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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

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O desprezo pela vida

Há legados que deixam marcas, senão de maldade, pelo menos de desinteresse, desprezo pela vida, egoísmo ou apenas vaidade por sucessos efemeramente alcançados

(Foto: Reprodução)
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Gostar da vida, para simples mortais, não constitui sempre uma opção natural. Muitos nascem e exercem o que lograram receber por herança de modo desregrado, para não dizer negativo, pernicioso, desastroso. Amar a vida representa, de fato, a escolha daqueles que colhem da experiência o que ela possui de melhor e levam adianta o jardim a plantar e tratar com artes de especialista. Já outros, ao contrário, arrastam-se de decepção em decepção, saboreando os frutos amargos de sua inteligência e espalhando malefícios como quem semeia tempestades. Assim é no plano individual, mas também no coletivo. Ninguém recebe a dádiva do pulsar biológico gratuitamente. Sabe-se que se deve, ao contrário, investir no melhor. Em comunidade, estamos em processo de construção permanente, o que proporciona talvez o que há de mais belo na filosofia da natureza e, por outro lado, o de mais terrível. 

Grandes nomes de nossa História inscreveram as suas biografias com uma coragem desbravadora, com capacidade de transformação, tornando-se notáveis em suas respectivas atividades. Vide, para citar apenas um, o caso de Albert Camus, o grande narrador francês. Tinha tudo para o insucesso, filho de uma faxineira surda, órfão de pai muito cedo e menino pobre na periferia de Argel, a capital argelina então sob domínio francês. Ganhou o Prêmio Nobel. Situações semelhantes, guardadas as devidas proporções, surgem na memória, basta examinar a crônica dos tempos... Assinale-se, contudo, que para acertar convém dispor de uma energia positiva capaz de enfrentar as dificuldades e pontuar a sua passagem pelo mundo com exibições de solidariedade e carinho pelos semelhantes. 

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Há legados que deixam marcas, senão de maldade, pelo menos de desinteresse, desprezo pela vida, egoísmo ou apenas vaidade por sucessos efemeramente alcançados. Algumas administrações se definem por um gosto pelo outro, pelas causas sociais, pelo desejo de socializar medidas que melhorem as condições de cada um. Todos os países atravessaram dilemas parecidos. No Brasil, com o governo Bolsonaro, o abandono de certas causas, como o da saúde da população, revestiu-se de uma radicalidade submetida a todos os caminhos da insensatez. Durante a epidemia da Covid, não fosse o SUS, os resultados aterradores alcançariam patamares mais do que escandalosos, bem além dos que houve. A ausência de prioridade conferida a enfermeiros, médicos, hospitais, postos de saúde, etc. gerou uma espécie de sucateamento, com filas intermináveis para quem necessitava de intervenções. Não espanta que agora, como prioridade, erga-se a conveniência de abolir as filas quilométricas. 

É assim que, enquanto o Ex passeia nos Estados Unidos entre adeptos do reacionarismo conservador, colocando-se como “oprimido”, quando, com seus filhos, não passava de um algoz, os que aqui se encontram procuram transformar a realidade em fórmulas de salvação. Os princípios da generosidade e do amor pela vida, entram na ordem do dia. Cresce, sobretudo, o desejo de superar os terremotos da miséria. Somente então provaremos, acima de tudo, que somos humanos. 

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