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Pepe Escobar

Pepe Escobar é jornalista e correspondente de várias publicações internacionais

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Nixon-Trump versus Estratégia da Tensão

Nixon 68 está de volta, desta vez com vigor renovado, com o Presidente Trump se colocando como fiador/executor da Lei e da Ordem. É possível que estejamos no limiar de uma quarta guerra, de consequências imprevisíveis e inesperadas

Richard Nixon e Donald Trump (Foto: Reprodução | Reuters)
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Por Pepe Escobar, para o Strategic Culture

Tradução de Patricia Zimbres, para o 247

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Nixon 68 está de volta, desta vez com vigor renovado, com o Presidente Trump se colocando como fiador/executor da Lei e da Ordem. 

Esse foi o slogan que assegurou a eleição de Nixon, e seu autor Kevin Phillips era, na época, especialista em "padrões étnicos de voto".

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Philips é um caso bem interessante. Em 1999, ele publicou um livro seminal: The Cousins’ Wars: Religion, Politics, and the Triumph of Anglo-America (A Guerra dos Primos: Religião, Política e o Triunfo da Anglo-América), onde ele mostra o "pequeno reino Tudor" acabando por estabelecer hegemonia sobre todo o globo.

A divisão da comunidade anglófona em duas grandes potências - uma aristocrática, 'escolhida', e imperial; e outra democrática, 'escolhida', e movida a destino manifesto", como Phillips corretamente coloca, foi alcançada por meio de - o que mais poderia ser? - um tríptico de guerras: A Guerra Civil inglesa, a Revolução Americana e a Guerra Civil dos Estados Unidos.

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Agora, é possível que estejamos no limiar de uma quarta guerra, de consequências imprevisíveis e inesperadas.

No momento, o que temos é um choque mortal de dois modelos: O MAGA (Faça a América Grande de Novo, de Donald Trump) e um sistema exclusivista controlado pelo Fed (a Reserva Federal), a Wall Street e o Vale do Silício.

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O MAGA – que é o sonho americano requentado - é simplesmente impossível em uma sociedade violentamente polarizada: vastos setores da classe média sendo completamente eliminados e a imigração em massa vinda do Sul Global. 

Por outro lado, no modelo Fed como fundo especulativo da Wall Street acoplado ao Vale do Silício, um esquema supremamente elitista urdido pelos 0,001%, tem um vasto espaço para prosperar.  

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O modelo baseia-se em um monopólio empresarial ainda mais rígido, na preeminência dos mercados de capital, onde o florescimento da Wall Street é assegurado pela recompra pelo governo dos títulos de sua própria dívida, e pela própria vida sendo regulada por algoritmos e pelo Big Data.

Esse é o Bravo Mundo Novo sonhado pelos Senhores tecno-financeiros do Universo.

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Os revezes do MAGA de Trump foram agravados por uma jogada geopolítica vagabunda paralela  ao Lei e Ordem: sua campanha pela reeleição se dará sob o signo de "China, China, China". Quando as coisas ficam pretas, culpe sempre um inimigo estrangeiro.

Essa jogada é obra do oportunista colecionador de fracassos Steve Bannon e de seu ajudante chinês, o bilionário Guo Wengui, ou Miles Guo. Aqui estão os dois em modo Estátua da Liberdade, anunciando sua campanha de guerra de informação vale-tudo para demonizar o Partido Comunista Chinês (PCC), do tipo gamer de Kingdom Come e "libertem o povo chinês".  
O argumento favorito de Bannon é que se sua guerra de informação fracassar, haverá uma "guerra cinética". Isso é bobagem. As prioridades de Pequim não são essas. Só mesmo um punhado de Dr. Strangeloves, os neo-conservadores iludidos, poderiam imaginar uma "guerra cinética" - como no caso de um ataque nuclear preventivo contra o território chinês.

Alastair Crooke demonstrou de forma magistral que o jogo geoeconômico, na visão de Trump, trata acima de tudo de preservar o poder do dólar americano: "Sua especial preocupação seria uma Europa umbilicalmente ligada ao peso-pesado financeiro e tecnológico que é a China. Isso, por si só, já pressagiaria de fato uma outra forma de governança financeira mundial".

Mas, então, há a síndrome de O Leopardo : "É preciso que algumas coisas mudem para que tudo continue na mesma". Entra em cena o Covid-19 como um acelerador de partículas, empregado pelos Senhores do Universo para ajustar ligeiramente "as coisas", não apenas para que elas continuem como são, mas também para endurecer o controle dos Senhores do Universo sobre o mundo.

O problema é que o Covid-19 se comporta como um conjunto de elétrons livres incontroláveis. Isso significa que ninguém, nem ao menos os Senhores do Universo, é capaz de realmente mensurar a totalidade das consequências de uma crise financeiro-social fora de qualquer controle.  

Desconstruindo Nixon-Trump

O Russiagate, agora totalmente desmoralizado, desenrolou-se, de fato, como um golpe em andamento: uma não-revolução colorida que se metastizou no Ucraniagate e no fiasco do impeachment. Nessa peça de moralidade com tons de Watergate, mal urdida e sem nenhuma prova, os democratas deram a Trump o papel de Nixon.

Grande erro. Watergate não teve nada a ver com essa dupla de repórteres ousados tão celebrada por Hollywood. Watergate representou o complexo industrial-militar-midiático-de segurança partindo para cima de Nixon. O Deep Throat e outras fontes vieram de dentro do Deep State. E não foi por acidente que eles vinham manobrando o Washington Post – que, entre outros papéis, serve como o perfeito porta-voz da CIA.

Com Trump, a conversa é totalmente outra. O Deep State o mantém sob controle. Basta ver o histórico: mais verbas para o Pentágono, um trilhão em armas nucleares novas em folha, sanções perenes contra a Rússia, ameaças contínuas às fronteiras ocidentais russas, tentativas (fracassadas)  de sabotar a Nord Stream 2. E essa lista é apenas parcial.

Portanto, do ponto de vista do Deep State, a frente geopolítica - a contenção da Rússia e da China - está assegurada. Internamente, é muito mais complicado.

Por mais que o Black Lives Matter não ameace o sistema de forma remotamente semelhante aos Black Panthers da década de 60, Trump acredita que sua Lei e Ordem, como a de Nixon, mais uma vez irá triunfar. O ponto crucial será atrair o voto das mulheres brancas de classe média.  Os donos das pesquisas de opinião republicanas estão extremamente otimistas, chegando a falar de uma "vitória esmagadora". 

Mas o comportamento de um vetor superimportante tem que ser compreendido: o que a América empresarial quer.

Quando examinamos quem vem apoiando o Black Lives Matter – e os Antifa – encontramos, entre outros, Adidas, Amazon, Airbnb, American Express, Bank of America, BMW, Burger King, Citigroup, Coca Cola, DHL, Disney, eBay, General Motors, Goldman Sachs, Google, IBM, Mastercard, McDonald’s, Microsoft, Netflix, Nike, Pfizer, Procter & Gamble, Sony, Starbucks, Twitter, Verizon, WalMart, Warner Brothers e YouTube.

Essa lista tipo "quem é quem" sugere que Trump está completamente isolado. Mas, então, temos que levar em conta o que realmente importa: a dinâmica da guerra de classes naquilo que é de fato um sistema de castas, como afirma Laurence Brahm.

O Black Lives Matter, a organização e suas ramificações, vem sendo essencialmente, instrumentalizada por interesses empresariais específicos, com o objetivo de acelerar suas próprias prioridades: esmagar as classes trabalhadoras, reduzindo-as a um estado de perpétua anomia, enquanto a nova economia automatizada ascende.

Isso pode perfeitamente acontecer com Trump. Mas será muito mais rápido sem Trump.

O que é fascinante é que o atual cenário de estratégia de tensão vem sendo desenvolvido como uma clássica revolução colorida nos moldes CIA/NED.

Uma queixa genuína e incontestável - quanto à brutalidade policial e o racismo sistêmico – foi totalmente manipulada, presenteada com verbas abundantes, infiltrada e até mesmo usada como arma contra "o regime".

Apenas controlar Trump não basta para o Deep State , devido à instabilidade máxima e à irresponsabilidade de sua persona de Narciso Demente. Assim, em uma nova e impagável ironia histórica, o "Assad tem que cair" se metastizou em "Trump tem que cair". 

O cadáver no porão 

Não devemos jamais perder de vista os objetivos fundamentais daqueles que controlam aquela assembleia de otários comprados e devidamente remunerados que ocupa o Capitol Hill: sempre privilegiar o Dividir para Governar – em questões de classe, raça, políticas identitárias.

Afinal, a maioria da população é vista como dispensável. Ajuda muito o fato de que os instrumentalizados vêm desempenhando seu papel à perfeição, sendo totalmente legitimados pela mídia convencional. Ninguém jamais verá  o Black Lives Matter, com seus generosíssimos financiamentos , chegar ao cerne da questão: a reinicialização do projeto predatório do Neoliberalismo Restaurado, mal e porcamente purgado de seu verniz de Neofascismo Híbrido. O projeto é a Grande Reinicialização , a ser lançada no Fórum Econômico Mundial, em janeiro de 2021. 

Vai ser fascinante assistir Trump lidando com essa refilmagem do "Summer of Love" de Maidan transposto para a comuna de Seattle. A dica vinda dos círculos do Time Trump é que ele não fará nada: uma coalizão de supremacistas brancos e de gangues de motocicleta trataria do "problema" no 4 de julho. 

Nada disso suaviza o fato de que Trump está no olho do furacão de fogo cruzado: sua resposta desastrosa ao Covid-19; os efeitos devastadores da Nova Grande Depressão que já se anuncia; e sua sugestão de algo que poderia vir a se converter em lei marcial.

Mesmo assim, a lendária máxima hollywoodiana - "ninguém sabe de nada"- ainda vigora. Mesmo concorrendo com um semi-cadáver no porão é possível que os democratas vençam em novembro  sem fazer absolutamente nada. No entanto, o Trump Teflon não deve ser subestimado. O Deep State talvez se dê conta de que ele é mais útil do que parece. 

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