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Washington Araújo

Mestre em Cinema, psicanalista, jornalista e conferencista, é autor de 19 livros publicados em diversos países. Professor de Comunicação, Sociologia, Geopolítica e Ética, tem mais de duas décadas de experiência na Secretaria-Geral da Mesa do Senado Federal. Especialista em IA, redes sociais e cultura global, atua na reflexão crítica sobre políticas públicas e direitos humanos. Produz o Podcast 1844 no Spotify e edita o site palavrafilmada.com.

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O apagão de 2025 e os ecos de “Day Zero”: quando a ficção bate à porta

Enquanto a Europa aguarda a restauração da energia, o apagão de 28 de abril deve servir como um divisor de águas

Apagão na Europa (Foto: Reuters)

Hoje, 28 de abril de 2025, a Europa mergulhou no caos com um apagão de energia sem precedentes, que paralisou países como Portugal, Espanha, França e outros. Metrôs evacuados, aeroportos fechados, hospitais em geradores e redes de comunicação à beira do colapso pintaram um cenário de vulnerabilidade coletiva. Enquanto as autoridades investigam as causas – de falhas em linhas de alta tensão a possíveis ciberataques –, a realidade parece ecoar a trama do seriado Day Zero, da Apple TV, protagonizado pelo lendário Robert De Niro, hoje com 81 anos. Estarei dando algum spoiler do seriado? Não. Nesse caso o spoiler é a realidade hoje enfrentada por grande parte dos países europeus. Voltando, a série, uma distopia eletrizante, nos alerta para os perigos de uma sociedade hiperdependente da tecnologia. O que está acontecendo hoje não é apenas um evento técnico; é um chamado para refletirmos sobre nossa fragilidade diante do colapso energético.

Um Continente às Escuras

O apagão que atingiu a Europa começou às 11h30 (hora de Lisboa), com Portugal e Espanha sofrendo os piores impactos. Em Lisboa, o metrô parou, o Aeroporto de Lisboa fechou, e o trânsito virou um caos sem semáforos. Na Espanha, Madrid ativou um plano de emergência, com o Aeroporto de Barajas fora de serviço. Outros países, como França, Alemanha e Itália, enfrentaram interrupções menores, mas o efeito cascata revelou a interconexão – e a vulnerabilidade – da rede elétrica europeia. A E-Redes portuguesa aponta que a falha veio de fora, enquanto especulações sobre ciberataques ganham força, com o Centro Nacional de Cibersegurança e o INCIBE em alerta. A Comissão Europeia e a NATO monitoram, mas respostas concretas ainda são escassas. Este não é apenas um problema técnico; é um teste à resiliência de um continente.

“Day Zero”: A Ficção que Antecipa

Lançada pela Apple TV, Day Zero apresenta um futuro onde um apagão global, desencadeado por um ciberataque, mergulha o mundo na escuridão. Robert De Niro interpreta um ex-engenheiro elétrico que lidera um grupo improvável na luta para restaurar a energia e evitar o colapso social. A trama explora o pânico coletivo, a desinformação e a fragilidade de sistemas interconectados, enquanto os personagens enfrentam dilemas éticos em um mundo sem eletricidade. Sem revelar detalhes cruciais, a série mistura suspense, drama e crítica social, mostrando como a dependência tecnológica pode nos tornar reféns. A atuação de De Niro, com sua intensidade característica, dá peso a um enredo que, hoje, parece menos ficção e mais profecia.

Lições do blecaute

O apagão de 2025 e Day Zero compartilham um alerta comum: nossa confiança cega na infraestrutura tecnológica é uma faca de dois gumes. A Europa, com sua rede elétrica integrada, é um exemplo de eficiência, mas também de risco sistêmico. Um único ponto de falha – seja uma linha de 400 kV ou um ataque cibernético – pode desencadear um dominó devastador. A série nos provoca a imaginar o que acontece quando a eletricidade some: como gerenciamos o caos? Como protegemos os vulneráveis? Hoje, vemos hospitais recorrendo a geradores e cidadãos presos em metrôs, mas o que virá se tais eventos se tornarem mais frequentes? A resposta exige investimentos em cibersegurança, diversificação energética e, acima de tudo, um plano robusto para crises.

Chamado à Ação

Enquanto a Europa aguarda a restauração da energia, o apagão de 28 de abril deve servir como um divisor de águas. Assim como Day Zero nos confronta com a fragilidade humana, este evento real exige que governos, empresas e cidadãos repensem sua relação com a tecnologia. A NATO e a Comissão Europeia já sinalizam cooperação, mas é preciso mais: auditorias regulares na rede elétrica, protocolos contra ciberataques e uma transição energética que equilibre inovação e segurança. Para o cidadão comum, o recado é claro: a resiliência começa em casa, com conscientização e preparação. O apagão de hoje não é o fim, mas um lembrete de que, como na série de De Niro, a luz pode apagar – e cabe a nós garantir que ela volte o quanto antes. Se uma coisa que não precisamos no mundo conturbado que vivemos é de escuridão. Fiat lux.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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