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Geraldo Muniz

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O clone de João Doria naufraga no ABC

Se separarmos a espuma do estilo midiático do prefeito, de sua simbiose com o ídolo João Dória, veremos que de sólido nada ainda foi demonstrado em seu governo. Em seis meses, quase nada. Conflitos, intrigas, anúncios de intenções. De firme e factual, pouco ou nada. Anotem o nome: Orlando Morando. Iremos ainda ouvir falar muito dele

Se separarmos a espuma do estilo midiático do prefeito, de sua simbiose com o ídolo João Dória, veremos que de sólido nada ainda foi demonstrado em seu governo. Em seis meses, quase nada. Conflitos, intrigas, anúncios de intenções. De firme e factual, pouco ou nada. Anotem o nome: Orlando Morando. Iremos ainda ouvir falar muito dele (Foto: Geraldo Muniz)
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A sofreguidão com que o prefeito de São Bernardo do Campo, o tucano Orlando Morando, busca a notoriedade e abusa da propaganda, não só já despertou a atenção do Palácio dos Bandeirantes como vem sendo considerada, talvez, o ponto mais negativo de sua controvertida gestão.

No círculo mais íntimo do governador Geraldo Alckmin ele é visto como um oportunista e ingênuo que já se apresenta como pré-candidato ao governo paulista apenas cinco meses após tomar posse como prefeito, e o vice-governador Márcio França (PSB), que assumirá o governo do Estado e é declarado candidato ao Bandeirantes, já o teria marcado como um alvo preferencial a ser abatido dentro em breve.

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Empresário bem-sucedido da área dos supermercados, com passagens polêmicas pela Câmara Municipal de São Bernardo do Campo e Assembléia Legislativa de São Paulo, Morando não é o que se possa chamar de um político moderado ou cuidadoso.  Sua atuação parlamentar sempre se pautou por confrontos cheios de suspeitas, denúncias feitas e logo não confirmadas e uma produção permanente de adversários figadais e inimigos jurados.

Não é segredo para o mundo político que Morando manteve como parlamentar uma linha muito semelhante à de Eduardo Cunha, hoje trancafiado numa penitenciária na periferia de Curitiba: fazia denúncias, incentivava a formação das temidas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI´s), geravam um ambiente de terror e espetacularização que atendiam, certamente, a inconfessáveis interesses. Um deputado estadual do PTB, colega de Morando em três dos seus quatro mandatos na Assembléia paulista, é taxativo: “Orlandinho é um sujeito muito rápido, sempre visando algum ganho. Faz política pensando como comerciante, tudo é negócio. É tão esperto que um dia a esperteza vai virar bicho e comer o dono”.

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Esse é um capítulo algo obscuro, mas muito comentado na biografia do belicoso prefeito tucano de uma das mais ricas cidades do país: vender dificuldades para extrair facilidades. Por mais de uma vez ele se viu confrontado com acusações desse tipo, mas fiel ao seu estilo, seguiu adiante em uma prática política temerária e que pode ser considerada como típica dos que se movimentam no fio-da-navalha, fazendo da vida pública uma atividade-meio para fins bastante pessoais.

Depois de dois mandatos do ex-ministro Luiz Marinho no Paço Municipal de São Bernardo, o ciclo petista parecia estar acabado. E estava mesmo. Marinho é, sabidamente, um bom administrador e realizou uma gestão acima do razoável, mas tem o carisma de um orelhão da telefônica. E o candidato petista à sua sucessão, Tarcísio Secóli, em momento algum empolgou a militância partidária ou a população altamente politizada da maior cidade do rico ABC paulista. Nesse desvão, coube a Morando enfrentar um jovem e promissor adversário, o deputado federal Alex Manente (PPS), que acabou por leva-lo ao segundo turno, vencido pelo tucano com alguma facilidade.

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Morando colou sua imagem na de João Dória, que subiu em seus palanques e pediu votos para ele. Morando apresentou-se como “o João Dória de São Bernardo”, fez propaganda onde os dois apareciam juntos, e ninguém tem dúvidas de que o segundo turno foi decidido em seu favor - além da maciça injeção de recursos - pela presença forte de Dória, embalado por sua surpreendente e emblemática vitória já no primeiro turno na capital paulistana.

A campanha de Morando foi milionária, bem-fornida, com uma organização impecável e fartura de material, carros e cabos-eleitorais. Os observadores da cena política local calculam a azeitada máquina em coisa de milhões.

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O novo prefeito de São Bernardo transformou-se em uma xerox do seu amigo João Dória. Chegou ao apuro de copiar o estilo de se vestir e o pentear dos cabelos, provocando risos e piadas entre o meio político e nas redes sociais. Beirou o ridículo, mas, ao que parece, sem qualquer preocupação com o fato e suas repercussões. Esse é o “estilo Orlando Morando”: as opiniões alheias não lhe causam a menor comoção.

O apelo para uma gestão midiática, sem profundidade ou projetos exequíveis e necessários, num Município que se defronta com uma situação singular que vai da riqueza mais opulenta de seu cinturão industrial à pobreza extrema em sua periferia, foi imediato. Nada é feito que não seja para a promoção pessoal de Morando, com uma profusão de anúncios que trazem em sí a própria falsidade: “Estamos economizando R$ 1 milhão ao dia”. Ninguém sabe em quê, sabe como, ou a forma como se operou esse milagre contábil digno de um Prêmio Nobel de Economia.

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Pois o muito provável embuste tem sido anunciado em milionária campanha publicitária veiculada em horário nobre na Rede Globo, onde se consome o dinheiro que, inclusive, sequer tenha sido verdadeiramente economizado... Após os primeiros 100 dias de gestão, anunciou-se com pompa e circunstância que R$ 100 milhões haviam sido economizados nos contratos da prefeitura. Onde está esse dinheiro, onde se deu tal economia, como ela foi registrada na contabilidade oficial – são as indagações que Orlando Morando e sua equipe não conseguem responder. À primeira vista, um engenhoso artificio de marketing. Mas, em verdade, um expediente perigoso que configura crime de responsabilidade e pode causar a cassação de seu mandato, se comprovada a mentira.

Menos de um mês após tomar posse, Morando já enfrentava duras criticas nas redes sociais e em sites independentes de São Bernardo e da região do ABC. A fantasia e o marketing enfrentavam, enfim, a dura realidade. Questões palpáveis e presentes no cotidiano da população se tornavam visíveis através de cidadãos em seus perfis do Facebook e contas do Tweeter e Instagram, furando o bloqueio da mídia corporativa alinhada com o prefeito tucano.

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As principais críticas que atormentam os sonhos de poder e o projeto político do ambicioso Orlando Morando são referentes à mobilidade urbana numa cidade com ruas e avenidas em petição de miséria, limpeza da cidade, à questão dos uniformes escolares não distribuídos, sobre a incrível “indústria das multas” criada pelo prefeito e implementada de forma furiosa pela Guarda Civil Metropolitana (GCM), além de temas muito presentes na vida de São Bernardo, como o monotrilho paralisado, uma crise na saúde pública deficiente, o clima de insegurança e o desemprego que atinge elevados índices na região do ABC. São problemas semelhantes e não estranhos à centenas de outras grandes e médias cidades de todas as regiões do Brasil, não estivessem em São Bernardo do Campo, um dos Municípios mais ricos e desenvolvidos do país, com uma arrecadação bilionária e berço de algumas das maiores indústrias nacionais e multinacionais.

Além disso, Morando fez uma campanha triunfalista, típica de um “gestor” (como ele se apresentava, copiando seu ídolo João Dória), com solução imediata para tudo, todos os problemas e dramas da cidade, após os oito anos do governo do petista Luiz Marinho, detentor de índices mais que razoáveis de aprovação, mas com o desgaste típico dos governos eleitos e reeleitos.

O triunfo do tucano em São Bernardo do Campo, onde o hoje desmoralizado Aécio Neves já havia massacrado Dilma Rousseff em 2014, obtendo votação gigantesca, trouxe um gosto amargo para o PT e para seus demais adversários. Em verdade, foi uma vitória histórica, robusta, fruto de seu empenho pessoal, de uma já longa vida política, iniciada com um mandato de vereador, quatro mandatos na Assembléia Legislativa de São Paulo, embora ele insista em se apresentar como “o novo” ou “um gestor”. Nem uma coisa, nem outra.

Hoje a administração de Morando acumula problemas e conflitos. A questão da limpeza pública é, talvez, uma das facetas mais desagradáveis de seu estilo tormentoso de administrar São Bernardo do Campo. A prefeitura não paga o consórcio SBC, integrado por empresas que realizam a coleta de resíduos e o trabalho de limpeza pública na cidade. E uma disputa judicial se estabeleceu nos tribunais, onde o contrato existente entre o Município e a SBC dará a tônica do que o impetuoso prefeito tucano pode ou não pode fazer. Advogados contratualistas ouvidos por nós, ao analisarem a PPP que regula a coleta e processamento de resíduos, além de todos os trabalhos inerentes à limpeza pública em São Bernardo do Campo, foram unânimes em reconhecer que mesmo não honrando compromissos, estabelecendo um clima de litígio com o prestador de serviços, o contratante (no caso, o Município) mais cedo que tarde irá arcar com pesadas multas e diversos ônus pela quebra do contrato. “Não estamos mais vivendo naquele país de outrora, onde um administrador público resolvia a ser bel prazer não honrar um contrato e não pagar o contratado. Agora a coisa é diferente: tem que honrar e pagar com multa e juros. Esse caso de São Bernardo é emblemático e até posso vaticinar o seu final com um imenso prejuízo para o Município”, diz um advogado especializado em contratos do respeitado escritório do professor Marcos César Klouri, um dos mais requisitados de São Paulo nas questões de Parceria Público Privada. “Podem fazer o que quiserem agora, mas lá na frente pagam o prejuízo de quem foi esbulhado. E pagam com juros e correção. O Brasil mudou, embora alguns políticos não estejam conseguindo ver isso ainda”, conclui.

Entre os empresários, as associações de classe, comercial e sindicatos de São Bernardo, a disposição de Morando em não honrar contratos, especialmente uma PPP, caiu como verdadeira bomba: “Quem vai querer investir numa cidade onde existe insegurança jurídica? Quem vai ser o idiota que colocará um centavo sem um mínimo de segurança?”, pergunta Dorgival Neto, comerciante a mais de 20 anos no centro de São Bernardo do Campo.

Outra fratura exposta do acidentado começo do gestor Morando, o João Dória do ABC, foi a distribuição de uniformes escolares. Município riquíssimo, São Bernardo nunca economizou na distribuição de bons fardamentos escolares, além de material de consumo para os alunos da rede pública municipal (lápis, canetas, borracha, cadernos, livros, mochilas, material de consumo, além do uniforme constante de várias peças e pares de tênis de boa qualidade).

Com Morando, os alunos da rede municipal iniciaram o ano letivo sem o material pela primeira vez na história. A desculpa foi a “carência de recursos herdada da gestão anterior”, o que não teve boa acolhida junto à opinião pública e causou compreensível revolta entre estudantes e suas famílias, que se manifestaram nas redes sociais de forma vigorosa contra o prefeito. A fria mentalidade gerencial de Morando, dono de uma rede de supermercados além de um temperamento impetuoso e frio, não permitiu a ele ver que estava entrando em milhares de casas das famílias mais simples de sua cidade. E entrando de forma atabalhoada e negativa. À boca pequena, a pequeníssima oposição ao governo de Morando (onde não se contabiliza um PT omisso e silente, por sinal), o que se comenta não é nada edificante: “o prefeito está fazendo em alguns contratos, como o do lixo e o dos uniformes escolares, algo muito claro, mas temeroso. Não paga, leva para uma disputa judicial, quebra o prestador de serviço, até poder contratar outro de sua preferência, alguma empresa que o ajudou na campanha ou com a qual vai fazer algum acerto nada republicano”, dispara um dos poucos vereadores que lhe faz oposição.

Aí está um fato tão grave quanto o dos quase 90 mil estudantes sem uniformes e material escolar. O caso do lixo é algo que poderá causar os maiores problemas para a gestão do “João Dória do ABC”. Fiel ao seu estilo audacioso, Orlando Morando confunde a administração de uma das maiores concentrações urbanas do país, uma centro econômico, industrial e financeiro da maior importância, com suas peripécias como deputado estadual que engatilhava CPI`s sempre bem-vindas e lucrativas. Em verdade, o pretenso clone de João Dória está acionando a espoleta de poderosa bomba-relógio.

Dois episódios dão mostras inequívocas do estilo de Orlando Morando e a grande possibilidade de que ele ainda pague um preço alto pelo misto de arrogância e impetuosidade que o orientam.

O primeiro é a forma como vem tratando seu vice-prefeito, Marcelo Lima. Um quadro jovem da política local, cujo papel teria sido absolutamente fundamental para sua eleição. Além de marginalizado e sub-aproveitado por Morando, Marcelo estaria recolhendo demonstrações de desapreço que não tem passado em branco junto aos partidos da base aliada do prefeito. Um fato ilustra a difícil convivência que já se prenuncia: Morando, num gesto de desprezo e profunda descortesia, recebeu seu vice na garagem de sua casa.

O blog do Baena, com grande penetração no ABC e credibilidade, relata ameaças de Orlando Morando aos funcionários comissionados em cargos de confiança. Uma gravação, disponível no link acima, mostra um irado Morando esbravejando e exigindo a presença de todos os funcionários em suas atividades, certamente para servir de claque, dá uma amostra grátis do “João Dória do ABC”, o empresário supermercadista que quer ser governador de São Paulo, que não respeita contratos, que se aproxima de empresas sabidamente envolvidas em escândalos de corrupção.

Se separarmos a espuma do estilo midiático do prefeito, de sua simbiose com o ídolo João Dória, veremos que de sólido nada ainda foi demonstrado em seu governo. Em seis meses, quase nada. Conflitos, intrigas, anúncios de intenções. De firme e factual, pouco ou nada.

Anotem o nome: Orlando Morando. Iremos ainda ouvir falar muito dele.

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