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Alex Solnik

Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos"

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Ninguém tem 54 votos. Agora

Colunista do 247 Alex Solnik narra os cenários estabelecidos pelo senador Paulo Paim (PT-RS) sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff; "Ninguém tem 54 votos nessa casa, eu sei porque estou aqui há 30 anos", disse Paim; Solnik, entretanto, contabiliza 41 votos a favor do impeachment, faltando 13; "Alguém duvida que, se Temer e sua turma (não quero chamar de gang) chegarem ao poder esses 13 votos vão cair fácil no colo deles? Não vão faltar cargos para acomodar esses 13 que faltam. Ou seja, não quero ser derrotista, nada disso, mas me parece claro, a essa altura, que a presidente já perdeu"; leia íntegra

Colunista do 247 Alex Solnik narra os cenários estabelecidos pelo senador Paulo Paim (PT-RS) sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff; "Ninguém tem 54 votos nessa casa, eu sei porque estou aqui há 30 anos", disse Paim; Solnik, entretanto, contabiliza 41 votos a favor do impeachment, faltando 13; "Alguém duvida que, se Temer e sua turma (não quero chamar de gang) chegarem ao poder esses 13 votos vão cair fácil no colo deles? Não vão faltar cargos para acomodar esses 13 que faltam. Ou seja, não quero ser derrotista, nada disso, mas me parece claro, a essa altura, que a presidente já perdeu"; leia íntegra (Foto: Alex Solnik)
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Sentado na cadeira de presidente do Senado, naquela hora em que os debates para valer já terminaram e o Renan vai dar uma volta lá fora, ou vai para casa, Paulo Paim fez umas projeções do que vai acontecer nos próximos dias e meses.

O ponto central de suas preocupações era o "day after". Ele falou em dois cenários, e em ambos ele já deixava de barato que a primeira fase do impeachment, que implica no afastamento da presidente por seis meses já eram favas contadas. "Ninguém tem 54 votos aqui dentro" disse ele, ou seja, ninguém tem os 2/3 para o afastamento definitivo. Com isso ele deixou implícito que os 41 para tirar a Dilma do Planalto já existem.

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Bem, mas ele fez o seguinte raciocínio. Suponhamos que depois de seis meses a presidente volte ao cargo. O Eduardo Cunha – que, aliás, fechou a Câmara por conta própria, pois a chave está com ele e não deixa nada funcionar, nem o plenário, nem comissões enquanto o Senado não carimbar o que a Câmara já decidiu, ou seja "fora Dilma" – já disse que se esse impeachment não passar ele entra com outro, e tem uns nove na fila.

"Como é que fica"? perguntou Paim. Vamos virar o país do impeachment?.

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No outro cenário, se a Dilma não voltar e Temer continuar, como é que ele vai conseguir governar com todos os protestos que estão sendo programados contra ele, que não tem legitimidade nem votos? De novo, o país ficará ingovernável.

Diante desse prognóstico ele ponderou que o melhor caminho seria chegar a um acordo entre os dois lados em beligerância, ou seja, alguma coisa como eleições presidenciais ainda neste ano, o que esbarra, mais uma vez, no entanto, na muralha chamada Eduardo Cunha, pois ele jamais vai colocar para votar na Câmara uma coisa como essa e se ele não colocar em votação não vai acontecer nada.

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Paim repetiu várias vezes: "ninguém tem 54 votos nessa casa, eu sei porque estou aqui há 30 anos". Data máxima vênia, com base no que eu vi no primeiro dia de "debates" no Senado, as aspas são imprescindíveis porque o que eles chamam de debate não passa de um diálogo entre surdos, ninguém tem 54 votos agora, mas a oposição tem 41. Faltam 13.

Alguém duvida que, se Temer e sua turma (não quero chamar de gang) chegarem ao poder esses 13 votos vão cair fácil no colo deles? Não vão faltar cargos para acomodar esses 13 que faltam. Ou seja, não quero ser derrotista, nada disso, mas me parece claro, a essa altura, que a presidente já perdeu.

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Algumas horas antes das ponderações do Paim, que são sensatas e tudo isso, mas o Cunha é que é tudo menos sensato, e Renan também não é, está ficando claro que ele já entrou na patota, está dançando conforme a música dos maestros Cunha e Temer, falaram duas senadoras muito sensatas e competentes.

Quando eu ouvia Gleisi Hoffmann e Vanessa Graziotin, empenhadas em explicar, com toda a paciência, a inconsistência das acusações, uma das quais nem assinatura da presidente tem, imaginava por alguns instantes que suas exposições eram tão competentes que não havia como não concordar com elas, seus argumentos certamente iriam sensibilizar os senadores.

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Mas qual. Por mais que elas repetissem que as acusações do impeachment são apenas duas, é isso que está no processo, é isso que o STF confirmou que tem que ser discutido, quando algum senador da oposição pedia um aparte dava impressão que ou ele estava surdo ou estava de brincadeira.

Um deles, do qual não me lembro o nome, o nome dele era uma proparoxítona e sua boca parecia dançar quando ele falava interrompeu para desmentir tudo: elas, o impeachment, o STF. E veio com aquela cantilena: mas teve o bolsa-empresário do BNDES de tantos bilhões, que causou tantos bilhões de prejuízo e por causa disso e de outros escândalos, como a Petrobrás hoje temos tantos milhões de desempregados etc etc.

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A Gleisi retomava a palavra e repetia tudo de novo. Mas, senador, não é isso que está em discussão, não estamos julgando o conjunto da obra, temos que nos ater ao processo, temos que discutir se ela cometeu os crimes de que a acusam, qual foi o dolo e por alguns minutos a sensatez imperava. Logo a seguir vinha outro senador qualquer, como o Álvaro Dias, por exemplo e tocava o mesmo disco daquele outro. Ou então o Cássio Cunha Lima, com aquela expressão seríssima de quem teve o pai que teve – um governador que deu tiro num ex-governador – e que teve os processos que teve (não sei quantas vezes foi impugnado quando também foi governador da Paraíba) e lá vinha ele pregando a seriedade na administração pública que somente voltaria se Dilma saísse do Planalto.

A julgar pelo que vi no primeiro dia, apesar de os senadores não serem tão ridículos nem histéricos quanto a maioria dos deputados – todo mundo já sabe, a Globo mostrou – o conteúdo dos seus discursos é o mesmo, eles jamais se atêm ao que está no processo e ninguém, no caso deveria ser o Renan adverte de que eles estão sofismando.

Tem outra: apesar de estarmos na fase dos "debates", sempre entre aspas, todos já declaram seus votos, com toda a educação que se espera deles, toda a reverência, toda a data vênia que Suas Excelências merecem.

Então pra que o debate se já está tudo combinado? Por mim, tenho o maior prazer em ouvir senadoras inteligentes e competentes como a Gleisi e a Vanessa, ou os mais exaltados, como o Lindenberg, ou os mais conciliadores, como o Paim, sei que eles não vão entregar a rapadura, vão "lutar" até o fim, mas é uma luta inglória, as cartas já estão marcadas. Os 41 votos necessários para mandar a presidente pra casa, com todo o respeito, já estão no papo. E, que ninguém nos ouça, se a presidente morando no Palácio do Planalto não consegue os votos de que precisa, como os conseguirá durante os seis meses em que estiver na casa dela, e todo o aparato governamental ocupado pelo PMDB?

Não quero desanimar também, mas também não quero enganar meus leitores com falsas esperanças. A esperança era o STF, acabou-se. A esperança era o Renan, acabou-se. Seu instinto de sobrevivência fala mais alto. Se eu sei que os 41 votos anti-Dilma estão no papo, ele sabe muito mais. Então para que ele vai teimar em defender a "legalidade" ou insistir nas declarações do tipo "não vou manchar minha biografia"?

Ele conhece o Brasil melhor do que todos nós. Ele sabe muito bem que tudo se ajeita. O que é ilegal hoje pode ser legalizado amanhã. Se Getúlio cometeu todas as atrocidades que cometeu – me desculpem por bater tanto na tecla do Getúlio – e até hoje tem seguidores entusiasmados com sua postura de "estadista" que o consideram o maior líder que o Brasil teve, e está aí a Fundação Getúlio Vargas que não me deixa mentir, todos esses crimes dessa turma que está a um passo de ocupar o Planalto, vão virar pó depois que eles tomarem conta do pedaço. Eles vão reescrever a história. Já estão reescrevendo. Quem viu o "Roda Viva" de ontem vai concordar comigo.

A certa altura, um dos jornalistas perguntou ao Romero Jucá, que é o presidente interino do PMDB, já que Temer, esse Ícaro contemporâneo está se preparando para voos maiores, o que ele achava do Eduardo Cunha comandar um impeachment com o seu currículo tão conspurcado. Sabem o que ele respondeu? "Não podemos prejulgar ninguém".

Ora, até os bancos suíços cassaram as contas milionárias dele porque ele não conseguiu explicar a origem delas e "não podemos prejulgar ninguém"? A presidente da República, que não tem nenhuma conta na Suíça, ele prejulga a toda hora e em relação a Cunha, nada?

Ora, senhores, não tenho mais idade para ouvir histórias da carochinha.

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