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Evilázio Gonzaga Alves

Jornalista, publicitário e especialista em marketing e comunicação digital

48 artigos

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O agronegócio quer reeleger Bolsonaro para continuar no poder

A neo-oligarquia agrária é muito mais primitiva do que a que saiu dos latifúndios no século 20, para fundar indústrias

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A fonte de poder de Bolsonaro é o agronegócio, que ocupou vácuo de poder político e econômico aberto pelo colapso das empreiteiras. O acordo mediado por Temer foi chancelado por este setor, que agora se empenha em polir a imagem do gangster, para torná-lo aceitável por outros setores sociais, como instrumento de combate a Lula.

A neo-oligarquia agrária é muito mais primitiva do que a que saiu dos latifúndios no século 20, para fundar indústrias.

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Os termos do acordo de Bolsonaro com alguns setores das oligarquias brasileiras, intermediadas por Michel Temer, começam a ficar mais claros. Entre diversos fatores, há as atitudes do ministro Alexandre Moraes, do STF, que alivia para alguns bolsonarista, nos diversos inquéritos que comanda, e mantém a mão pesada sobre outros; assim como a renúncia do gangster na presidência aos ataques às instituições – embora seja duvidoso que este comportamento será permanente.

Um dos indicadores do obscuro combinado é a entrevista do presidente miliciano nas páginas amarelas da revista Veja, notória por suas posições antijornalísticas e panfletárias, durante os governos comandados pelo PT.

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Atualmente a revista não é mais comandada pela família Civita, que na direção da publicação a levou ao posto de porta-voz das oligarquias mais atrasadas do país. Após a falência dos Civita a marca foi adquirida por investidores ligados aos novos-ricos do capital bancário, que mantêm ligações os chefes tradicionais dos predadores sociais do baixo clero.

Este bloco integra uma neo-oligarquia, composta por capitalistas recentes, como escroques que se tornaram banqueiros e agiotas, ao raspar as sobras dos negócios de privatização, como André Esteves, do BTG Pactual ou Daniel Dantas, do Opportunity; e aventureiros ruralistas que enriqueceram ao devastar os ecossistemas de Goiás, do antigo Mato Grosso e da Amazônia, para ocupar terras na região que a ditatura militar denominava como “fronteira agrícola”, em um irresponsável projeto de colonização interna, iniciado nos anos 1970.

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A estes dois setores entram subsidiariamente como aliados as indústrias de beneficiamento de commodities alimentícias e os intermediários nos negócios de exportação.

A neo-oligarquia brasileira tem interesse em manter seu domínio político e econômico sobre o Brasil, mas não possui um candidato alternativo a Bolsonaro. Desta forma, opera uma estratégia para manter o gangster no poder, que implica no polimento da imagem do miliciano. É necessário que ela pareça mais manso e enquadrado nos bons costumes, para não assustar à classe média – que ainda não superou a desconfiança fabricada do PT.

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A OLIGARQUIA INDUSTRIAL 

Esses novos-ricos do capitalismo atuam de maneira diferente das antigas oligarquias agrárias brasileiras, compostas por latifundiários tradicionais ou imigrantes que enriqueceram em atividades agropecuárias. As oligarquias agrárias tradicionais, do norte ao sul do país, costumavam enviar seus filhos para estudar na Europa (principalmente) ou Estados Unidos, onde os jovens oligarcas assimilavam uma cultura cosmopolita e humanista, como era comum na época (entre o começo do século, até os anos 1960), principalmente nas universidades europeias.

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A Semana de Arte Moderna de São Paulo, a fundação da USP, com subscrição de milionários paulistas, a Vera Cruz e o Teatro Brasileiro de Comédia, ambos criados com financiamento privado, são iniciativas reveladoras do padrão cultural da elite econômica tradicional brasileira, coisa que não se vê na neo-oligarquia atual. As oligarquias brasileiras não produzem mais gente como Caio Prado Junior ou Gilberto Freyre, ambos descendentes de antigas famílias de senhores da terra.

A valorização da formação intelectual pela oligarquia tradicional, junto com o projeto modernizador e desenvolvimentista de país estabelecido no período Vargas (sem entrar aqui no julgamento de valor nos aspectos políticos do getulismo, pois não é o objetivo e não cabe em um texto tão curto), são fatores que estimularam as novas gerações dos milionários brasileiros em boa parte do século 20 a investir os excedentes das suas fortunas em projetos industriais.

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A combinação do projeto desenvolvimentista do estado, com a atração das novas gerações das oligarquias agrárias pelo modo de vida das elites econômicas europeias e estadunidenses (que à época tinham na indústria o foco de seus investimentos); contribuíram para viabilizar a industrialização brasileira. O país chegou a ter, na virada do século, um dos maiores e mais diversificados parques industriais do planeta.

Principalmente a partir do final da Segunda Guerra Mundial, o ramo industrial do capitalismo conquistou e manteve grande poder econômico e político no Brasil – sempre associado ao capital financeiro que se mantêm como uma superestrutura, seja qual for o regime político vigente – até a Lavajato e o golpe de 2016.

Durante a onda de privatizações que ocorreram a partir do governo Collor e tiveram seu auge no período FHC, as empresas de capital nacional também foram engolfadas, como por exemplo a tradicional Metal Leve. Neste período o capitalismo tradicional brasileiros foi assediado para vender suas empresas. A maioria não resistiu às cifras apresentadas e optou pelo rentismo.

A LAVAJATO ATACA A ECONOMIA BRASILEIRA

Porém, havia um setor industrial muito forte, que foi capaz não só de resistir ao assédio, como se expandiu internacionalmente, mostrando ser o setor mais competitivo da economia brasileira: as empreiteiras. As grandes firmas de construção brasileiras se espalharam pelo mundo, vencendo concorrências em todos os continentes e se posicionaram como as referências mundiais de excelência no setor.

As maiores construtoras passaram a investir parte dos seus excedentes, a partir do início do século atual, em projetos industriais diversificados. As empreiteiras participaram das privatizações, mantendo empresas importantes sob o controle do capital nacional, assim como investiram em projetos industriais originais no Brasil e em outros países.

A Odebrecht é um exemplo. A empresa fez grandes aportes financeiros nas indústrias de alta tecnologia e de equipamentos militares. Firmas do grupo baiano desenvolviam pesquisas científicas e tecnológicas no campo militar e já estavam iniciando a produção de equipamentos no estado da arte, como sofisticados mísseis antiaéreos ou antirradiação; radares móveis de alto desempenho; modernos aviônicos; drones avançados; navios e submarinos.

A entrada da Odebrecht na indústria militar, com estímulo do governo Lula, tem grande similaridade com políticas de governos de países como Suécia, França e Coréia do Sul. O setor militar é o que tem maior demanda por tecnologia avançada, por isso esses e outros países mantêm indústrias militares no estado da arte, para assegurar o mais elevado nível científico nacional.

As atividades das empreiteiras brasileiras incomodaram os concorrentes internacionais; não só no âmbito da atividade original dessas empresas (a construção pesada), pois o mercado mundial passou a ser dominado pelas brasileiras; como, principalmente, devido a entrada dessas firmas na indústria militar e tecnológica.

Retirar as construtoras brasileiras da competição internacional, certamente foi um dos objetivos dos tenebrosos interesses estadunidenses que estavam por trás da Lavajato. Provavelmente havia o interesse de outros países, além dos EUA, e um indício é que uma empresa israelense comprou a divisão de misseis da Odebrecht por preços muito inferiores ao valor real.

O ataque à Petrobras também contribuiu para o objetivo de enfraquecimento da indústria brasileira, pois a petrolífera mantinha a política da exigência de conteúdo nacional nas suas compras de suprimentos. Desta forma, desde grandes petroleiros ou plataformas de extração de petróleo, assim como cimento, tubos de oleodutos, uniformes e outros itens deveriam ser produzidos no Brasil. O desmantelamento da Petrobras significou a extinção de uma imensa rede industrial de suprimentos.

Estudos da UFRJ calculam que o ataque combinado à Petrobras e às empreiteiras eliminou a capacidade de produção de 40% do PIB brasileiro. Outros cálculos estimam que o prejuízo é muito maior, chegando a afetar metade da economia do Brasil.

De qualquer forma, não há dúvida de que o debacle do núcleo mais competitivo da economia brasileira é responsável pela recessão do país (coisa que a mídia dominada pelo neoliberalismo não admite), assim como pela tragédia do desemprego, a miséria, a volta da fome e a paralização do crescimento do país.

O AGRONEGÓCIO APROVEITA O VÁCUO DO PODER

Como tudo o que é ruim pode piorar, há outro efeito devastador provocado pela Lavajato e o golpe de 2016. Com a quebra das empreiteiras (suposto método de combate à corrupção que só ocorreu no Brasil, pois nenhum país admite a destruição de suas maiores empresas), houve não somente um vácuo econômico, como também político.

As construtoras durante muitos anos foram, junto com os eternos bancos, os players corporativos mais importantes no financiamento da política no país. Isso conferiu a esse setor da economia imenso poder político, que se traduzia na prática com políticas desenvolvimentistas do governo. Evidentemente a visão desenvolvimentista das construtoras era extirpada de aspectos fundamentais, como sustentabilidade, responsabilidade ambiental, assim como de preocupações com questões sociais e a inclusão. O objetivo era o lucro.

No entanto, era uma proposta política que demandava a manutenção das atividades econômicas em alta intensidade e com elevada capacidade de geração de empregos. A necessidades estrutural das empreiteiras contribuía para fortalecer o mercado interno e viabilizava um padrão de exportações de valor agregado mais alto do que as commodities alimentícias e minerais. Dois exemplos são o Porto de Mariel em Cuba e o Aeroporto de Miami, nos EUA. As duas obras foram construídas com pré-moldados de concreto, ferragens, eletrônicos, equipamentos, máquinas, veículos e suprimentos importados do Brasil. Contaram, ainda, como todas as outras obras realizadas fora do Brasil, com engenheiros, técnicos e operários especializados brasileiros. O peso de um arranjo como este é incomparavelmente mais positivo para a balança comercial brasileira, do que a exportação de commodities.

O poder político da indústria, liderada pelas empreiteiras, contribuía para manter um padrão econômico que, apesar das limitações já mencionadas, trazia benefícios ao país.

A destruição das construtoras e o enfraquecimento intencional da Petrobras, que extinguiu a poderosa cadeia de suprimentos nacional da petrolífera, abriu um vácuo na economia e na política brasileira, que foi ocupado pela neo-oligarquia agrária, que adotou o nome fantasia de “agronegócio”.

A neo-oligarquia agrária bem diferente da oligarquia tradicional, que a antecedeu décadas atrás, não possui nenhum verniz civilizatório e nem compromisso com o país.

Embora alguns de seus filhos sejam enviados para estudar fora do país, as escolas mudaram e o pensamento único neoliberal passou a dominar as principais instituições de ensino na Europa e Estados Unidos, com raras exceções. Desta forma, a neo-oligarquia agrária é composta por milionários com um padrão econômico e cultural semelhante ao do período colonial escravocrata. Não há nenhum compromisso com o país e nem com a população brasileira.

Os ruralistas e seus agregados não demandam mão de obra extensiva. Com a mecanização, dezenas de quilômetros quadrados de uma neo-plantation podem ser responsabilidade de apenas um trabalhador, controlando uma máquina robotizada. O agronegócio não precisa nem mesmo de mercado interno, pois sua produção é exportada.

Outra característica que diferencia a neo-oligarquia dos antigos senhores da terra; cujos descendentes migraram para a indústria; é que donos das terras da “fronteira agrícola” não se preocupam com investimentos em projetos mais elaborados ou sofisticados; eles preferem aplicar seus excedentes no sistema financeiro, preferencialmente em paraísos fiscais, para sonegar impostos.

Quem coloca comida na mesa dos brasileiros são os pequenos produtores, que não participam da festa do poder da neo-oligarquia.

A fonte de poder do bolsonarismo é a neo-oligarquia agrária, que ocupou o espaço vago do poder, aberto pelo colapso das empreiteiras, provocado pelo ataque estrangeiro, que teve a Lavajato como arma. Infelizmente para o país, apesar das graves limitações a indústria mantinha algum grau de conexão com os interesses da população e do Brasil, porém a neo-oligarquia, além de predatória, somente tem compromisso consigo mesma, com os velhos senhores feudais.

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