O Brasil visto de longe
O calor da luta é fundamental, mas o distanciamento uma arma indispensável
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É estranho participar da vida brasileira através deste Brasil 247 e ao mesmo tempo, estar longe. Aqui de Lisboa, de onde estou para uma exposição e a 4 horas de distância o país perde um pouco da sua superfície mais árida e assume um tom mais pastel, indefinido, mais do jeito que a gente gostaria.
Portugal em geral e Lisboa em particular têm uma característica que ajuda isso. É uma espécie de Brasil, pelo excesso de brasileiros aqui e a língua, sem os detalhes que tornam nosso país tão problemático. A pobreza existe aqui, mas bem menor. A direita aqui também é assanhada, mas o espírito democrático da política é bem determinado, o céu é lindo, a luz impressionante e nesta época do ano, o clima bem ameno. Confunde a nossa cabeça. Ao ler os sites parece que estamos nos informando de um país muito distante apesar de ser o nosso.
Lira e suas artimanhas parece um ser de outro planeta, mas ele existe e foi eleito. Lula com sua articulação de sábio político, apesar de todos os problemas, dá ao mesmo tempo certeza e aflição. Vai dar certo? Vai ser engolido? Vai conseguir. Lula tem uma habilidade monstruosa. Sabe o que faz ,mas também sabemos que pode errar, que pode ter envelhecido, que pode ter mudado de opinião. Não sabemos o quanto da sua vida pessoal tem influenciado no governo. Continua sendo um brasileiro ou assumiu seu passaporte de líder planetário?
São dúvidas que aqui de longe ficam mais evidentes.
Sofremos ao assistir sem respirar o ar todas as cenas dessa artimanha sem nome. O governo é um e é o somatório de todos os votos que Lula teve e o congresso é outro, também eleito, mas muito mais vulnerável aos ventos que sopravam à época das eleições. É u congresso sem personalidade, fisiológico e capaz de qualquer coisa. Não está preocupado em construir um país, me passa essa impressão.
Lula vai ter que ser de circo para contornar todos os problemas que vão surgir. Ao mesmo tempo muita coisa existe para ser feita e acho que Lula sabe quais as prioridades. Temos a aflição de querer ver tudo se resolver rapidamente, mas a democracia. De agora, diferente da de antes, é lenta, se submete a todas as possibilidades de revisões e recursos. Precisamos ter calma sem perder a vigilância jamais.
Fico particularmente angustiado daqui de longe, mas ao mesmo tempo vejo com mais clareza, acho eu. O calor da luta é fundamental, mas o distanciamento uma arma indispensável.
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