O Brasil capturado pela máfia política
"O Brasil está sendo capturado por um crime organizado de colarinho branco"
As revelações envolvendo o Banco Master, a Operação Carbono Oculto e outros episódios que atravessam Brasília e os estados expõem um fato que já não é possível negar: o Brasil está sendo capturado por um crime organizado de colarinho branco entranhado nas instituições, alimentado e protegido pelas teias do centrão e da extrema-direita. O que as investigações mostram, com desconcertante clareza, é a existência de um ecossistema de poder que conecta empresários inescrupulosos, operadores financeiros, parlamentares e agentes públicos em um projeto comum de captura do Estado — um projeto que se disfarça de moralismo punitivista enquanto trabalha, dia e noite, para blindar os maiores criminosos do país.
A retórica da direita, embalada pelo velho lema “bandido bom é bandido morto”, cai por terra quando confrontada com suas escolhas concretas. Por trás do discurso de guerra aos pobres, das operações midiáticas e da demonização seletiva, emerge uma atuação sistemática em favor daqueles que controlam dinheiro, influência e redes clandestinas de poder. A prova está na sucessão de pautas que o Congresso tem avançado — e nenhuma delas revela tanto o método quanto o PL da dosimetria, aprovado na calada da noite para reduzir penas de golpistas e, de quebra, abrir brechas que afrouxam regras penais aplicáveis a toda sorte de criminosos de alto impacto. Não foi apenas um gesto de condescendência com o golpismo: foi uma verdadeira reforma penal clandestina, feita para proteger aliados, garantir impunidade e criar um precedente que favorece toda a cadeia do crime de colarinho branco.
Esse movimento se soma à PEC da Blindagem, concebida para transformar parlamentares em uma casta inalcançável pela lei; ao relatório Derrite no PL Antifacção, que mutilou o enfrentamento às cúpulas do crime; e à sabotagem contínua da PEC da Segurança Pública, sistematicamente barrada para impedir qualquer responsabilização das estruturas que lucram com o caos. Juntos, esses atos formam o mosaico completo da estratégia: proteger os poderosos, empoderar os criminosos e enfraquecer o Estado.
A dinâmica interna do Congresso também revela que já não é a agenda do país que orienta o Legislativo, mas o interesse imediato de ampliar verbas de emendas e fundo partidário, convertendo o orçamento em instrumento de chantagem política e financiamento cruzado. Em paralelo, cresce a obsessão por blindar irregularidades na execução dessas emendas, criando mecanismos para travar investigações e neutralizar qualquer forma de controle público. Esse ambiente é tão corrosivo que até a escolha de um ministro do STF deixou de ser discussão sobre perfil jurídico ou compromisso democrático e passou a ser cálculo de sobrevivência: qual nome oferece mais segurança aos parlamentares para preservar o direito de continuar sangrando os cofres públicos impunemente?
No Rio de Janeiro, onde as fronteiras entre crime econômico, milícias, narcotráfico e política institucional são historicamente tênues, a captura se torna ainda mais explícita. A decisão do centrão e da extrema-direita na Alerj de livrar o presidente da Casa — acusado de colaborar com o crime organizado — demonstra que o pacto de proteção mútua não conhece limites. É a síntese perfeita de um sistema que funciona para manter no topo os operadores da criminalidade política, enquanto faz da repressão aos pobres seu espetáculo diário.
O que está em jogo ultrapassa qualquer disputa convencional entre direita e esquerda. Trata-se de proteger o país de uma máfia institucionalizada, que utiliza o discurso da ordem como cortina de fumaça para operar um projeto de poder baseado em captura orçamentária, chantagem política e desmonte dos mecanismos de responsabilização. Esses grupos encontraram na direita brasileira — especialmente na extrema-direita — um valhacouto confortável, um abrigo seguro a partir do qual comandam, influenciam e deformam o funcionamento do Estado.
É urgente nomear o inimigo real. Ele não está nas favelas, não está na juventude preta, não está na periferia — os alvos preferenciais do punitivismo hipócrita. O verdadeiro crime organizado veste terno, ocupa gabinetes climatizados, manipula o orçamento e se escora em mandatos para operar com impunidade. Enquanto repetem slogans e incitam violência seletiva, trabalham para garantir que nenhum deles seja alcançado pelas mesmas leis que defendem com tanto fervor quando se trata de punir os mais vulneráveis.
O combate central do Brasil hoje não é ideológico. É civilizatório. É o país contra aqueles que querem transformá-lo em feudo privado, submetido às regras de uma elite político-criminosa que só prospera quando a democracia enfraquece. E a democracia brasileira, para sobreviver, precisa finalmente confrontar aqueles que a tratam como obstáculo — jamais como compromisso.
E isso exige algo que nenhuma instituição, sozinha, será capaz de fazer: mobilização popular massiva. Assim como foi o povo que derrotou a ditadura, que barrou retrocessos e que impediu a consolidação do golpismo, será novamente o povo nas ruas que poderá frear essa escalada de blindagens, manobras e ataques ao Estado de Direito. Não haverá saída institucional enquanto a sociedade permanecer paralisada.
É hora de reconstruir a pressão democrática, ocupar as ruas e afirmar que o Brasil não pertence à máfia política — pertence ao seu povo.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

