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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

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O acinte como posição política

O uso deliberado do acinte revela o esgotamento da extrema direita e ameaça a democracia brasileira

O acinte como posição política (Foto: Agência Câmara )

Parece desespero. Afinal, a principal liderança da extrema direita permanece imobilizada, com tornozeleira e em prisão domiciliar. Além disso, aguarda o momento de rumar para a penitenciária, réu e condenado no julgamento da tentativa de golpe. Cada passo fora do ritmo trouxe consequências que abalaram o capital político antes acumulado. Resta, como remanescente, um grupo de parlamentares do PL, manobrando ideias para não se deixar esquecer... E, como as pesquisas para as próximas eleições indicam a reeleição do presidente Lula, sente-se que um cerco vai se fechando.

O resultado de semelhantes posturas implica o uso do acinte transformado em posição política. São ações condenáveis por princípio e trabalhadas diuturnamente como válidas nos debates parlamentares, pouco importando se o público aprova ou condena. Além do projeto da anistia, repudiado por ampla maioria da população, o esquema oposicionista foi adiante e defendeu a “PEC da Blindagem”, uma norma que impedirá a ação da Justiça contra congressistas flagrados em práticas criminosas. A turma já havia ocupado a mesa diretora da Câmara, suspendendo os trabalhos para pressionar em favor do perdão a Bolsonaro. Evitava punições pelo simples movimento de inércia da Casa, indisposta a medidas drásticas até contra os maiores infratores. Por trás das iniciativas ocultavam-se intenções perniciosas, afetando a saúde do Estado e a paz na vida social. Resta saber até onde chegarão com as ousadias, cada vez mais radicais no capítulo do mau comportamento e nas agressões ao regime democrático. Numa das anomalias concebidas, figura a nomeação de Eduardo Bolsonaro, ausente da Câmara e fugitivo nos Estados Unidos, além de conspirador e adversário dos interesses nacionais, para assumir a liderança da minoria. A manobra ofereceria, embora acintosa (uma vez que está e continuará no exterior), um pretexto para atrapalhar os processos de cassação do seu mandato.

Que as ideias em curso prejudiquem a imagem da direita pouco importa. Na avaliação de seus ideólogos, vale a pena, sobretudo, ocupar as manchetes e não sair dos focos de atenção. No reencontro com o pleito eleitoral, em 2026, o público, de memória curta, privilegiaria os nomes conhecidos em detrimento de suas imagens manchadas.

A violência verbal, as agressões de todos os tipos e os desatinos flagrantes constituem marcas de atuações bem-sucedidas aqui ou alhures, nas crônicas do direitismo extremado. O acirramento de bandeiras no quadro de suas colorações talvez represente novidade. Ainda não se conhecem os resultados. Imagina-se que se trata de um risco perigoso, com tintas de fracasso, quando testados nas urnas. É esperar para ver. Enquanto isso, assistiremos à exibição de acintes estampados a cada instante do noticiário. Não espanta que, mais do que nunca, o Supremo, para contraditar, defina a inconstitucionalidade de tantas de suas posturas. As manifestações convocadas nas ruas acendem um sinal de alerta irrespondível.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.