O crime mora ao lado
Manobras são vendidas ao público como combate ao crime, mas desenhadas sob medida para garantir um cobertor quentinho aos grandes criminosos do País
A prisão do presidente da Assembleia Legislativa revela um dado tão ou mais importante do que a suspeita de que TH Joias não seja o único representante do crime organizado dentro daquela Casa. Mostra, com todas as letras, que os chefes dos criminosos não estão apenas nos morros e favelas, mas circulam com toda elegância pelos palácios acarpetados do poder carioca. Bacelar, o presidente agora preso, era um entusiasmado apoiador de Jair Bolsonaro e havia sido escolhido por Cláudio Castro - o mesmo governador que comandou a operação que deixou 121 mortos na Penha e no Alemão - como seu candidato à sucessão no governo do Rio de Janeiro. O retrato está completo: enquanto apontam o dedo para a periferia, o verdadeiro condomínio do crime segue funcionando lá em cima, de gravata e mandato.
Blindagem
Talvez seja por isso todo o empenho de alguns políticos, notadamente da direita e da extrema-direita, em proteger certos “cidadãos de bem” nas votações do Congresso. A PEC da Blindagem – ou da Bandidagem, como quiserem – e o projeto “antifacção” relatado pelo ex-secretário de Segurança de Tarcísio de Freitas, Guilherme Derrite, são dois ótimos exemplos dessas manobras: vendidas ao público como combate ao crime, mas desenhadas sob medida para garantir um cobertor quentinho aos grandes criminosos do País.
Lula e Trump
E não é que a química, às vezes, parece operar milagres? Tudo bem que ciência e “participações divinas” não combinam muito bem. Mas, quando falamos de relações humanas e de política, pele e sentimento contam - e muito, isso é inegável. Pois Lula voltou a falar com Trump, justamente depois que o presidente norte-americano reduziu as tarifas daquele “tarifaço” tão festejado por Eduardo Bolsonaro, Tarcísio de Freitas e outros representantes da direita Brasil afora. O papo de “amigos” agora chegou até à segurança e ao enfrentamento da lavagem de dinheiro de organizações criminosas brasileiras nos Estados Unidos. A pedido de Lula, Trump teria se comprometido a apertar o cerco aos criminosos. Ironias da vida: quem diria que o “comunista” acabaria sendo o interlocutor mais eficiente na hora de tratar de crime organizado com o xerife do mundo.
Nós de família
Parece que os laços de família no clã Bolsonaro se desataram de vez. Bastou o Jair ir para a cadeia para que o espólio político virasse carcaça e osso. Pelo Ceará, o pau já começou a cantar com bolsonaristas correndo para apoiar Ciro Gomes, que nunca economizou adjetivos ao chamar os Bolsonaro de ladrões. Michelle não gostou, e gritou. Eduardo, Carlos e Flávio, retrucaram. E a novela deve ganhar novos capítulos em Santa Catarina. O governador Jorginho Mello já avisou que enquanto Jair vai “cumprir o destino dele, a prisão dele”, ele e sua turma seguirão tocando suas vidas. No fim das contas, certo está o Renan, que ocupa o tempo com caça-palavras.
Tarcísio dançou?
Esse negócio de ser porta-voz de detento sempre deixa uma margem generosa para o recado sair diferente do que foi dito. Mas, partindo do princípio de que a “verdade” escapou mesmo da carceragem da PF em Brasília, ficamos sabendo que Flávio Bolsonaro – o senador carioca mundialmente reconhecido pela sua impressionante capacidade gerencial na venda de chocolates - será o candidato de Jair Bolsonaro à Presidência. Ou seja: nada de surpresa. Como Apenas mais um familiar escalado para representar oficialmente o clã.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




