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Urariano Mota

Autor de “Soledad no Recife”, recriação dos últimos dias de Soledad Barrett, mulher do Cabo Anselmo, entregue pelo traidor à ditadura. Escreveu ainda “O filho renegado de Deus”, Prêmio Guavira de Literatura 2014, e “A mais longa duração da juventude”, romance da geração rebelde do Brasil

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O conto infantil segundo Bolsonaro

Brasil acima de tudo. Deus acima de todos. Tá oquei?

Jair Bolsonaro (Foto: Isac Nóbrega/PR)
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Neste começo de 2020, o breve tuitou:

“Você lembra como eram os livros p/ nossos filhos em governosanteriores? Carregados de ideologias, ofendiam as famílias, atentavam contra a inocência das crianças. Isso mudou. Estamos ensinando o correto, aquilo que os pais sempre desejaram para seus filhos” (Jair M. Bolsnaro)

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Contam que depois desse tuíte, Jair M. continuou neste primor de interpretação literária:  

Olhem só o despropósito, o absurdo que era a literatura infantil nos governos que chamam de democracia. Tinha um tinhoso, um tal de Hans Christian Andersen, um cara terrivelmente gay. E olhem só esta aberração que ele dava, ele dava, entenderam?, que ele dava o nome de O Soldadinho de Chumbo. O degenerado começava assim:

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“Numa loja de brinquedos havia uma caixa de papelão com vinte e cincosoldadinhos de chumbo, todos iguaizinhos, pois haviam sido feitos com o mesmo molde”.

Vocês já viram, o recado era pra desmoralizar as nossas forças armadas.Assim, como quem não quer dizer nada. O pervertido insinua que nossos soldados são todos iguais como bonequinhos, de um mesmo molde, do Oiapoque ao Chuí. E continua o depravado:

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“Apenas um deles era perneta: como fora o último a ser fundido, faltouchumbo para completar a outra perna”.

O que é isso? Ele queria dizer que faltou bala, que faltou chumbo emnossos quartéis? Os comunistas sempre usaram bem isso. E continua o degenerado:

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“Mas o soldadinho perneta logo aprendeu a ficar em pé sobre a única pernae não fazia feio ao lado do seu batalhão”.

Olhem só, isto é um estímulo à indisciplina militar. Nós jamais poderíamosadmitir um soldado de uma perna só. E prestando continência! Imaginem o deboche que era um soldado levantar o braço e cair numa perna. Mas vamos adiante. Depois de umas enroladas, o indivíduo cravava:

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“Havia uma bonequinha da maior beleza, porém, era uma jovem que estavaem pé na porta do castelo. Ela também era de papel, mas vestia uma saia de tule bem franzida e uma blusa bem justa. Seu lindo rostinho era emoldurado por longos cabelos negros, presos por uma tiara enfeitada com uma pequenina pedra azul. A atraente jovem era uma bailarina, por isso mantinha os braços erguidos em arco sobre a cabeça. Com uma das pernas dobrada para trás”.

Sabem o que é isso? É sexo na infância. Olha, não demora muito e elespõem na cabeça de nossas crianças que o soldadinho vai foder a bailarina! Está claro, só não vê quem não quer: a bailarina tem uma perna levantada, opa!, aí o cara disfarça dizendo que a perna está dobrada para trás. Para trás, vocês ouviram bem? E o que é que tem atrás da bailarina?!, É ou não é a bundinha se oferecendo? Ele nem esconde as intenções maldosas do soldadinho excitado:

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“O soldadinho a olhou longamente e logo se apaixonou, e pensando que, talcomo ele, aquela jovem tão linda tivesse uma perna só. “Mas é claro que ela não vai me querer para marido”, pensou entristecido o soldadinho, suspirando. ‘Tão elegante, tão bonita…’”.

Acharam pouco? Olhem só. Logo, logo, na hora das crianças dormirem,esse pedófilo do Andersen mostra que a hora é de bagunça. Aí está o verdadeiro bacanal:

“Quando os ponteiros do relógio marcaram meia-noite, todos os brinquedosse animaram e começaram a aprontar mil e uma. Uma enorme bagunça! As bonecas organizaram um baile, enquanto o giz da lousa desenhava bonequinhos nas paredes. Os soldadinhos de chumbo, fechados na caixa, golpeavam a tampa para sair e participar da festa, mas continuavam prisioneiros. Mas o soldadinho de uma perna só e a bailarina não saíram do lugar em que haviam sido colocados”.

Pois é exatamente aí que começa a safadeza:

“O soldadinho não conseguia parar de olhar aquela maravilhosa criatura.Queria ao menos tentar conhecê-la, para ficarem amigos”.

Amigos?! Sei, aí tem. Então, enrolada vai, enrolada vem, o maquiavélicovolta com uma paixão imoral, anticristã:

“E, na porta do castelo, lá estava ela, a bailarina: sobre uma perna só”.

Mas está claro, só não vê quem não quer, a bicha do autor deixa por baixo afrase: a bailarina está nua! Sim, nua! Isso é insinuado. Ela está “nua com os braços erguidos acima da cabeça, mais bela do que nunca. O soldadinho olhou para a bailarina, ainda mais apaixonado, ela olhou para ele, mas não trocaram palavra alguma. Ele desejava conversar”.

Conversar, sei! Mas agora é que a pornografia infantil fica maisinteressante:

“De repente como foi, como não foi, o garotinho agarrou o soldadinho dechumbo e atirou-o na lareira, onde o fogo ardia intensamente. O pobre soldadinho viu a luz intensa e sentiu um forte calor. A única perna estava amolecendo e a ponta do fuzil envergava para o lado. As belas cores do uniforme, o vermelho escarlate da túnica e o azul da calça perdiam suas tonalidades”.

Sim, bacana, não é? O soldadinho queimando, sei. Ele está mesmo équeimando é de paixão criminosa. E continua a descrição sem qualquer pudor:

“O soldadinho lançou um último olhar para a bailarina, que retribuiu comsilêncio e tristeza. Ele sentiu então que seu coração de chumbo começava a derreter — não só pelo calor, mas principalmente pelo amor que ardia nele. Naquele momento, a porta escancarou-se com violência, e uma rajada de vento fez voar a bailarina de papel diretamente para a lareira, bem junto ao soldadinho. Bastou uma labareda e ela desapareceu. O soldadinho também se dissolveu completamente”

Minha gente, isso é foda na metáfora. O soldadinho e a bailarinaqueimaram, mas foi no fogo da paixão. De tara. Estão entendendo? É preciso saber o que essas mentes que só pensam em sexo fazem. É assim que eles desencaminham a infância brasileira:

“No dia seguinte. a arrumadeira, ao limpar a lareira, encontrou no meio dascinzas um pequenino coração de chumbo: era tudo que restara do soldadinho, fiel até o último instante ao seu grande amor. Da pequena bailarina de papel só restou a minúscula pedra azul da tiara, que antes brilhava em seus longos cabelos negros”.

Em resumo: essa é uma historinha não dá nem para repetir, porque acende umas ideias estranhas na gente. Até eu, adulto, fico meio teso. De uma vez por todas: uma desgraça dessas tem que estar fora de nossas bibliotecas. Corta esse tarado ligeiro de nossas crianças. No Brasil novo, esse degenerado Andersen não tem vez. Corta! E fim de papo. Vão reclamar lá pro papa, que é chegado. Comigo, não.

Brasil acima de tudo. Deus acima de todos. Tá oquei?

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