Nobel de Economia 2025 adverte: a revolução da IA já está sem controle
Ao receber o Nobel de Economia, Peter Howitt alertou que a IA avança sem rumo ético e pode desmontar, em poucos anos, o próprio alicerce do trabalho humano
Em 13 de outubro de 2025, a Real Academia de Ciências da Suécia anunciou que três economistas dividirão o Prêmio Nobel de Economia por aprofundarem nossa compreensão sobre a inovação e o crescimento sustentável. Os laureados são Joel Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt — este último, canadense e professor emérito da Universidade Brown.
Em seu discurso, Howitt fez um alerta que atravessou fronteiras: a inteligência artificial (IA) é uma promessa gigantesca, mas também uma ameaça real à estabilidade do emprego e à própria noção de trabalho humano.
Suas palavras ressoam como aviso de quem enxerga o futuro com lucidez. Vamos ao que ele disse:
“É, obviamente, uma tecnologia fantástica, com possibilidades gigantescas. Mas também tem um potencial incrível para destruir empregos, inclusive os altamente qualificados. Necessitará ser regulada”.
A fala, bastante oportuna, veio acompanhada de uma constatação que já ecoa nas universidades e nos mercados: vivemos um novo ciclo da chamada “destruição criativa”, conceito que ele e Philippe Aghion ajudaram a formular há mais de três décadas.
A ideia de destruição criativa não é apenas uma teoria elegante — é a descrição da própria mecânica, da engrenagem da modernidade.
É fato incontestável que cada revolução tecnológica, do vapor à eletricidade, da imprensa à internet, produz um mesmo paradoxo: ao mesmo tempo em que cria novas oportunidades, elimina antigas funções.
O que muda agora? A escala.
Com a inteligência artificial, o ritmo da substituição torna-se quase instantâneo. O tempo entre o surgimento da inovação e a obsolescência de quem não se adapta encurta-se dramaticamente.
Os dados ajudam a dimensionar essa transformação. Pesquisas recentes indicam que as profissões mais vulneráveis são aquelas baseadas em tarefas repetitivas, análise de dados, atendimento e rotinas administrativas.
Tenho acompanhado várias pesquisas sobre esse assunto em particular e observa que estimativas apontam que até metade dos empregos de nível inicial em escritórios poderá desaparecer nos próximos cinco anos. Alguns especialistas, mais pessimistas, projetam até 99% de desemprego até 2030, caso não haja políticas de contenção e redistribuição dos ganhos da automação.
Howitt comparou o momento atual ao surgimento da eletricidade e da internet. De fato, há algo de épico nessa transição — uma espécie de “ponto de não retorno” para a humanidade. A IA promete multiplicar produtividade, reinventar a ciência, expandir o alcance da medicina e até ajudar a conter as mudanças climáticas.
Mas — atenção! — a mesma força que emancipa pode também subjugar. A tecnologia que liberta o homem das tarefas repetitivas pode aprisioná-lo na irrelevância econômica, se não houver regulação e ética.
O desafio, portanto, não é apenas técnico ou econômico — é civilizacional.
Regular a IA sem sufocar a inovação exige equilíbrio fino, quase artesanal. Há propostas de “mercados regulatórios”, nos quais o Estado define padrões de segurança e as empresas competem por conformidade. Outras sugerem uma abordagem graduada, com regulação rígida para usos de alto risco, como saúde, finanças e defesa, e regimes voluntários para setores menos sensíveis.
Todas, no entanto, convergem para a urgência de uma coordenação global: a IA não respeita fronteiras e tampouco legislações nacionais.
Por trás dos números e relatórios, há a dimensão humana — a mais esquecida. O trabalho é mais do que renda: é identidade, é vínculo social, é sentido de pertencimento. Se a inteligência artificial for usada apenas para maximizar lucros e reduzir custos, a humanidade perderá mais do que empregos — perderá parte de sua alma coletiva.
Volto a insistir neste ponto: O desafio do século XXI será garantir que o avanço tecnológico sirva à dignidade humana, e não o contrário.
A advertência de Peter Howitt não é uma nota de pessimismo, mas um chamado à responsabilidade. A IA pode ser a nova energia que moverá o mundo — mas também pode incendiar o tecido social se for deixada sem rumo. A destruição criativa, agora conduzida por algoritmos, só será verdadeiramente criativa se for acompanhada por compaixão, inteligência política e ética pública.
Regular a IA é impedir que o futuro seja escrito apenas por quem não terá de viver nele.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




