Florestan Fernandes Jr avatar

Florestan Fernandes Jr

Florestan Fernandes Júnior é jornalista, escritor e Diretor de Redação do Brasil 247

251 artigos

HOME > blog

O Brasil dos privilégios e a urgência das ruas

Se quisermos colocar o parlamento no seu devido lugar – aquele que a Constituição Federal lhe reservou –, teremos que voltar às ruas

Bandeira do Brasil em ato contra a anistia (Foto: Reprodução / Redes sociais)

Recentemente, Lula fez um desabafo; falou o que estava entalado na garganta dele e de todos que efetivamente lutam por um país mais justo, igualitário e democrático. Olhando diretamente para Hugo Motta, chefe da Câmara dos Deputados, o presidente disse sem rodeios que o Brasil jamais teve um Congresso de tão baixo nível como o atual. “Aquela extrema-direita que se elegeu na eleição passada é o que existe de pior”, completou Lula.

E no Brasil, todos sabemos, quando se trata dos interesses dos poderosos, o que está ruim sempre pode piorar. Mais uma vez, a defesa dos privilégios dos bilionários é o ponto central da discórdia entre a direita e os progressistas. É esse sistema que preserva a riqueza nacional concentrada nas mãos de uma minoria ínfima.

Agora o país depende de uma nova decisão do Congresso, que tem apenas dois meses para aprovar o orçamento de 2026, levando em conta os interesses da maioria. Será que consegue? Em ano que antecede eleição presidencial, quando o vale-tudo político passa por dificultar a vida do governo, é difícil acreditar no bom senso. Aposto minhas fichas que, mais uma vez, o prejudicado será o povo trabalhador, sobretudo os mais pobres.

Na última terça-feira (21/10), o ministro Fernando Haddad apresentou uma proposta para equilibrar as contas públicas sem abandonar as políticas sociais de inclusão. Em forma de projeto de lei, o Ministério da Fazenda propõe cortes de gastos de R$ 15 bilhões e aumento de receitas de R$ 20 bilhões, ampliando a tributação sobre fintechs, bets e juros sobre capital, entre outras medidas. Se essas propostas não forem aprovadas na Câmara, o governo enfrentará queda expressiva na arrecadação e, como sempre, quem pagará a conta serão os de baixo, com cortes em obras de saneamento, transporte, habitação e em serviços fundamentais como saúde, educação e segurança pública.

Enquanto isso, o andar de cima segue firme, blindado por parlamentares que há anos viraram as costas para a grande maioria dos eleitores. Desde o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, estão mais preocupados com seus próprios interesses e os de seus financiadores.

Hoje, suas atenções estão voltadas para a liberação de emendas do orçamento e para a anistia aos golpistas do 8 de janeiro; gente que tem em Eduardo Bolsonaro seu representante mais legítimo. O deputado carioca, eleito com 741 mil votos de eleitores paulistas, abandonou o mandato desde o início de 2025 para articular com o governo Trump boicotes às exportações brasileiras e à soberania nacional.

Se quisermos colocar o parlamento no seu devido lugar – aquele que a Constituição Federal lhe reservou, teremos que voltar às ruas. Impedir mais uma traição contra o Brasil. Fazer como no último 21 de setembro, quando milhares de pessoas tomaram as ruas do país para protestar contra a anistia e a PEC da Blindagem.

Que nossos jovens “octogenários” da MPB, Caetano, Chico e Gil, mais uma vez, estejam à frente de um ato, desta vez em defesa da justiça tributária.

Está mais do que na hora de fazer com que os milionários paguem, proporcionalmente, o mesmo que a maioria da população.

Se os poderosos não abrem mão de seus privilégios, que as ruas voltem a ser o palco da democracia. Porque só há justiça social quando os de baixo se levantam.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

Artigos Relacionados