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Marcelo Zero

É sociólogo, especialista em Relações Internacionais e assessor da liderança do PT no Senado

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O “Corolário Trump” à Doutrina Monroe

Com Trump, e sob os parâmetros geopolíticos na nova Guerra Fria, a doutrina ressurge com força e através da força

O presidente dos EUA, Donald Trump - 03/12/2025 (Foto: REUTERS/Brian Snyder)

A chamada Doutrina Monroe completou 202 anos, no último dia 2 de dezembro.

Nessa data, Trump emitiu uma Mensagem Presidencial comemorativa, a qual passou relativamente despercebida.

Não deveria.

A mensagem é assustadora.

Nela, lê-se o seguinte:

Em 2 de dezembro de 1823, a doutrina da soberania americana foi imortalizada em prosa quando o presidente James Monroe declarou perante a nação uma verdade simples que ecoou ao longo dos séculos: Os Estados Unidos jamais vacilarão na defesa de nossa pátria, de nossos interesses ou do bem-estar de nossos cidadãos. Hoje, meu governo reafirma com orgulho essa promessa sob um novo “Corolário Trump” à Doutrina Monroe: Que o povo americano — e não nações estrangeiras nem instituições globalistas — sempre controlará seu próprio destino em nosso hemisfério.

Assim, o “Corolário Trump” deixa claro que o continente americano “pertence” aos EUA e que nenhuma “nação estrangeira” ou “instituição globalista” podem exercer quaisquer influências nesse território ou “quintal”.

Trata-se de um recado claro a países como China e Rússia, e mesmo a respeitáveis instituições multilaterais, como a própria ONU e suas agências especializadas: “aqui mandamos nós”. 

E aqui podemos atuar livremente, de acordo com nossos interesses, sem respeitar regras e acordos ou quaisquer limites impostos pelo direito internacional público. 

Mais adiante, a mensagem de Trump afirma que:

Nos séculos que se seguiram, a doutrina da soberania do Presidente Monroe protegeu os continentes americanos contra o comunismo, o fascismo e a interferência estrangeira, e como o 47º Presidente dos Estados Unidos, reafirmo com orgulho essa política consagrada pelo tempo. Desde que assumi o cargo, tenho buscado agressivamente uma política de "América Primeiro", de paz através da força. Restauramos o acesso privilegiado dos EUA no Canal do Panamá. Estamos restabelecendo a supremacia marítima americana. Estamos combatendo práticas antimercantis nos setores de logística e cadeia de suprimentos internacionais

Dessa forma, o uso da força, do Big Stick, é o único fundamento, bárbaro e cru, da Doutrina Monroe, sob o “Corolário Trump”.

Trump afirma, com evidente orgulho:

Minha administração também está interrompendo o fluxo de drogas mortais que atravessam o México, pondo fim à invasão de imigrantes ilegais em nossa fronteira sul e desmantelando redes narcoterroristas em todo o Hemisfério Ocidental. Para defender os trabalhadores e as indústrias de nossa nação, recentemente assegurei acordos comerciais históricos com El Salvador, Argentina, Equador e Guatemala, permitindo um acesso ao mercado maior e mais ágil. Revigorada pelo meu Corolário Trump, a Doutrina Monroe está viva e forte — e a liderança americana está retornando com mais força do que nunca.

Em seu início, a Doutrina Monroe tinha uma dimensão anticolonial. Havia uma preocupação de proteger as recentes repúblicas americanas independentes contra possíveis agressões das grandes potências europeias.

Com o tempo, contudo, especialmente a partir de William McKinley e Theodore Roosevelt, a Doutrina Monroe tornou-se um claro instrumento de domínio imperial os EUA.

Com Trump, e sob os parâmetros geopolíticos na nova Guerra Fria, essa doutrina ressurge com força e através da força.

O Corolário Trump à Doutrina Monroe é simples e assustador: submetam-se ou sofram as consequências.

O Imperador está nu e com o grande porrete na mão. 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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