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Cássio Vilela Prado

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O coração de Camus e a infecção tupiniquim

Tudo indica que esses sintomas e sinais imanentes a grupos enfermos, tornaram-se uma patologia da alma Brasil, não obstante que se restrinja a quem assim deseje permanecer ao que parece até aqui, lamentavelmente; perversos, sociopatas e capitalistas não possuem o coração de Camus

imagem forca (Foto: Cássio Vilela Prado)
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O grande problema gerado pelos sintomas e sinais da ignorância, do ódio e das condutas suicidas é quando isso se dirige não apenas aos seus portadores, mas a partir do momento em que atinge o Outro, o diferente e à sociedade em geral.

Com o advento do menu euro-americano classificatório de transtornos mentais ICD (International Statistical Classification of Diseases and Related Health Problems) ou aportuguesado por CID (Classificação Internacional de Doenças – F00-99). Viu-se a liquefação da semiologia psiquiátrica clássica, dissolvida em sinais e sintomas genéricos agrupados.

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Neste menu ficcional, assistimos dentro da subclassificação F60 (Transtorno de Personalidade) a um quadro psicopatológico disseminado em toda a aura epitelial subjetiva, afetando toda a cadeia semiótica brasileira, salvo àqueles que se vacinaram preventivamente nas trilhas éticas da árdua, mas com uma possível convivência com a diferença, principalmente durante a gestação viro-bacteriana de um Golpe paraguaio culminado no ano de 2016 e que ainda anda a galope...

Tais sintomas descritos acima, contudo, não devem ser classificados como doenças endógenas em si mesmas, pois não pertencem ao campo etiológico fundamentado no corpo neurobiológico enquanto disfunções neurocerebrais como alucinam ou deliram os neurocientistas capitais – enxergam supostas deformações neuropatológicas e as interpretam como psicogênese dos sintomas e sinais mencionados –, haja vista que a ignorância, o ódio e as condutas suicidas sequer são doenças – embora possam se tornar patologias –, simplesmente são sintomas e sinais de disfunções mentais erigidas a partir da relação intersubjetiva de seus portadores com o Outro familiar (eminentemente na nostálgica tríade sujeito-mãe-pai), atualizando-se na relação com o Outro social e político.

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É inegável que o grande Outro capitalista, soberbo mestre discursivo achacador, tem a função inequívoca de manter os sujeitos singulares no curto-circuito irreparável da relação mercantil, amotinando-os negativamente e amordaçando-os na infindável ciranda violenta do consumo frenético em busca da sensação de completude via aquisição ilusória do objeto a (objeto causa do desejo)Jacques Lacan (1901-1981) –  travestido em objetos-fetiches a devorar à la Saturno de Goya, transformando assim os sujeitos do desejo em meros sujeitos-assujeitados ao desejo do Outro (discurso do capitalista), portanto sujeitos coisas-fetiches.

Embora essa posição subjetiva dos sujeitos-assujeitados contaminados contaminem todo o tecido social, através do tamponamento do desejo singular em detrimento da regurgitação discursiva da coisa capitalista, operada goela abaixo desses sujeitos cerceados, não se é ético nem desejável a postura discursiva capitalista operante tampouco a radiação virótica da “pulsão de morte” suicida odienta da ignorância sobrevinda daí, ou seja, o suicídio individual não deveria infectar o coletivo, pois trata-se, fundamentalmente, de um pertencimento afeto ao “coração individual” de cada um afetado.

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Conforme o filósofo e escritor Albert Camus (1913-1960):

“Só há um problema filosófico verdadeiramente sério: é o suicídio (...) O suicídio nunca foi tratado senão como fenômeno social. Aqui, pelo contrário, para começar, importa-nos a relação entre o pensamento individual e o suicídio. Um gesto como este prepara-se, tal como acontece com uma grande obra, no silêncio do coração. O próprio homem o ignora. Uma bela noite, dá um tiro ou atira-se à água. De um gerente de prédios de rendimentos que se matara, diziam-se certo dia que ele perdera a filha havia cinco anos, que mudara muito, desde então, desde então e que essa história ‘o havia consumido’. Não se pode desejar palavra mais exata. Começar a pensar é começar a ser consumido. A sociedade não tem grande coisa a ver com estes princípios. O veneno está no coração do homem. É aí que ele deve ser procurado”[1].

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Nessa via camoniana, se se tratam o ódio, a ignorância e o comportamento suicida como uma consequência de um processo mental engendrado na relação do sujeito singular com o Outro, seria, portanto, nesse “locus subjetivo” que a sintomatologia deveria ser tratada (no “coração do homem assujeitado”) assim como no “coração do homem operador capitalista” – sujeito discursivo.

Desta forma, torna-se egóico, bestial e perverso querer contaminar toda uma Pátria.

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Cada qual que cuide de seus sintomas, sinais e fantasias que lhes são próprios. Que se suicide sozinho aquele que assim o desejar, após as suas reflexões inerentes e as suas condutas subsequentes. O diferente de ti é diferente de ti, portanto não é ti, não o envolva nas trevas.

Tudo indica que esses sintomas e sinais imanentes a grupos enfermos, tornaram-se uma patologia da alma Brasil, não obstante que se restrinja a quem assim deseje permanecer.

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Ao que parece até aqui, lamentavelmente; perversos, sociopatas e capitalistas não possuem o coração vermelho de Camus, mas tão somente uma cardiopatia verde-amarela.

Imagem: Tela de Rembrandt – “A conspiração de claudius”



[1] CAMUS, Albert – “Mito de Sísifo – Ensaio sobre o Absurdo” – texto publicado na folha de São Paulo, sexta-feira, 21 de outubro de 1977 – almanaque.folha.uol.com.br/filosofiacamus.htm

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