TV 247 logo
      Leonardo Attuch avatar

      Leonardo Attuch

      Leonardo Attuch é jornalista e editor-responsável pelo 247.

      484 artigos

      HOME > blog

      Nos estertores da Lei Rouanet

      Para os empresários, criou-se o melhor dos mundos. Sem pagar nada, posam de mecenas e conseguem associar suas marcas, valorizando-as significativamente, a nomes de artistas já consagrados

      Conhecido por frases fortes, o ministro da Cultura, Juca Ferreira, se prepara para liderar uma boa briga: o fim da Lei Rouanet, que ele classifica como "o ovo da serpente do neoliberalismo no Brasil". Criada no governo Collor pelo então ministro Sergio Paulo Rouanet, a lei visava incentivar a produção cultural, permitindo que empresas abatessem integralmente do Imposto de Renda seus gastos com patrocínios a espetáculos de música, dança, teatro e assim por diante.

      Nos últimos anos, a renúncia fiscal tem-se situado ao redor de R$ 1,5 bilhão. No entanto, pela primeira vez, o Ministério da Cultura decidiu levantar quanto custa a máquina pública que gravita em torno da Lei Rouanet. São outros R$ 300 milhões por ano, gastos não apenas na análise dos pedidos, mas também no acompanhamento dos projetos, depois que os recursos são captados.

      Este não seria um problema grave se a política de financiamento cultural atendesse apenas a interesses públicos. No entanto, com o passar dos anos, a Lei Rouanet foi sequestrada por forças privadas. Mais precisamente, segundo Juca Ferreira, pelos departamentos de marketing das grandes empresas. Na prática, para os empresários, criou-se o melhor dos mundos. Sem pagar nada, posam de mecenas e conseguem associar suas marcas, valorizando-as significativamente, a nomes de artistas já consagrados – e, na maioria dos casos, cobrando ingressos caríssimos do público.

      O problema central não reside na análise dos projetos. Em geral, o Ministério da Cultura pesa fatores como a diversidade cultural, regional e étnica do País. No entanto, na hora de definir o que merece ou não patrocínio, a decisão é das empresas. Resultado: altíssima concentração no Sudeste, e pouquíssimo incentivo à produção cultural de novos artistas.

      Para mudar esse quadro, o Minc irá propor a criação de um fundo, que aprovará não apenas os projetos, mas também os patrocínios. Com isso, o Brasil poderá substituir o "mecenato" privado com dinheiro estatal por uma política efetivamente pública de financiamento cultural. Espera-se que o Congresso escute o que Juca tem a dizer.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

      ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.

      ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

      Rumo ao tri: Brasil 247 concorre ao Prêmio iBest 2025 e jornalistas da equipe também disputam categorias

      Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

      Cortes 247