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Nêggo Tom

Cantor e compositor.

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O cotado e o cotista

Eu também acho que não precisamos de reparação, e sim de oportunidades iguais. E isso não acontece hoje, devido ao legado deixado pela opressão sofrida

Eu também acho que não precisamos de reparação, e sim de oportunidades iguais. E isso não acontece hoje, devido ao legado deixado pela opressão sofrida (Foto: Nêggo Tom)
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Um dia desses, eu vi um vídeo no facebook onde um jovem negro diz o que ele pensa sobre as cotas raciais. Entre as suas considerações, ele pondera que todos somos iguais e que o programa de cotas raciais é um plano racista do governo, que pretende colocar negros contra brancos, ricos contra pobres e assim tirar proveito político disto. Claro que foi aplaudido e compartilhado por muitos. E em sua maioria por aqueles que, graças à herança genética e ou financeira, nunca se sentiram excluídos pelo sistema. Ele também diz no vídeo que os negros não precisam de reparação devido ao período de opressão vivido no passado, uma vez que hoje não somos mais escravizados. Será? Há controvérsias. E outras formas de escravidão também. Eu também acho que não precisamos de reparação, e sim de oportunidades iguais. E isso não acontece hoje, devido ao legado deixado pela opressão sofrida e sobretudo pelos estereótipos atribuídos à etnia durante a mesma opressão. Se quiserem também podem chamar opressão de escravidão. Dá no mesmo. Até hoje existem pessoas que pensam que negros só estão aptos a realizarem trabalhos braçais e de pouco intelecto. E até agem com estranheza quando veem algum negro ocupando uma função que não seja de subordinado. Até tentam disfarçar, mas o olhar os entrega. E como diz o poeta, os olhos são o espelho da alma. Enfim, confesso que tenho algumas restrições com relação às cotas, e que também concordo com algumas (poucas) das opiniões que o rapaz emite no tal vídeo. Mas nem tudo é tão simples assim.

Falar de racismo é meter o dedo na ferida de ambas as partes. Tanto do agressor como da vítima. O racista, em sua maioria, não admite o seu preconceito porque foi educado a acreditar que a sua cor de pele lhe permite ter mais privilégios. Ele sempre está bem cotado. Ainda que não tenha tanta capacidade. A sociedade sempre terá menos dúvidas com relação a ele. É "natural". Já o alvo do racismo, tende a optar entre duas posições: falar abertamente sobre o tema e reivindicar os seus direitos como cidadão ou se calar e fingir que tudo não passa de um mal entendido. Sem querer a pessoa que escolhe a segunda opção valida a famosa frase: "isso é coisa da sua cabeça". Como fez o rapaz do vídeo citado. E não é. Ou nem sempre é.

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Mas voltando à questão das cotas raciais, é impressionante como alguns da classe média e alta manifestam a sua indignação com essa política de inclusão criada pelo governo, principalmente nas universidades públicas do País. Muitos alegam que a porcentagem destinada aos cotistas impede o ingresso de quem realmente está mais qualificado. E geralmente, na visão desses, o mais qualificado tem a pele alva. Há controvérsias. E outros tipos de qualificação também. Olhando a coisa pelo lado social, o ensino público de qualquer País deveria privilegiar os menos favorecidos financeiramente. Independente de etnia. Eu não vejo esses mesmos da classe média e da classe alta se indignando por uma vaga nos ensinos fundamentais e médios das escolas da rede pública. Pelo contrário. Alguns têm ojeriza de que seus filhos sejam alfabetizados em escolas públicas e fazem questão de pagar os melhores colégios para que eles tenham uma educação "diferenciada". Acharia justo também que eles pagassem para ter o mesmo diferencial no ensino superior. Até porque que a maioria dos alunos das universidades públicas pertence a famílias cujo poder aquisitivo lhes permite custear os seus estudos em uma universidade privada. Mas no seu inconsciente, ou até mesmo no consciente, eles se julgam mais merecedores daquilo que é melhor. Do que tem mais qualidade. As universidades públicas são referencias no ensino. São consideradas por muitos as melhores. Por isso devem ser frequentadas pelos "melhores". E como identificar os melhores? Pela cor da pele? Pela condição social? Pela raça do cachorro que viaja dentro do seu carro?

Demos as mesmas chances e oportunidades a crianças e jovens pobres, sejam eles negros ou brancos e assim poderemos avaliar quem são os melhores. Deem a eles os mesmos colégios, a mesma cultura, a mesma alimentação e a mesma estrutura familiar desde a infância. Deixemos de lado a ganância, a soberba, a superioridade e desejemos ao outro a mesma oportunidade que tivemos. As cotas raciais não devem ser vistas apenas como uma reparação aos danos históricos causados aos negros e a sua dignidade, mas sim como um ato de inclusão social. Inclusão essa que deveria ser de todos que estão a margem da sociedade. Sejam negros ou brancos. Enquanto uma classe se julgar merecedora de mais direitos e de mais privilégios, não teremos uma sociedade justa e igual.

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É a sociedade injusta que produz o marginal e não o bolsa família ou qualquer outro projeto de inclusão. É a sociedade injusta que instiga guerras entre as classes e não o governo do PT. É a sociedade injusta que patrocina a corrupção e em consequência promove a miséria dos que são vítimas sociais dela. É a sociedade injusta que classifica as pessoas por condição social ou cor da pele. Numa coisa o rapaz do vídeo tem razão. Brancos e negros são iguais. Alguns é que ainda não perceberam isso. Mas o dia em que perceberem, seremos todos bem mais cotados e bem menos cotistas.

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