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Michel Zaidan

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Nietzsche, a Escola de Frankfurt e o sofrimento

A reflexão filosófica frankfurtiana é uma impiedosa crítica contra a civilização ocidental

(Foto: Divulgação)
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No dia 19 deste mês, o Núcleo de Estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia promove, em parceria com o de Teoria Crítica da Universidade Rural de Pernambuco,  o simpósio sobre o sofrimento humano. Trata-se de uma bela iniciativa desses núcleos de pesquisas. Dele participarão  filósofos  e filósofas de várias formações: nietzschianos, hegelianos, frankfurtianos e outros. Serão várias mesas  de debates.

A mim, coube abordar o tema na perspectiva dos filósofos alemães  da Teoria Crítica, mas não posso me furtar a considerar que NIETZSCHE teve muita influência nesse debate, com  sua crítica da ciência, da filosofia e da religião.  O filósofo da suspeita foi o primeiro a apresentar o conhecimento humano como uma violência contra a natureza, em razão da solitude cósmica do ser humano e sua necessidade de compensar essa orfandade filosófica. Nietzsche não tem nenhuma ilusão sobre o conhecimento humano. Em sua visão retórica e nominalista, ele reduz a ciência a uma mentira ou convenção aceita pela maioria dos cientistas. Que tomam a convenção  pela realidade,até que alguém diz que "o rei está  nu".

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A suspeita metódica do filósofo  influenciou Heidegger, que por sua vez influenciou os frankfurtianos. Só lembrar que Marcuse foi orientando de Heidegger em sua tese sobre a historicidade. 

Comecemos com os pensadores  da Teoria Crítica. Lembremos a famosa frase de Benjamin de que se fosse dada a natureza a faculdade de falar ela só choraria e se lamentaria o tempo todo. Essa reflexão, ao seu tempo religiosa, significa que a cultura humana, através da linguagem erudita, só maltratou a natureza,  despojou-a de seus atributos primários  e secundários, reduzindo-a a uma informe matéria prima, onde o "homem faber" projeta incessantemente sua imagem, submetendo-a aos seus caprichos e necessidades.

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Aqui nos encontramos com a famosa dialética  do iluminismo, do adorno e Horkheimer . É da concepção  instrumental e manipulatória da natureza. Poderíamos até chamar de pragmática ou utilitária, ditada autoritariamente pela técnica  moderna. "Saber é poder". "Tempo é dinheiro".

Mais rica de consequências é a alegoria do "canto das sereias", onde a civilização aparece como resultado da  repressão  aos instintos vitais e a própria natureza externa, ludibriada pela astúcia de Ulisses. Embora o perdedor seja ele, mutilado em sua natureza original.

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Essa crítica cultural ao processo civilizatório voltaria com força na obra de Marcuse, Eros e Civilização, a interpretação marxista de Freud. Uma releitura radical da obra freudiana que aponta para um outro princípio de realidade e um trabalho polimorfo.

A crítica volta, com outros matizes, na obra de Habermas, o herdeiro da Teoria Crítica, em seus textos, trabalhos e interação com ciência e técnica como ideologia. Aí, ele avança primeiramente à tese da razão comunicativa, distinta da razão  teleológica  ou técnica.  Habermas distingue as duas formas de razão. E credita o futuro da humanidade à primeira.

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Não descarta a razão formal, mas apresenta uma outra  racionalidade não repressiva ou manipulatória, baseada no melhor argumento  e no diálogo.

A reflexão  tardia dos frankfurtianos clássicos, mescladas com um tom religioso, é  francamente  hostil às ciências  naturais e propor um reencantamento da natureza, a partir de uma mimesis especial ligada à obra de arte.

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No que diz respeito à  natureza humana, avulta o tema da "reificação ", que aí assume conotações  morais, psicológicas , societais, além das econômicas. O sofrimento do mundo e do ser humano é  visto  como um processo desumanizante e antinatural de reificação da natureza. Sua transformação em coisa, número, dinheiro ou máquina. É perda da memória coletiva, onde  estão depositados os rastros  da experiência comunitária. Isso produz a neurose da angústia, de uma dessublimação repressiva e uma insatisfação  permanente.

 A melhor obra  que traduz essa sensação  é a de Kafka. Sartre também tinha tematizado isso no romance A náusea. Sob a alienação,  o mundo perde  o sentido. É a vida humana , também. Torna-se uma” paixão inútil".

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A reflexão  filosófica frankfurtiana é uma impiedosa crítica contra a civilização ocidental, através  do uso do conceito de "alienação " baseado em Freud, Marx e no messianismo judaico, estará no cerne das revoltas de maio de 68 e da contracultura dos anos 60. Está consignado na divisa" Mudar a vida".

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