os Frias e seu jornal, se prestam ao papel canalha de afirmar que vivemos numa democracia, que esse governo é legítimo, que Lula foi condenado com respeito ao Estado de direito. Aceitam qualquer tipo de governo, de presidente, contanto que o modelo neoliberal seja mantido. Um modelo que destrói o patrimônio público, os direitos dos trabalhadores, as políticas sociais, a educação e a saúde pública, destrói a democracia, a imagem do Brasil no mundo, mas que ao preservar os interesses dos bancos privados, ao promover o Estado mínimo e a centralidade do mercado, merece o apoio dos liberais. 

O que interessa aos liberais não é a democracia, corroída pelo poder do dinheiro, promovido pelo neoliberalismo. Não são os interesses das pessoas, mas os do capital financeiro. Não importa se esse governo degrada como nunca a imagem do Brasil no mundo, não importa se ataca a democracia e a liberdade de expressão, não importa se milhões e milhões de brasileiros estão reduzidos à miséria, se as doenças grassam por todo o País, não importa se o País se tornou um inferno pra grande maioria das pessoas, contanto que o modelo neoliberal seja preservado.

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Ninguém pode separar uma cara do liberalismo da outra. Guedes e Bolsonaro são inseparáveis. Sem um, o outro não existiria. 

O neoliberalismo é incompatível com a democracia. Quem defende esse modelo, não defende a democracia, precisa da sua ruptura, para que o seu modelo sobreviva. Ou se é neoliberal ou se é democrata. 

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