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Pedro Cláudio Cunca Bocayuva

Professor do PPDH do NEPP-DH/UFRJ

31 artigos

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O Brasil diante do Massacre do Jacarezinho: Será que chegou a hora de Davi?

As falsas guerras e cruzadas morais convergem para o que de fato são: violência extrema. A banalização da crueldade alimenta o moinho satânico ou a máquina de moer gente

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As descrições dos brutamontes, dos Golias, são metáforas bíblicas da força bruta que perde para a justiça. As imagens e narrativas da luta contra a servidão são cheias de táticas de fuga, de estratagemas que definem a estratégia para a libertação dos cativos. No quadro atual de avanço contra o valor da vida chegamos ao limite do intolerável. Muitos perguntam o que pode acontecer? Como não cair na armadilha dos provocadores? Como reagir com sensatez dados os riscos de contaminação pelo vírus e pelo ódio? 

Como sair dos processos de horror extremo, de ignorância, de crueldade e de barbárie? Quanto tempo a razão cínica vai gerar um individualismo narcisista e, ao lado do medo, que alimenta  os donos do poder no país dominado pelos privilégios e pela perversidade, que gera genocídio e se sustenta na indiferença?

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Nossa maturidade e a qualidade de nossa democracia sofrem atentados diários, assim como nossa saúde, diante de um governo que se alia ao poder devastador da pandemia. O espetáculo confuso e delirante de continuar sem usar máscara e de apelar para a ruptura do pacto institucional se espalha em manifestações caricaturais como a de buzinar diante  de hospitais, ou a de clamar pela falsa solução do apelo a uma intervenção militar, que já mostrou o risco do fracasso na qualidade de governar e no desvio de função, no passado e hoje. 

A conjuntura se agrava com a violação evidenciada em atos como o de invadir residências, criminalizar movimentos, invadir terras protegidas, saquear e destruir riquezas, privatizar patrimônio público  e atacar opositores. Armando milícias e estimulando práticas genocidas para a atuação das instituições de polícia. Ao lermos nos dicionários as definições para palavras como chacina, massacre e genocídio temos diferenças de intesidade, escala e enfase. 

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Ao falarmos de acidente, trauma, caos, colapso e catástrofe temos um uso, nem sempre preciso. Mas estes significantes povoam o imaginário e as narrativas sobre a cena contemporânea, em especial no Brasil. Vivemos tempos de catástrofe, crueldade e barbárie, chegou a hora de mostrar o corpo da resistência indo do luto até luta. Indo da resistência até a busca de alternativas, necessárias e possíveis para construir políticas e modos de governar que, já se desenharam em inúmeras práticas do passado recente, que já se mostraram indispensáveis.

Repetindo, as falsas guerras e cruzadas morais que convergem para o que de fato são: violência extrema. A banalização da crueldade alimenta o moinho satânico ou a máquina de moer gente. Existe um momento em que o registro desta intensidade de violência vai tornando preciso o significado de certas palavras que precisam ser ditas , em que os fenômenos sociais antes velados se convertem em fatos sociais grotescos. 

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Os acontecimentos decisivos vão abrindo a fenda, o abismo e a brecha que exigem que se pense e se tome uma atitude. Que se faça o luto e que se busque resistir, nos limites de cada um e na força do coletivo. No agir público contra o poder que se alimenta da doença e da injustiça. Sair nas ruas vai se tornando inevitável para barrar o risco de ampliar os banhos de sangue, diante do desperdício de vidas pelo aniquilamento, pelo encarceramento e pela perda de vontade. 

Nos fatos sociais, os que envolvem e afetam a vida de todas e todos, temos o registro de como o horror extremo bate na fronteira do intolerável. A dimensão ética tem de responder ao questionamento de quando agir, a partir do julgamento dos fatos desde a convicção da dignidade moral que nos define sentidos para a condição humana. Esta tomada de consciência quase sempre se relaciona com fatos mobilizadores, que se não tiverem respostas fazem a sociedade sucumbir ao poder dos crimes aberrantes, quando mesmo diante da evidência robusta das provas os operadores do crime encontram os seus agentes justificadores. 

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No meio de tantas chacinas se produz um genocídio como processo, mas em algum momento se dá o Massacre, como o do Jacarezinho, que exige resposta sob pena de nos submetermos a mais um avanço na direção da servidão e do ódio. 

O Massacre do Jacarezinho é um ponto de intensidade, um evento que marca a intensidade e  o alcance de um acontecimento definidor, um divisor de águas que cobrará o seu preço no futuro do presente. O mesmo se dá em relação a uma sucessão de traumas que produziram o colapso ambiental e sanitário, bem como, ao conjunto de ações do tipo da guerra híbrida, que levaram a uma farsa judicial e institucional e a uma tutela policial e militar na cena brasileira. O que abre para a emergência de bandos armados, que tornaram ainda pior o quadro de controle miliciano e do tráfico nos territórios da cidade do Rio de Janeiro, como instrumento de extração de mais valia social e produção de sofrimento.

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O fracasso se alimenta e se repete quando se trata de sustentar interesses e forças da injustiça e da desigualdade na via da segregação e do preconceito. A pergunta que se coloca é: se nos próximos dias, deste maio de 2021, poderemos barrar a lógica destrutiva, através da formação de blocos de forças democráticas, capazes de rearticular as relações entre imunidade e comunidade na via democrática e republicana?

O mês de maio lembra a necessidade de avançarmos num projeto para o Brasil que vá além da abolição, capaz de contribuir para avançar o poder da cidadania por meio de novas alianças, como as que se teve contra as ditaduras de todo tipo. Tratasse de impedir que se quebre as condições mínimas para que a sociedade brasileira não passe,  mais uma vez, pelo atraso dos banhos de sangue e de dor. 

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Neste quadro Davi se movimenta, pela unidade das forças moleculares de defesa da vida que não aceitam a mentira e a força bruta. Mas será preciso ter coragem, paciência e organização para garantir que este maio de 2021 seja marcado pela virada da resistência. A unidade na diversidade começa a se organizar a partir da centralidade do social e das vozes, corpos e territórios segregados, que gritam contra a naturalização dos processos mórbidos ou da pulsão de destruição. 

Maio de luto e de luta como resposta ao Massacre do Jacarezinho e a uma explosão de fome, doença e morte que nasceu do negacionismo, _ como discurso atual da legitimação da exceção e do excesso. Estamos diante de forças que colocam em prática o apelo ao fascismo sem máscara, pois Golias enlouqueceu. 

O neoliberalismo, esta doença infantil do capitalismo mundializado, começa a ensinar seu contrário o valor da vida, a importância da justiça social e o valor do conhecimento. O valor de uma política que afirme a cidadania e a responsabilidade dos governantes em unir a nação, afirmar o  primado dos direitos e se submeter a práticas republicanas sob a base da soberania popular, sem as exclusões prévias que nos lançam na lógica perversa de quem tem sede de morte.  

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