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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Nota 'Ordem da Noite' desafia acordo sobre 1964

Denise Assis denuncia nota que circula nos meios militares que exalta o golpe militar: "cheiro de naftalina, bolor e ranço"

Militares (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
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'Desde a tarde de ontem (20/03), circula nas redes sociais e nos grupos de WhatsApp do meio militar uma nota com cheiro de naftalina, bolor e ranço. Ela chegou a ser atribuída a um “coronel reformado”, mas como a turma do “covardão” tem esse sentimento como método, o da covardia, a nota não está assinada. Apenas conclama aos seus pares a embarcar numa máquina do tempo, de volta a um passado “formatado” em cima de um discurso que rios de tinta e celulose já derrubou: o país vivia em 1964 a ameaça de um “comunismo” armado e organizado, que queria implantar um sistema exótico de governo.

Em 1964 não hesitamos em cumprir o mais elementar dos deveres: correr em defesa de nossa Pátria ameaçada pelo inimigo. Estejam certos de que a decisão tomada pelos chefes de hoje em nada mancha a honra de nossa geração. Pelo contrário, exalta nossa fidelidade a nossos princípios e nosso amor a esse povo do qual fazíamos parte, que naquela época também nos amava e que hoje nos abomina, com razão.” Como é que é???

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Debalde – para ficar num termo correspondente à linguagem da nota -, foram os esforços durante esses 60 anos que nos separam daquele 1 de abril de 1964, para apontar o óbvio: se a ameaça comunista existia, e se os “comunistas” estavam tão organizados, por que não se utilizaram de seus “exércitos vermelhos” para reagir aos tanques e garruchas do senhor Olympio Mourão, o general do golpe? 

Porque, de fato, essa não era a ideia em curso no seio do governo João Goulart, um estancieiro rico, nacionalista, que só queria um país mais igual e menos injusto. Tanto é assim, que juntou meia dúzia de pertences e deixou vaga a cadeira da Presidência, para que – eles sim, os estadunidenses que estavam com um transatlântico prontinho na costa brasileira -, não derramassem litros de sangue dos nossos, a fim de manter o país longe de um modelo de socialismo recém-implantado em Cuba (1959), verdadeira paranoia para o Pentágono.

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A ex-presidente Dilma Rousseff proibiu a leitura da “Ordem do Dia” em 31 de março, (ou seria primeiro de abril???) durante o seu governo. Como sabemos, não conseguiu terminar o mandato. Não por isso, mas a decisão foi um dos argumentos usados para elencar a irritação – sim, eles ficam irritados por qualquer dê cá a minha pena -, como o “bicho-papão” dos militares, quanto a atitudes tomadas pela presidente. 

Obviamente, embora quilos de análises sobre o impeachment apontem a descoberta do pré-sal, a ambição estadunidense sobre a descoberta e a sua exploração, as ações desmedidas da Lava Jato, a criação da Comissão Nacional da Verdade e outros motivos, essa e outras razões ecoam e são usadas como desculpa para o governo atual pisar em ovos com relação aos uniformizados. 

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Com seu terno mais bonito, José Múcio visitou, para mais um cafezinho, os comandos, a fim de (“solicitar, penhoradamente”), imagina-se que foram os termos usados por ele, que não houvesse “ordem do dia”, lida nos quartéis país afora. Baixar uma proibição, como fez Dilma, é para poucos. Vai daí, que esse “anônimo” redigiu uma “Ordem da Noite”, para na encolha disseminar mentiras chorosas sobre as tropas.

Só a Marinha de Tamandaré o honrou. O Povo, que confiou naquelas palavras e por mais de 60 dias implorou pela ajuda e a proteção do EB nas portas dos quartéis, foi entregue à Gestapo tupiniquim e conduzida brutalmente a campos de concentração”. Como diria o personagem do desenho animado: Ó dia, ó azar... Dessa forma, lamurienta, querem fazer prevalecer nas fileiras o discurso golpista. Por agora, enquanto reina o pacto do “vamos virar a página”, a mensagem do coronel anônimo e “covardinho”, não encontra eco. Mas, a prevalecer a compreensão da “tutela”, a pergunta que fica é: até quando? (Leia a íntegra da “Ordem da Noite”. Nome apropriado, pois joga com o breu do obscurantismo). 

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NÃO DEIXE DE LER! Ordem da Noite

A Pátria não é ninguém; são todos; e cada qual tem no seio dela o mesmo direito à ideia, à palavra, à associação. A Pátria não é um sistema, nem uma seita, nem um monopólio, nem uma forma de governo; é o céu, o solo, o povo, a tradição, a consciência, o lar, o berço dos filhos e o túmulo dos antepassados, a comunhão da lei, da língua e da liberdade. // Ruy Barbosa, 1903

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A Contrarrevolução de 1964 foi tão importante para a história de nosso País que é fora de questão deixar seu aniversário passar em branco. Como membro da geração que participou dela, na inexistência de uma Ordem do Dia, envio algumas palavras àqueles meus irmãos de armas do Exército de Caxias e as chamo “Ordem da Noite”.

Esse nome não somente evita excitar os pruridos do senhor cmt do EB como se aplica perfeitamente aos tempos trevosos que a Força vem vivendo hoje em sua transição rumo ao bolivarianismo.

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É dispensável repetir para nós aqui a descrição dos acontecimentos que precederam e sucederam o 31 de março de 1964. Nós os vivemos. Além disso, outros mais competentes que eu já o fizeram e ainda o fazem muito bem, o que é importante para evitar que o inimigo reescreva a história a seu bel-prazer.

A Contrarrevolução de 1964 foi uma obra do povo brasileiro, o civil e o fardado. Com o aumento do caos político instaurado no País por mais uma tentativa de tomada do poder arquitetada pelos comunistas, as Marchas da Família com Deus pela Liberdade clamaram pela intervenção das Forças Armadas para assegurar que nossa Pátria não fosse envenenada por aquela ideologia demoníaca.

Se há uma constante nos regimes comunistas, essa é a imutabilidade. Seus defensores mantêm sempre a mesma promessa: um povo feliz e trabalhador, que abra mão de “alguns” direitos em troca de viver em um país onde todos seriam iguais (embora os dirigentes sejam mais iguais que os outros), dirigido e sustentado por um governo sábio, honesto, bondoso e capaz de gerir com eficiência todas as necessidades materiais de seus habitantes sem necessidade de iniciativas privadas. A harmonia reinante justificaria a existência de apenas um partido político e a obediência a ele seria a única religião permitida.

E oferecem sempre o mesmo resultado: o totalitarismo, a servidão, a desumanidade, a corrupção, a degradação moral, o fausto dos dirigentes e a miséria, a fome a fuga ou a morte para aqueles que não estejam entre eles.

Não há um lugar na face da Terra onde regimes dessa natureza tenham prosperado.

Em 1964 senti, como vocês, o orgulho e o prazer de cumprir nossa missão e com humildade, como convém a um tenente, colaborar para derrotar mais um esforço para colocar o comunismo no poder em nosso País. E o Exército a que pertencíamos, comandado pelos Chefes de então, sepultou as tentativas do inimigo, venceu a guerrilha urbana, venceu a guerrilha na selva e tornou o Brasil um dos poucos países latino-americanos onde não puderam prosperar bandos criminosos como os Montoneros, os Tupamaros, o MIR, as FARC, o ELN, o Sendero Luminoso etc.

O amor pela Pátria, a coragem, a lealdade, o profissionalismo, virtudes que tanto prezamos, hoje são conceitos mortos. Ao mesmo tempo que decide não publicar uma Ordem do Dia em memória do movimento histórico de 1964, o cmt do EB envia uma nota às suas organizações que em seu item 32 fala em “fortalecer o culto às tradições, aos valores militares e à ética.”

A que tradições, a que valores, a que ética o cmt do EB se refere? Não são as mesmas do nosso tempo.

Da mesma forma, os chefes das Forças Armadas assinaram uma nota ao Povo Brasileiro em 11 de novembro de 2022 na qual diziam “… a Marinha do Brasil, o Exército Brasileiro e a Força Aérea Brasileira reafirmam seu compromisso irrestrito e inabalável com o Povo Brasileiro, com a democracia e com a harmonia política e social do Brasil, ratificado pelos valores e pelas tradições das Forças Armadas, sempre presentes e moderadoras nos mais importantes momentos de nossa história”.

Até entre os contraventores do jogo do bicho “vale o que está escrito”. O que significa “compromisso irrestrito e inabalável”? É possível confiar em quem depois de escrever isso preferiu evitar o “incômodo” de um eventual confronto?

Só a Marinha de Tamandaré o honrou. O Povo, que confiou naquelas palavras e por mais de 60 dias implorou pela ajuda e a proteção do EB nas portas dos quartéis, foi entregue à Gestapo tupiniquim e conduzida brutalmente a campos de concentração.

Mas as pessoas que hoje comandam o EB não são donas da Força. O nível de testosterona e de patriotismo de outra safra melhor que venha por aí, ou mesmo uma brecha qualquer no sistema há de permitir que um Chefe de verdade chegue a tempo, antes que o Brasil se transforme no enorme Estado narcotraficante e bolivariano que o governo está construindo.

Em 1964 não hesitamos em cumprir o mais elementar dos deveres: correr em defesa de nossa Pátria ameaçada pelo inimigo. Estejam certos que (sic) a decisão tomada pelos chefes de hoje em nada mancha a honra de nossa geração. Pelo contrário, exalta nossa fidelidade a nossos princípios e nosso amor a esse povo do qual fazíamos parte, que naquela época também nos amava e que hoje nos abomina, com razão.

Fomos chamados a escolher entre condenar nosso País a uma existência miserável sob a espora e o rebenque do comunismo ou colocá-la no caminho da Pátria descrita acima por Ruy Barbosa. Nossa geração fez sua escolha. Que cada um hoje faça também a sua.

Parabéns (sic) meus irmãos de armas, velhos guerreiros de 1964. Os cabelos da geração de ferro embranqueceram, o corpo sente os efeitos do passar do tempo, mas a lembrança daqueles dias gloriosos nos rejuvenesce. Nesta data nossos corações brasileiros batem mais forte, nossa alma patriota se eleva e nossas consciências tranquilas brilham com a luz intensa do dever bem cumprido".

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