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Carlos Alberto Mattos

Crítico, curador e pesquisador de cinema. Publica também no blog carmattos

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No exílio, ao encontro de si mesma

''Me Busco Longe' é um terno depoimento sobre o desejo de mudança, aceitação e pertencimento. Um filme de formação e de conquista de independência"

Me busco longe (Foto: Reprodução)
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O cineasta argentino Diego Lublinsky tem sua vida entrelaçada com o Brasil. É casado com a brasileira Xenia Ricas Anjo, e sua família se envolveu na luta contra a eleição do ex-presidente fascista em 2018, como você pode ver por estas mensagens de Xenia e de sua irmã mais nova, Graziele Moreira. Pouco depois disso, Diego aprofundou essa relação quando o casal resolveu acolher Graziele em Buenos Aires. Aos 18 anos, mas parecendo bem menos, Grazi temia viver sua homossexualidade em tempos de ultraconservadorismo na pequena ilha de Itacuruçá (RJ), onde fora criada pela avó e pelo avô pastor evangélico, sem mãe e com um pai ausente. 

Me Busco Longe (Me Busco Lejos) começa com Diego chegando ao Brasil para buscar Graziele e, desde aí, acompanha a difícil assimilação da garota à vida no auto-exílio. Ela deixa para trás uma namorada, que conhecemos em bonitas conversas íntimas filmadas com naturalidade e delicadeza. Tem pela frente uma nova vida com poucos planos e sem muita disposição para cumpri-los. Seu temperamento interiorizado não ajuda muito na convivência com a própria irmã.

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Numa operação interessante em matéria de documentário familiar, Lublinsky toma a história da cunhada como um espelho para falar um tanto da sua própria história. Ele também teve períodos de ensimesmamento na infância, deixou a família para viver um longo período na Espanha e vivenciou a separação dos pais. Havia pouco perdera o irmão, Guido Lublinsky, responsável pela fotografia de alguns de seus filmes anteriores. Enquanto fazia Me Busco Longe, sofria com dores na coluna que, de certa forma, criavam um paralelo com o mal-estar da cunhada. Demonstrando um bom senso de medida, ele não deixa que suas questões se sobreponham à da real protagonista.

Graziele escapa a todos os clichês da condição gay. Não é propriamente deprimida, apesar da lacuna dolorosa que lhe deixou a orfandade materna muito precoce. Seus dilemas, pequenas vitórias e grandes decepções são similares aos de qualquer jovem em busca de seu lugar no mundo. O diretor-cunhado os recolhe afetuosamente, mas sem dissimular os problemas acarretados por esse trânsito entre as realidades brasileira e argentina. 

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No fim das contas, Me Busco Longe chega até nós como um terno depoimento sobre o desejo de mudança, aceitação e pertencimento. Um filme de formação e de conquista de independência que se dá no simples registro das esquinas que a vida dobra.

>> Me Busco Longe está na plataforma gratuita Sesc Digital até 9 de março.

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O trailer:

https://vimeo.com/788762065

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