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Gustavo Conde

Gustavo Conde é linguista.

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O Brasil vai conseguir jogar futebol sem a histórica pressão do torcedor?

O colunista Gustavo Conde questiona a situação inusitada que a seleção brasileira de futebol vai enfrentar nessa Copa do Mundo; ele diz que, pela primeira vez na história, a seleção entrará em campo sem a pressão do torcedor; Conde indaga se essa ausência de pressão será positiva ou negativa para um campeonato mundial que é muito calcado na capacidade emocional dos jogadores

O colunista Gustavo Conde questiona a situação inusitada que a seleção brasileira de futebol vai enfrentar nessa Copa do Mundo; ele diz que, pela primeira vez na história, a seleção entrará em campo sem a pressão do torcedor; Conde indaga se essa ausência de pressão será positiva ou negativa para um campeonato mundial que é muito calcado na capacidade emocional dos jogadores (Foto: Gustavo Conde)
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Jornalistas, boleiros e entendidos em geral sempre vaticinaram sobre a tal da “pressão” que é a seleção brasileira de futebol estrear em uma copa. O enunciado-clichê era: “a torcida brasileira cobra muito”.
 
Em tempos idos era, de fato, a população masculina inteira de um país alucinada pelo título mundial, com todas as feridas, traumas e desclassificações épicas correndo nas sofridas veias de sangue verdeamarelo (ops).
 
O trauma do 7 a 1 será experimentado nesta copa. Ele nem começou a ser processado, quanto mais, superado. Nem o 2 a 1 de 1950 foi superado, quem dirá este 7 a 1. Na verdade, ele é o penúltimo resultado desta seleção em copas do mundo (o último foi a derrota para a Holanda por 3 a 2), seleção cujo elenco não é muito diferente deste atual, senão pelo técnico.
 
Tite é inteligente e trabalha com a linguagem. Ele é intuitivo e não se filia a essa boçalidade da autoajuda que acabou ganhando os vestiários do bolismo mundo afora.
 
Ele sabe tapear a imprensa, sabe pautar, sabe se blindar, sabe agregar valor retórico diante da manada infame de jornalistas incompetentes e limitadíssimos que fazem a cobertura da seleção.
 
Se se quiser o exemplo de um jornalista com sérias limitações técnicas, pense em um que cubra os bastidores da seleção brasileira de futebol. Eles fazem a mesma pergunta há 50 anos (é por isso que os jogadores dão a mesma resposta também há 50 anos): “ - E aí, mais um desafio para a seleção? - Sim, mais um desafio que vamos encarar com seriedade”. Fim.
 
Copa não é eliminatória, não é amistoso. Copa é copa (e vice-versa, como diria o glorioso jogador Jardel). Vamos saber hoje em que pé está o emocional da seleção que, há quatro anos, estava em frangalhos - eles entravam chorando em campo e continuavam chorando durante o jogo.
 
Imagine o que será cantar o hino nacional de um país destroçado por um golpe, com a economia devastada, a violência em níveis maiores do que a de países em guerra e uma desidentificação sem precedentes com a clássica cor da camisa da seleção, associada ao golpe até a medula. Não será trivial. O sentimento de nacionalidade do brasileiro foi assassinado.
 
Copa é estado emocional e Tite sabe disso. O imponderável de Almeida e seu primo, o Sobrenatural de Almeida, rondam a Russia com a conhecida malandragem das personagens fictícias brasileiras. A frase: “é preciso combinar com os russos” está só esperando para ressuscitar de maneira olímpica neste mundial da vergonha amarela.
 
A situação da seleção, portanto, não é jogar o bom futebol e aguentar a ‘pressão’. Não há ‘pressão’. Não tem um brasileiro sequer fazendo ‘pressão’. O torcedor brasileiro, pela primeira vez na história das copas, apenas observa. Ninguém vai morrer se a seleção for eliminada, nem tampouco nascer de novo se ela vencer. O Brasil estará igualmente afundado na descrença, na desilusão e na desidentificação.
 
Resta saber como a mística canarinha vai lidar com essa realidade. Pode ser o melhor dos mundos jogar sem pressão. Mas pode ser também o mais solitário a aterrador de todos.

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