O Brasil entre a chantagem externa e a submissão interna
Nossa soberania e democracia não estão, e jamais estarão, à venda
O Brasil vive um momento decisivo para o seu futuro como nação soberana e democrática. A recente crise diplomática deflagrada pelo governo Trump, com a imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros e sanções diretas ao ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, transcende a esfera de uma simples disputa comercial. Estamos diante de uma ofensiva que utiliza o poder econômico como arma política para tentar ditar os rumos internos do Brasil, testando os limites da nossa autonomia e a resiliência de nossas instituições.
A ação de Trump, justificada por ele como uma resposta a decisões do sistema de justiça brasileiro e à regulamentação de plataformas digitais, é uma tentativa explícita de interferir em assuntos que competem exclusivamente ao Estado brasileiro. Ao mirar o ministro Alexandre de Moraes, o governo estadunidense busca subordinar nosso Judiciário a interesses estrangeiros, o que seria uma capitulação inaceitável. Aceitar tal imposição abriria um precedente perigoso, onde qualquer nação poderia se sentir no direito de chantagear o Brasil para que nossas políticas internas se alinhem aos seus interesses.
Essa não é uma tática nova no cenário internacional. Historicamente, as superpotências usaram e abusaram de seu poderio econômico para dobrar nações menores. Contudo, o Brasil de 2025 possui uma economia diversificada e instituições consolidadas, capazes de resistir a tais pressões. A resposta firme do presidente Lula, em defesa da soberania nacional, reflete essa maturidade e conta com amplo respaldo popular, visto que 72% dos brasileiros se opõem às tarifas de Trump, conferindo legitimidade à postura do governo.
Enquanto a maioria da população e o governo federal se unem na defesa do país, setores da elite econômica e política brasileira, simbolizados pela Faria Lima, adotam uma postura de servilismo e submissão. Em vez de condenarem a agressão à soberania nacional, culpam o governo brasileiro por uma suposta "falta de diálogo", ignorando deliberadamente o caráter imperialista e desestabilizador da política externa de Trump. Essa elite finge não ver que o objetivo central de Trump, é derrubar o governo brasileiro e reinstalar a família Bolsonaro no poder, tratando o Brasil como um quintal de seus interesses.
Os interesses em jogo são vastos: desde o controle sobre as big techs e o sistema PIX, cobiçado por empresas financeiras norte-americanas, até a exploração de nossos minerais críticos. A direita brasileira, ao se alinhar a esses interesses, demonstra um silêncio cúmplice e adota uma postura que remete a momentos vergonhosos da história da humanidade. Suas lideranças não apenas traem a defesa da soberania nacional, mas também os interesses de empresas e empregos brasileiros, perdendo-se na mesquinharia dos cálculos para as eleições de 2026.
O governo brasileiro, por sua vez, age corretamente ao ancorar sua política externa na tradição negociadora e na defesa da ordem internacional, sem abrir mão da autonomia. O Brasil tem demonstrado que possui uma estratégia calculada, buscando diversificar parceiros comerciais com a China, União Europeia e Mercosul para mitigar os impactos das sanções americanas.
Entre a submissão e a defesa intransigente da soberania, o Brasil optou pelo caminho da dignidade. A crise atual é um teste de maturidade para nossa democracia e nossa capacidade de agir como uma nação independente. Ceder à chantagem teria custos muito maiores no longo prazo, minando nossa credibilidade internacional. Nossa soberania e democracia não estão, e jamais estarão, à venda.
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Daniel “Samam” Barbosa Balabram é carioca, músico, educador e militante do Partido dos Trabalhadores (PT). Foi Secretário de Comunicação e membro da Executiva do PT da cidade do Rio de Janeiro (2019-2022) e ocupa desde 2017 cadeira no coletivo da Secretaria Nacional de Cultura do PT (SNCult/PT). Atualmente, está como Coordenador-Geral do Conselho Nacional de Política Cultural - CNPC no Ministério da Cultura - MinC.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

