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Mauro Passos

Engenheiro, ex-deputado federal pelo PT/SC, e presidente do Instituto Ideal

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O BRICS nasceu com o DNA brasileiro

O BRICS não é um bloco político, nem uma aliança comercial, como seus oponentes querem rotular

Cúpula do BRICS 22/8/23 (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Das inúmeras imagens que nos chegam, nem todas se consegue checar sua veracidade. O registro fotográfico dos líderes do BRICS na reunião da África do Sul, em 23/8, atribuído a Reuters, até pode ter sido uma montagem: mas é simbólico. Líderes de alguns dos principais países do mundo, literalmente, se soltaram. De repente abriram mão do formalismo e passaram a ensaiar "passinhos de dança". Numa inesperada e bem humorada coreografia lúdica, jamais vista nesse tipo de encontro. Se a foto for verdadeira, melhor ainda: quebraram o protocolo e externaram a felicidade. Afinal, tinham concluído de forma surpreendente o encontro mais significativo do banco até agora. Em harmonia, sem discussões intermináveis, aprovaram mudanças que irão mudar a economia mundial.

O BRICS não é um bloco político, nem uma aliança comercial, como seus oponentes querem rotular. Desde a sua criação o grupo negocia tratados de comércio e cooperação com o objetivo de aumentar o crescimento econômico dos países membros. A bem sucedida abertura à novos países e a desvinculação do dólar como moeda reguladora do comércio externo entre os países do BRICS, deixou os EUA e a União Europeia sem chão. De um sonho que Lula e Dilma se empenharam em tornar realidade, o BRICS saí desse encontro fortalecido pelo imenso potencial que o banco passou a ter.

Diante do inusitado, logo vieram as reações. Nada que não fosse esperado, até porque por décadas o dólar sempre foi a moeda circulante nas relações comerciais do mundo. O impacto da decisão tomada pelo BRICS envolve um mercado que representa metade do que se negocia no planeta. Algo impensável, que vinha sendo repetido pelo presidente Lula nos inúmeros fóruns e encontros que participou. Muitos sabiam das suas movimentações e seu objetivo, mas poucos acreditavam que o acordo se daria em tão pouco tempo. Lula não chegou no seu terceiro mandato, por nada. Se alimenta, respira e se renova através da política. Sua aguçada percepção e visão de mundo, fez dele uma das principais lideranças políticas da atualidade.

Para especialistas no tema, as consequências da última reunião do BRICS sacodiram a geopolítica global. Quem conhece bem o assunto, por ter feito parte da primeira diretoria do banco, o economista Paulo Nogueira Batista Jr., que participou do encontro na África do Sul, nos seus meios de comunicação fez um balanço sobre o que vem por aí. As reações dos EUA e União Europeia devem crescer, mas no devido tempo vão se acomodar. Muitos interesses estão em jogo e o comércio exterior é atenção e estratégia. Não é para amador, é um jogo de xadrez. As peças se movimentam em busca de um melhor posicionamento.

Pelos estudos e projeções divulgadas, as duas maiores economias até o fim do século, pela ordem, serão: a Índia e a China. Por coincidência, dois países que sempre estiveram ao lado do Brasil no apoio ao BRICS. Basta observar a paciência que tiveram para esperar a volta do nosso protagonismo na América Latina. Com o fim do isolamento, que o governo passado nos impôs, o Brasil volta a ter o seu papel de um país integrador, acolhedor e desenvolvimentista.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.