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      Lelê Teles

      Jornalista, publicitário e roteirista

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      O despertar do sono profundo

      Os artistas nunca tiveram dúvidas do poder destrutivo da Globo contra a cultura. Se ela consegue fundar uma midiocracia, adeus diversidade, criatividade, fruição. O Brasil vira um ridículo e insosso Big Brother

      31/03/2016 - São Paulo - SP, Brasil - Ato em defesa da Democracia na Praça da Sé em São Paulo. Foto: Ricardo Stuckert/ Instituto Lula (Foto: Lelê Teles)

      foi lindo ontem.

      as ruas se encheram de alegria, de arte, de criatividade, de brasilidade; de povo.

      teve flores, batuques, danças, sorrisos, abraços.

      foi um dia memorável.

      um dia de trégua aos dias de trevas que tivemos outrora.

      tão colorido, tão caloroso, tão diverso e tão uno.

      tinha punx, drags, dreads, drunx.

      feministas femininas, manos, monas e minas.

      estudantes, professores, trabalhadores e desempregados.

      pret@s, pard@s, branc@s e índi@s.

      mulheres do grelo duro e homens desmachificados.

      babás, bebês e bebuns.

      teve DJs, rappers, poetas, cantor@s, palhaços, funâmbulos e cuspidores de fogo...

      teve de tudo.

      teve até a Letícia Sabatella.

      lembra dela?

      aquela que em 2007 produziu uma imagem cândida ao lado de Dom Cappio, o bispo que fez greve de fome contra a transposição do São Francisco.

      aquela que ilustrou o bisonho filme contra Belo Monte, cheio de atores e atrizes despolitizados falando platitudes pseudoecológicas.

      até ela se ligou que que há que se temer Temer. que num governo PMDB/PSDB ela e Cappio seriam espancados pela polícia.

      essa gente bate em padres!

      Sabatella é um símbolo desse discurso que, ontem, amalgamou tanta gente que estava dispersa por aí.

      golpistas não passarão.

      não era em favor da Dilma e nem do governo que o povo estava na rua.

      era contra um possível desgoverno.

      o que nos imantou foi a possibilidade de perda de tantas conquistas que o povo conseguiu desde que Lula chegou ao poder.

      o que uniu as pessoas na rua, ontem, foi a certeza de que o golpe daria mais poderes a Bolsonaros e Felicianos.

      feministas, LGBTs e negros sabiam que com eles seria muito pior.

      trabalhadores e desempregados tinham certeza de que com o poder nas mãos da turma do Cunha e do aécio - grafemos em minúsculas - o arrocho era iminente.

      a periferia sacou que se o pessoal que pede intervenção militar chegar ao poder, vai ser porrada no lombo o dia todo, não tem mais praia, nem baile funk.

      é sim senhor, não senhor e tome pau.

      estudantes hoje sabem, mais do que nunca, do que o PSDB é capaz. espancam professores e estudantes indiscriminadamente.

      os artistas nunca tiveram dúvidas do poder destrutivo da Globo contra a cultura; se ela consegue fundar uma midiocracia, adeus diversidade, criatividade, fruição.

      o Brasil vira um ridículo e insosso Big Brother.

      ontem foi o fim da narcolepsia.

      despertamos para o fato de que temos, sim, pautas em comum.

      que formamos, sim, uma coletividade fraterna, progressista, solidária e tolerante.

      e que a rua é nóis, que a rua é noise.

      que ser pacifista não é o mesmo que ser passivista.

      que o nosso silêncio conivente dava voz aos golpistas.

      e o melhor.

      Dilma e o PT também despertaram do sono profundo.

      agora sabem que para garantir essa base social é preciso dar uma guinada muito mais acentuada à esquerda.

      é chegada a hora de dar um cavalo de pau no transatlântico.

      e fazer como o Leão da Montanha: saída pela esquerda.

      o povo percebeu que a direita só quer nos tirar direitos.

      querem dois brasis; mas um só servirá para servir ao outro.

      a direita quer a volta dos deficientes cívicos: os sem-emprego, sem acesso à água, luz, escola, ensino superior e consumo.

      a direita quer o golpe para colocar troncos nas ruas e reerguer as senzalas.

      não amigos. eles não passarão.

      nós, passarinhos.

      palavra da salvação.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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