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Lejeune Mirhan

Sociólogo, Professor (aposentado), Escritor e Analista Internacional. Foi professor de Sociologia e Métodos e Técnicas de Pesquisa da UNIMEP e presidente da Federação Nacional dos Sociólogos – Brasil

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O (des) governo de Jair Bolsonaro e seu ministério

Sempre disse que, tem tendo eu sido um opositor ferrenho desses dois governos, não tinha vergonha de me sentir brasileiro, nem aqui e nem em país do mundo pelo qual viajava. As coisas mudaram e mudaram muito e para pior

(Foto: Adriano Machado - Reuters)
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Há tempos estava adianta a redação de um artigo que analisasse o que tem de pior entre os e as ministras desse (des) governo Bolsonaro. Achava que sería um artigo de média dimensão, mas sei que será longo, em função da quantidade de barbaridades que terei que listar da maioria dos e das ministras. Des de volta da democracia ao Brasil em 1985, as primeiras eleições ocorreram em 1989, exatos 29 anos após 1960, quando Jânio da Silva Quadros havia sido eleito. Nas eleições daquele ano de 1989 22 candidaturas concorreram, tendo vencido um populista de um partido nanico chamado Fernando Collor de Mello e foi sucedido pelo grande implantador do modelo neoliberal no Brasil, Fernando Henrique Cardoso. 

Sempre disse que, tem tendo eu sido um opositor ferrenho desses dois governos, não tinha vergonha de me sentir brasileiro, nem aqui e nem em país do mundo pelo qual viajava. As coisas mudaram e mudaram muito e para pior. Hoje, qualquer brasileiro/a de compreensão mediana da política, que acompanha os acontecimentos fora das mídias corporativas e familiares, está literalmente estarrecido e envergonhado. A mídia internacional debocha quase que diariamente de nosso país. Não só pelas gafes do presidente como de quase todo o seu ministérios, pelas bobagens, pelos decretos editados, pelos pronunciamentos, pelas decisões administrativas. 

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O Brasil vai perdendo espaço mundialmente. Vai ficando fora da rota de investimento das grandes empresas. Está fora dos grandes players mundiais. Não é ouvido para mais nada na diplomacia internacional. Se e quando houver reforma no Conselho de Segurança das Nações unidas, jamais poderemos vir a pleitear uma vaga entre os países permanentes. Uma vergonha histórica.

Não temos informações precisas, estatísticas confiáveis de quantos ministros do Brasil teve em todas as suas pastas apenas em 130 anos de República, completados em novembro do ano passado (aliás, de forma completamente despercebida e sem comemoração alguma). Só de ministros da economia e da fazenda foram 95 incluindo o atual vende pátria do Paulo Guedes. Isso porque essa pasta tem relativa estabilidade. Imagino que foram milhares de ministros. O atual ministério de Bolsonaro é dos mais enxutos, com apenas 16 ministérios, sendo que apenas cinco com filiações partidários (três do DEM; um do MDB e um do PSL).

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O objetivo deste artigo é mostrar um perfil ao mesmo tempo cômico e trágico dos e das ministras bolsonaristas. Alguns mais outros menos, mas todos tragicômicos ao mesmo tempo. Procurarei apontar suas contradições, suas falhas, seu triste passado, seus problemas, com base nas informações obtidas a partir de noticias amplamente divulgadas. 

1. Cultura – No momento que escrevo este trabalho, a pasta está em transição entre um nazista, admirador/seguidor confesso de Joseph Goebels, Roberto Alvim. Ele já havia se notabilizado por ofender, tentar desmoralizar e desqualificar ninguém menos que a melhor atriz e ícone do teatro brasileiro, Fernanda Montenegro. Sua última diatribe foi fazer um “pronunciamento à Nação” defendendo uma arte “pura” (sic), nacional, nazista, de extrema direita, à serviço da alienação e do fundamentalismo religioso. E só foi exonerado do cargo porque deu muito na cara, pois senão desse, seguiria na sua função. Ele está sendo trocado pela atriz Regina Duarte, ex-“namoradinha do Brasil” (sic), também de extrema direita, fazendeira, filha “solteira” de militar e pensionista do exército com 19 mil mensais (apesar de ter-se casado cinco vezes). Regina mostrou a sua cara direitista pela primeira vez na TV quando apoiou FHC para prefeito em Sampa em 1985 contra Eduardo Suplicy do PT. Já fez a indicação de uma reverenda (evangélica) para ser a sua “número 2”, com imensa repercussão negativa no meio cultural. Registre-se que, pela primeira vez, desde a época da ditadura, o Ministério da Cultura foi extinto. Com a sua extinção, ele foi rebaixado a uma mera secretaria subordinada ao ministério da Cidadania. Não posso deixar de registrar que essa senhora precisa acertar contas com o fisco em 319 mil de reais que deve aos cofres do governo com base na Lei Rouanet, captados da iniciativa privada por renúncia fiscal, sem jamais prestar conta (que feio, hein dona Regina?).

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2. Educação – Não perderei tempo em falar do breve ministro Ricardo Vélez, colombiano de extrema direita que ficou quatro meses e não disse a que veio. Ele foi substituído pelo atual Abraham Weintraub. Este é um governo que usaremos muitas vezes o termo “pela primeira vez na história”. Assim, pela primeira vez, pelo menos nas últimas décadas, temos um ministro que não tem doutorado. Um obscuro professor da UNIFESP, que prestou concurso tendo apenas mestrado e concorreu apenas contra ele próprio para uma única vaga existente (cartas marcadas). Um judeu sionista de extrema direita que persegue diuturnamente os professores, os intelectuais, os acadêmicos e os pesquisadores. Acusou as universidades de serem plantadoras de maconha e produzirem em seus laboratórios crack. Seu histórico escola de graduação na USP foi dos mais medíocres possíveis.

3. Relações Exteriores – Aqui também, pela primeira vez nas últimas décadas, temos um ministro que jamais chefiou uma embaixada. Ainda que eu saiba que o cargo de ministro é político e de livre provimento do presidente, havia décadas que sempre era nomeado um embaixador. Pois bem, esse Ernesto Araújo, que mal fala o inglês, que crê que a Terra é plana, de extrema direita, que vem implantando uma política externa ideologizada, jamais chefiou uma embaixada em 29 anos de Itamaraty, por menor que seja o país. Uma vergonha para o Brasil. A todo momento ameaça sair do MERCOSUL, mantém a completa subordinação aos ditames dos Estados Unidos e Europa e tem dado às costas à África e à Ásia. Estamos, a cada dia, isolados do mundo. Tudo isso sem falar na grande polêmica de mudar a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém, contrariando decisões da ONUE e irritando 450 milhões de árabes.

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4. Mulheres e Direitos Humanos – Tudo que havia sido construído em 13 anos dos governos Lula e Dilma foram destruídos em menos de um ano. A Comissão da Verdade foi dissolvida. A Comissão de Anistia foi completamente reformulada e gora estão anistiando torturadores. Recentemente negaram a anistia a ex-presidente Dilma que foi barbaramente torturada nos porões do DOI-CODI. Foi dissolvida a antiga SEPIR. Nada mais há que se combata o racismo em nosso país. O Conselho da Pessoa com Deficiência foi extinto, apesar da pantomima da dita “primeira dama” falar na posse na linguagem dos sinais brasileira, LIBRAS. Nada mais há nesse ministério que combata a homofobia. A maior campanha que agora será deflagrada no carnaval para a prevenção de doenças será a abstinência sexual. Um salto ao século XIX. O modelo dos puritanos estadunidenses do século XVII que para lá imigraram. Isso sem falar na ministra Damares Alves, aquela que viu Jesus em uma goiabeira, ter sido acusada de sequestrar uma criança índia para adotá-la como filha.

5. Meio Ambiente – O ministro Ricardo Sales é um notório extremista de direita e corrupto. Acusado de blindar o grupo Bueno Neto em suas devastações ambientais quando foi secretário do Meio Ambiente de São Paulo, em como foi acusado de improbidade administrativa pelo MPE paulista (olha que este é o mais tucano do país!!!) na elaboração do plano de manejo da APA da várzea do Rio Tietê. Ele é francamente a favor do Dia do Fogo na Amazônia, que devastou grande parte da ainda maior Floresta da Terra, que é a nossa Amazônia. Aqui vale aquela piada popular que se diz que uma raposa foi indicada para tomar conta do galinheiro.

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6. Agricultura – A ministra Tereza Cristina é pecuarista (nome pomposo para esconder o que realmente ela é: latifundiária). Ela vem de um estado que tem mais cabeças de gado que seres humanos, que é Mato Grosso do Sul, onde Sem Terras são tratados à bala o tempo todo. É deputada federal da bancada da bala e a favor do indústria do agrotóxico. No seu primeiro ano à frente da pasta, que engloba agricultura e abastecimento, ela liberou exatos 474 agrotóxicos a pedido da indústria da morte, mais do que tudo que já tinha sido liberado anteriormente na história. Uma barbaridade. Muitos desses produtos proibidos no chamado mundo civilizado, o que prejudicará nossas exportações agrícolas principalmente para a Europa. Chegou-se a cogitar a subordinação da FUNAI a este ministério, mas a repercussão mundial foi tão grande que voltaram atrás e ela ficou na “Justiça” com Moro.

7. Trabalho – Não existe mais um ministério do Trabalho. Até porque este é um (des) governo do Capital. Quase tudo do extinto ministério do Trabalho, criado por Getúlio Vargas no dia 26 de novembro de 1930 – portanto sobreviveu por 89 anos – foi deslocado para o Ministério da Economia do ministro pinochetista Paulo Guedes, o chicago boys, entre eles os importantes setores como geração de emprego e renda; apoio ao trabalhador; modernização das relações do trabalho; política salarial; fiscalização do trabalho; aplicações de sanções; formação e desenvolvimento do trabalhador; saúde e segurança do trabalho; regulamentação profissional. E a parte mais sensível do antigo ministério, que era o registro sindical (criação de sindicatos) foi para o ministério da Justiça, do ultradireitista Moro que agora vai favorecer a criação de sindicatos da sua turma. O pior de todos os mundos: um dos setores mais importantes, que era a fiscalização sobre o trabalho escravo foi praticamente extinto. 

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8. Turismo – O ministro Marcelo Álvaro Antônio não é flor que se cheire. Aliás, é flor de laranjeira (refiro-me às acusações que ele sofre de criar um verdadeiro laranjal de candidatura fictícia de mulheres, falsificar suas prestações de contas para se apropriar como caixa dois dos seus recursos em função da obrigatoriedade de legislação de um terço de candidaturas de mulheres). Ele está literalmente condenado. Isso resultou pela primeira vez na história (é hilário demais) que um ministro do Turismo do país não poder viajar pelo mundo por estar condenado!!! E o pior de tudo: em campanha Bolsonaro disse várias vezes que seu governo será o mais honesto do mundo e que assim que ele souber de qualquer coisa, demitiria na hora o/os envolvidos.

Bem, estes oito casos foram aqui apresentados apenas por serem emblemáticos. Há muito mais. Não há ministros santos e nem honestos naquela turma que ocupa o primeiro escalão do governo. Não há ninguém brilhante. Não há intelectuais. Não há um negro no primeiro escalão e o único indicado para o segundo – impedido pela justiça de tomar posse – disse que a escravidão foi benéfica para os negros no Brasil e que ele faria de tudo para revogar os feriados de 20 de novembro da consciência negra no país. As duas mulheres entre as 16 não defendem os direitos e os interesses das mulheres. São machistas como se diz entre as feministas. São mulheres patriarcais, tal qual Bolsonaro gosta. Por isso, como disse no começo, jamais tive vergonha de ser brasileiro perante o mundo. Hoje me sinto envergonhado. E você, como se sente? Até quando esse martírio durará?

Abraços do Prof. Lejeune Mirhan.

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