O desafio das terras raras no Planalto de Poços de Caldas
Estamos diante de uma possibilidade concreta na disputa pelas terras raras e o Brasil precisa se preparar para isso
Em 1973, os países produtores de petróleo organizados, multiplicaram o preço do petróleo por quatro em retaliação ao apoio dos países capitalistas mais ricos A Israel na guerra do Yom Kipur. Nascia ali um novo e forte personagem na geopolítica mundial, capaz de gerar uma crise econômica gigantesca em todo mundo – a OPEP. O mundo nunca mais foi o mesmo.
Vivemos há pelo menos vinte anos em um clima de desconfiança e hostilidade entre as nações com sérias consequências a economia e paz mundial. Além do petróleo temos um novo elemento (sem trocadilho) nesse eterno jogo de interesses do capitalismo mundial – as terras raras.
São chamadas terras raras porque são minerais de difícil extração e baixa concentração na natureza - Lantânio, Cério, Praseodímio, Neodímio, Promécio, Samário, Európio, Gadolínio, Térbio, Disprósio, Hólmio, Érbio, Escândio, Túlio, Itérbio, Lutécio, Ítrio. O Brasil conhece a tecnologia de extração de terras raras da areia monazítica pela ORQUIMA, depois NUCLEMON e INB.
Os meios de comunicação trazem um simultâneo noticiário sobre o tema – a China que desde 2000 vem restringindo o comércio mundial de terras raras, onde domina cerca de 70%; o governo americano que tenta extorquir a combalida Ucrânia apropriando-se de suas reservas e o Brasil, que em diversas regiões, mas particularmente na de Poços de Caldas, identifica imensas reservas de alta concentração e extração mais fácil, portanto, mais barata. O Planalto de Poços de Caldas está localizado no sul de Minas Gerais avançando um pouco pelo estado de São Paulo. Tem uma caldeira vulcânica de, aproximadamente, 770 quilômetros quadrados com um diâmetro variável de, em média, trinta e três quilômetros. Vista do alto, a caldeira é facilmente identificada dado que suas elevações de contorno estão entre duzentos e até quatrocentos metros acima das áreas mais planas. E é, nestas áreas mais planas, que se encontra a argila carregada de elementos químicos carreadas em milhões anos.
As terras raras são elemento essenciais na tecnologia moderna da química, da física – magnética, ótica e elétrica. Estão presentes desde seu celular até drones, mísseis, jatos, armas de guerra, nos fascinantes trens bala “voando” sem tocar nos “trilhos”, nas baterias, nos carros convencionais, híbridos e elétricos. Daí sua importância geopolítica – quem domina as grandes e mais viáveis reservas, quem domina a tecnologia da extração e processamento, quem domina a fabricação de semicondutores, ligas e imãs tem assento à mesa de uma nova reconfiguração mundial do ponto de vista econômico, geopolítico e geomilitar, além de obviamente ambiental.
Estamos diante de uma possibilidade concreta na disputa pelas terras raras e o Brasil precisa se preparar para isso, em defesa dos interesses nacionais e sua soberania.
Temos grandes desafios em nossa região, entre outros, abrir um debate transparente sobre a forma da inevitável exploração das terras raras e suas consequências ambientais e sociais, e o segundo, avançar na construção de um cenário futuro sustentável e distributivo com investimentos em outras etapas da cadeia produtiva. Digo inevitável por sua importância estratégica, inevitável por sua centralidade na transição energética.
O grande desafio é exatamente encontrar formas de exploração mineral com o mínimo custo ambiental possível, com a atividade intensamente monitorada, diálogo social permanente, novas técnicas de mineração. Outra preocupação é a abordagem em relação ao trabalho temporário de centenas de pessoas para a instalação das plantas e, claro, não repetir a histórica submissão colonial de simples provedor de matérias primas.
Viveremos um novo choque mundial a partir da disputa pelas terras raras e o Brasil será protagonista, com capacidade de ocupar parcela significativa do comércio mundial do produto primário ou, preferencial e necessariamente, do resultado de sua industrialização.
Creio que, com o tabuleiro das terras raras, o mundo não será o mesmo. E se cabe um sonho – que seja melhor e mais acolhedor que o atual.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

