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Ricardo Bruno

Jornalista político, apresentador do programa Jogo do Poder (Rio) e ex-secretário de comunicação do Estado do Rio

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O descaminho de Freixo

"O deputado Marcelo Freixo (PSOL) tem uma alentada folha de serviços prestados à sociedade. Dedicou-se por completo e sem limite a causas públicas nobres, especialmente às voltadas a defesa dos direitos humanos", diz o colunista Ricardo Bruno; "por tudo isto, soa estranho e cabotina a tentativa do deputado de vincular Picciani ao crime da vereadora Marielle. Sem qualquer indicio, sem qualquer indicação de razoável consistência. A trajetória reta de Freixo até  aqui não o autoriza a avançar limites em nome de uma implacável busca dos autores do crime"

O descaminho de Freixo
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O deputado Marcelo Freixo (PSOL) tem uma alentada folha de serviços prestados à sociedade. Dedicou-se por completo e sem limite a causas públicas nobres, especialmente às voltadas a defesa dos direitos humanos. Durante os quase oito anos de seus mandatos fez por merecer o reconhecimento de parte expressiva de cariocas e fluminenses que viram nele o destemor e a disposição necessárias ao enfrentamento de questões preocupantes como o avanço até então silencioso, mais não menos grave, do crime organizado sobre o aparelho do Estado.  Com representantes na própria Assembléia e na Câmara de Vereadores do Rio, as milícias eram a ponta mais visível deste ataque do crime sobre a instituições republicanas.

Em 2008, Freixo ganhou visibilidade nacional. Após o sequestro de uma equipe de repórteres de O  Dia, o presidente da Alerj, Jorge Picciani, instalou a CPI requerida pelo parlamentar para investigar as milícias. O crime havia sido praticado por delinquentes de um desses bandos,  que atuava na comunidade do Batan. Picciani criou ainda as condições políticas para que Freixo a presidisse, num ato  público de reconhecimento dos esforços do parlamentar no combate à atuação do grupo criminoso.  

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O trabalho da comissão foi elogiado: deputados, vereradores e outras autoridades foram indiciadas por notório vínculo ao grupo criminoso. O êxito das investigações, em parte, deve ser creditado ao apoio explícito do presidente aos trabalhos da CPI. Não fosse a determinação de  Picciani em transformar a Alerj num instrumento real e eficaz de apuração das denúncias, dando condições políticas e técnicas ao avanço dos trabalhos, talvez o resultado fosse diferente. Em 2009,em sua reeleição à presidência, houve reconhecimento, inclusive do próprio Freixo: “`É necessário reconhecer que a atual direção da Casa deu à oposição a possibilidade de agir de forma absolutamente respeitada e democrática. Em nenhum momento, como representante de uma oposição clara e definida desde o início, tive qualquer espaço cerceado nesta Casa nem nas comissões nem no Plenário, elogiou.

Por tudo isto, soa estranho e cabotina a tentativa do deputado de vincular Picciani ao crime da vereadora Marielle. Sem qualquer indicio, sem qualquer indicação de razoável consistência. A trajetória reta de Freixo até  aqui não o autoriza a avançar limites em nome de uma implacável busca dos autores do crime. Ao conceder entrevista vazando o conteúdo  de uma estapafúrdia linha investigatória, Freixo num ato absolutamente irresponsável corrobora em certa medida a tese, ainda que diga o contrário. As autoridades policiais é dado o direito de, em sigilo, eliminar todas possibilidades e dúvidas  que um caso possa suscitar. A um político, em véspera de eleição, exige-se um pouco mais: é necessário ponderação e bom senso, a fim de que um ato público desta gravidade não se transforme num movimento de natureza eleitoreira, na sua acepção mais vulgar.

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Abatido por um câncer,  Picciani cumpre prisão domiciliar por conta de denúncias sobre as quais seus advogados já se pronunciaram. Se cometeu  erros,  cabe a Justiça julga-lo.   Sua história pública, contudo,  desde dos tempos de militância no PDT é um libelo em defesa da democracia. Critique-se Picciani por qualquer motivo, menos por transigência com as regras democráticas. Daí talvez a advinha a força que o fez presidente em vários mandatos. Nada, portanto,  permite que seja vinculado à ação tão torpe e vil como a dos assassinos de Marielle.  Ao lançar suspeições a esmo, Freixo se apequenou. E enveredou pelo temerário caminho das denúncias de ocasião, tão comuns nas campanhas eleitorais de baixo nível. Não era o que se espera dele. Infelizmente.

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