O choro pode durar uma noite, mas a Polícia Federal vem pela manhã
Não temas, Bolsonaro! Deus estará no controle da cadeia onde você cumprirá pena pelos seus crimes
“A galinha chorou, chorou de felicidade”, diz o verso de um samba composto por Marquinho Diniz e Rosania Alves, que foi gravado por Zeca Pagodinho e anunciava a chegada do “Carro do Ovo” na comunidade. Ao contrário da galinha, Jair Bolsonaro não faz “cocorocócó”, mas também chorou, não pelo mesmo motivo da ave, durante um culto evangélico ministrado por pastora Michelle, sua esposa, e assistido por dezenas de gados tristes com a situação na qual o rei do rebanho se encontra. Se no samba a galinha chora de felicidade por estar alimentando a população mais pobre com a iguaria mais acessível à sua condição econômica, Bolsonaro chora por não ter conseguido dar um golpe que faria com que a mesma população mais pobre chorasse sem poder comprar sequer ovo para comer. Os preços dos alimentos durante sua gestão não me deixam mentir.
Conhecido por sua falta de empatia e sensibilidade, principalmente, no período da pandemia de Covid 19, onde ele, além de ter atrasado deliberadamente a compra das vacinas que poderiam ter salvo muitas vidas, ainda zombou das vidas dos milhares que se perderam. Ainda ecoa em meus ouvidos aquele “e daí?” indiferente com a dor das pessoas, e o mórbido “não sou coveiro”, ironizando os sepultamentos que àquela altura eram feitos aos montes e sem poder contar com a presença dos familiares dos mortos devido às restrições impostas pelos órgãos de saúde. A monstruosidade do então presidente da república era tanta, que ele estimulava as pessoas a não respeitarem o isolamento social determinado pela OMS, dando o exemplo de tudo o que não deveria ser feito diante da gravidade da situação.
Bolsonaro promoveu aglomerações, se recusou a usar máscara, organizou motociatas, passeou de jet ski, e quando era questionado a respeito da sua conduta irresponsável, mandava o país deixar de ser um lugar de “maricas” e dizia que todo mundo iria morrer um dia. Uma ode a tudo de ruim que o caráter de um ser humano possa abrigar. Pois então, Bolsonaro, chegou a hora de ignorarmos as suas lágrimas de crocodilo e rir da sua cara de cedro lustrada à óleo de fígado de bacalhau, que está sendo exibida como a face de um homem que está sofrendo por uma injustiça e por uma perseguição política. O descaramento do homem que tentou dar um golpe no país é tão grande, que ele tem a pachorra de ir chorar na igreja sob a lente de uma câmera estrategicamente posicionada para captar mais uma cena que ilustra o mau caratismo que lhe preenche a essência.
O choro é livre, mas o seu tornozelo não. Ele está adornado por uma tornozeleira que rastreia os seus passos e permite que a justiça saiba exatamente onde você está. Em breve, o seu corpo inteiro estará na mesma situação, abrigado numa cela fria onde o filho chora e a mãe não vê. Se fosse uma galinha, Bolsonaro teria um coração mais palatável e menos odioso. Mas ele é um crocodilo que verte lágrimas fingidas enquanto prepara mais um bote. Usar a igreja e o nome de Deus para encobrir os seus pecados, é uma estratégia mais antiga do que andar para frente, mas que ainda funciona e seduz muitos incautos. A “pregação” de Michelle para o marido é só um capítulo do inferno que o bolsonarismo irá instaurar no país até as eleições de 2026. A ex-primeira dama já foi escalada para falar em nome de Deus, digo, de Bolsonaro, e convencer os “crentes” de que a guerra contra o mal é uma missão recebida dos céus.
Em sua fala, Michelle se referiu às pessoas presentes na igreja como “santos” escolhidos por Deus para proteger a nação. Se estes são os santos, é bom que não saibamos quem são os demônios. Nesse lamento fascista, ainda veremos Bolsonaro chorar em público mais vezes como estratégia de comoção. Michelle diz a ele que não se preocupe, porque Deus está no controle da situação e lhe dará a vitória, ignorando que o caso está nas mãos de Alexandre de Moraes e a prisão de seu marido é uma questão de tempo. Talvez fosse mais profético Michelle ter dito que Deus estará no controle da cadeia onde Bolsonaro cumprirá pena pelos crimes cometidos por ele. Afinal, Deus está em todo lugar. O certo é que Bolsonaro pode descansar e não duvidar. Porque o choro pode durar uma noite, mas a Polícia Federal vem pela manhã. A galinha e o povo vão chorar de felicidade.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.



