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Oliveiros Marques

Sociólogo pela Universidade de Brasília, onde também cursou disciplinas do mestrado em Sociologia Política. Atuou por 18 anos como assessor junto ao Congresso Nacional. Publicitário e associado ao Clube Associativo dos Profissionais de Marketing Político (CAMP), realizou dezenas de campanhas no Brasil para prefeituras, governos estaduais, Senado e casas legislativas

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Netanyahu, o derrotado pela paz

O Hamas não foi eliminado, Gaza não foi anexada e o “êxodo forçado” dos palestinos não aconteceu. Netanyahu, por sua vez, sai menor

Trump e Netanyahu em Tel Aviv - 13/10/2025 (Foto: Reuters)

O grande derrotado pelo acordo de paz em Gaza não é o Hamas, nem tampouco o povo palestino, que paga há décadas o preço mais alto de uma guerra que nunca escolheu. O verdadeiro derrotado chama-se Benjamin Netanyahu - o primeiro-ministro israelense que construiu toda a sua carreira política sobre o discurso do ódio, da força, da invencibilidade militar e da promessa de “segurança total” para Israel.

Netanyahu sempre repetiu que só a destruição completa do Hamas poderia garantir a paz em Gaza. Apostou na guerra como projeto político e na retórica da vingança como cimento de coesão nacional. Mas a história, mais uma vez, desmentiu o extremista. O Hamas não foi eliminado, Gaza não foi anexada, o “êxodo forçado” dos palestinos não aconteceu - e o primeiro-ministro, que sempre se apresentou como o único capaz de derrotar o inimigo, terminou obrigado a aceitar um acordo de paz que acena, ainda que timidamente, com o direito à existência de um Estado palestino.

É o colapso simbólico de toda uma narrativa. Netanyahu prometeu vencer “pelas armas”, mas a guerra apenas o isolou no cenário internacional, desgastou sua imagem interna e expôs as fissuras do próprio Estado israelense. O genocídio em Gaza não produziu segurança - produziu mortes, horror, indignação e uma crise diplomática sem precedentes.

O acordo, ao contrário do que dizem seus aliados, não é uma rendição de Israel. É um reconhecimento de que a força tem limites. Que tanques e mísseis não resolvem o que exige política, empatia e coragem moral. Netanyahu, que sempre demonizou qualquer negociação com os palestinos, agora se vê obrigado a aceitar o inevitável: não haverá paz duradoura sem um horizonte de soberania para o povo da Palestina.

O custo humano da guerra foi devastador. E esse custo cobrou de Netanyahu o preço da sua própria credibilidade. Seu governo, cercado por acusações de corrupção e por uma coalizão instável de extremistas, apostou no medo e na retaliação. Perdeu o controle da narrativa interna e, pior, perdeu o monopólio da legitimidade moral que Israel um dia reivindicou diante do mundo.

Ao final, o extremista que dizia que jamais permitiria a criação de um Estado Palestino é hoje forçado a admitir que ele é o único caminho possível para que Israel volte a respirar.

A paz, portanto, não derrotou Israel - derrotou Netanyahu. Derrotou o populismo belicista, o cálculo cínico de quem acreditava poder transformar dor em capital político. A vitória da diplomacia, ainda que frágil e imperfeita, é a derrota da arrogância que fez do sangue palestino um instrumento de poder.

Netanyahu sai menor. Gaza continua em ruínas, mas o sonho palestino de existir - e o sonho israelense de viver sem medo - sobrevivem. E talvez essa seja, finalmente, a primeira vitória verdadeira dessa guerra.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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