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Camilo Vannuchi

Jornalista, escritor, mestre e doutorando em Ciências da Comunicação pela USP, membro da Comissão Municipal da Verdade da Prefeitura de São Paulo

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Nó na garganta

Sinto um nó na garganta, mas sinto também os comichões de quem cresceu num ambiente de luta e resistência. De quem aprendeu cedo a ser oposição. De quem só agora se dá conta de que ser oposição é como andar de bicicleta: não se esquece

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Eu nasci 15 dias depois da Lei da Anistia.
Tinha 4 anos, a idade atual do meu filho, quando fui a um comício por eleições diretas.
Aos 9 anos, exultei com a eleição de uma prefeita mulher e nordestina.
No ano seguinte, me somei a um brasil criança na alegria de se abraçar.
Perdi. Perdemos.
Ficou a ousadia. Sem medo de ser feliz.
Em 1994, no primeiro ano do Ensino Médio num colégio de elite de São Paulo, fiz aniversário três semanas antes da eleição.
"Feliz aniversário, Camilo. Lula lá, só em 2002", me escreveu um amigo.
Ele tinha razão. Sua bola de cristal estava certa.
Em 2002, já jornalista, repórter numa revista semanal, custei a me acostumar que a palavra "oposição" já não se referia à minha turma na aurora de 2003. Sensação estranha. Como pode a oposição ser a direita, os conservadores, os oligarcas, os senhores de engenho?
E logo aqui, no Brasil?
Nos 12 anos que se seguiram, me acomodei.
Tínhamos um presidente metalúrgico.
Tínhamos o Fome Zero, o Bolsa Família.
Tínhamos uma presidenta mulher, guerrilheira.
Tínhamos até uma boa piada interna:
"Agora que chegamos ao governo, quando vamos chegar ao poder?"
No final de 2014, voltei a vislumbrar a hipótese de ser oposição novamente.
A hipótese virou probabilidade, virou tendência.
Consumado o golpe, sinto um nó na garganta, um vazio no peito, uma ânsia esquisita por me perceber novamente derrotado, como em 1989.
Subestimei o golpismo. Até dois anos atrás, achava meio ridícula a mania do Paulo Henrique Amorim de chamar os jornalões de Partido da Imprensa Golpista, o PIG. Subestimei, igualmente, a fragilidade da nossa democracia. Uma fortaleza de cartas.
Sinto um nó na garganta, mas sinto também os comichões de quem cresceu num ambiente de luta e resistência. De quem aprendeu cedo a ser oposição. De quem só agora se dá conta de que ser oposição é como andar de bicicleta: não se esquece.
Não foi a Bahia que me deu régua e compasso.
Quem me deu régua e compasso foi o idealismo, foi a democracia.
Voltaremos. E voltaremos melhores. Melhorados.

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