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Francisco Calmon

Ex-coordenador nacional da Rede Brasil – Memória, Verdade e Justiça; membro da Coordenação do Fórum Direito à Memória, Verdade e Justiça do Espírito Santo. Membro da Frente Brasil Popular do ES

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O deslocado e os silenciados

"Múcio é o deslocado, fala quando não deve e silencia quando deve falar. Os ministros são os silenciados pelo presidente"

José Mucio (Foto: Lula Marques/ Agência Brasil)

Múcio é o deslocado, fala quando não deve e silencia quando deve falar. Os ministros são os silenciados pelo presidente.

Todo o governo deveria ter se manifestado em relação ao indiciamento de Bolsonaro pela PF, especialmente o ministro da defesa, sobretudo por se tratar do envolvimento dos militares e por ter sido o responsável por indicar ao presidente o uso da GLO. Era a peça que faltava no xadrez golpista para a concretização do golpe em 8/1/23.

E no discurso do golpe realizado: Declaro o Estado de sítio; e, como ato contínuo, decreto Operação de Garantia da Lei e da Ordem.

O art. 142 da Constituição, à luz dos novos tempos, requer radical alteração, independente do entendimento do STF. É preventivo extirpá-lo sem deixar sombra.

Dos 37 indiciados, 25 são militares! E a probabilidade de aumentar é grande.

Múcio está sempre disposto a defender os interesses corporativos dos militares, se mete em decisões de política externa, passa pano na responsabilidade das FFAA quanto ao seu passado golpista, e do estado terrorista com o Ato Institucional número 5 – AI5, que, no próximo dia 13 de dezembro, fará 56 anos de trágica memória. É a oportunidade de fazer um ato de contrição.

A reação ao plano terrorista golpista está acanhada, nem parece que, além de assassinatos, previa a instituição de um governo autocrata, estado de sítio e militares na rua (GLO)com um gabinete de militares com poderes excepcionais.

“O Estado de Sítio é um instrumento no qual o chefe de Estado suspende por um período temporário a atuação dos Poderes Legislativo e Judiciário.”

Se colocado em prática E VITORIOSO, adeus democracia. Adeus estado de direito. E adeus aos 30 mil esquerdistas, que Bolsonaro, o terrorista, sempre prometeu matar.

Como a ditadura não me matou, sinto que nós sobreviventes estamos sempre sob crime de ameaça do terrorista-mor.

Partidos calados, movimentos sociais titubeando, estudantes assistindo a banda passar, que droga é essa que provocou essa letargia?

Vejo dois espadachins nessa refrega de vida ou golpe à democracia: a presidenta do PT, Gleisi Hoffman, e Alexandre de Moraes, ministro do Supremo. Enquanto Lula pede moderação aos seus ministros e aliados para não amplificar e parecer perseguição ao mentor do plano.

É exatamente o contrário: é imprescindível levar à capilaridade social o plano terrorista do golpe, debater com todos os seguimentos, fazer a ligação com o golpe de 64, com a rataiada dos porões do Doi-Codi, com a gorilada do AI5 que instituiu o Estado terrorista.

Isso é fazer formação política, o contrário é alienação.

Não se pode normalizar plano tão grave, tão malévolo, tão acintoso às instituições democráticas. A demonstração de indignação é peremptória!

Está ficando complicado entender o presidente: na efeméride dos 60 anos do golpe, 1º de abril de 2023, também orientou aos ministros e aos lulistas a não se manifestarem para não remoer o passado, contrariando as ciências políticas e históricas, que semeiam o contrário: lembrar para aprender e não repetir.

Quanto mais sujeiras para debaixo do tapete da história, mais intoxicada e vulnerável a democracia.

Há algo estranho no ar!

A conjuntura está desmoralizando uns e valorizando outros; a trama golpista enseja peremptoriamente romper com o véu da hipocrisia e da vestal daqueles que são, perante as páginas da história, os seculares golpistas da República brasileira.

A justiça de transição, que não ocorreu ainda como deveria, está latente, e sem a qual os fantasmas do passado permanecerão a assombrar a democracia dos vivos.

Enquanto os despudorados do Congresso continuam a articular a anistia dos terroristas golpistas, os democratas de todos os matizes estão sem verve na defesa da democracia, como teve o Deputado Rubens Paiva, o Marcio Moreira Alvez e tantos outros.

Nesta hora não pode haver falta de coragem.

Como parte da geração que enfrentou o golpe de 64 e a ditadura militar, mesmo em desvantagens de forças, mas, superior em coragem e determinação, chamamos ao dever os parlamentares e governadores democratas para montar uma rede de defesa do Estado democrático de direito.

Temos duas frentes de luta: contra a anistia no Congresso e pela denúncia da PGR, ainda este ano, e a decretação da prisão preventiva do Bolsonaro e quadrilha.

Lula, para além de estar agradecido por estar vivo, tem a urgente tarefa de reformar o seu ministério.

Afinal, a conspiração não foi extirpada do tecido civil-militar, os “kids pretos” são provas vivas.

Como já circula, reforço, a palavra de ordem é: “SEM ANISTIA, SEM PERDÃO, BOLSONARO NA PRISAO”

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.