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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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O Deus fascista de Bolsonaro

Deus neopentecostal e brasileiro de Bolsonaro foi criado pelos pastores do empreendedorismo, gestores da fé e dos dízimos de uma maioria de pobres e miseráveis

(Foto: ADRIANO MACHADO/ Reuters)
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Moisés Mendes, do Jornalistas pelo Democracia

Deus nunca teve responsabilidade tão grande pelos destinos da extrema direita brasileira como agora. O Deus católico, que tanto se dividiu entre esquerda e direita, sempre foi um bom coadjuvante na política.

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Já o Deus de Bolsonaro, de raiz neopentecostal, é apresentado como protagonista num país em que Deus decide se um pênalti entra ou não entra e define sempre as finais dos campeonatos.

No Brasil, Deus tem sido um tarefeiro, muitas vezes convocado pelos que combatem a democracia. As Marchas da Família com Deus pela Liberdade, que precederam o golpe de 1964, tiveram, claro, a mão de Deus.

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Aquele era um Deus essencialmente católico, acostumado a apoiar as elites contra a maioria que as incomodavam. O Deus das senhoras que foram às ruas em 64 era o Deus dos ricos e da classe média carola.

O Deus neopentecostal e brasileiro de Bolsonaro foi criado, com o formato que tem hoje, pelos pastores do empreendedorismo, gestores da fé e dos dízimos de uma maioria de pobres e miseráveis. Todos sabemos do poder político e econômico dessa fé. A Justiça brasileira sabe muito bem.

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Mas o Deus de 64 mobilizava contra os comunistas e garantia uma certa sofisticação religiosa aos que o inventaram. O Deus inventado por Bolsonaro, mais prático, é mobilizado diretamente contra Lula e contra o PT.

É um Deus dedicado de novo a uma empreitada, um Deus depreciado a serviço de um plano político raso. O Deus de 64 prestava-se a combater uma ameaça mundial, e o Deus da extrema direita de hoje é convocado a proteger um genocida.

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Não há relato sobre a ditadura no Brasil em que os generais apresentem Deus, sistematicamente, como avalista de perseguições, torturas, desaparecimentos e assassinatos.

Os ditadores eram religiosos e iam à missa, mas tiveram o escrúpulo de não falar em nome de Deus. Eles terceirizavam essa fala. E viram que, aos poucos, o Deus das marchas das famílias e da tortura foi confrontado com outro Deus da resistência pela democracia.

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A ditadura mobilizou o Deus dos que rezavam pelos torturadores, de um lado, e provocou a ira do Deus dos que se rebelaram contra a tirania e se protegeram nos evangelistas engajados às lutas sociais.

A resistência dos democratas era sustentada pela força dos cristãos antifascistas. O Deus deles era representado pelo filho do homem.

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O Brasil passou a torcer por dois deuses, liderados por dois Câmaras. O arcebispo do Rio Dom Jaime de Barros Câmara, ao lado dos militares, das corolas, da imprensa, dos latifundiários e dos americanos, e o arcebispo de Olinda e Recife Dom Hélder Câmara, ao lado dos combatentes pelas liberdades.

E foi assim que o filho de Deus de Dom Hélder venceu, depois de muita luta, o Deus de Dom Jaime, e a democracia foi restaurada.

Mas não há hoje, com a mesma força, dentro da Igreja Católica, um Cristo que possa ser mobilizado com determinação pelos herdeiros, em posição de liderança, de um Dom Paulo Evaristo Arns ou um Dom Aloísio Lorscheider.

Não temos hoje nem o Deus destemido do rabino Henry Sobel, porque seus filhos do século 21, com raras exceções, como a representada pelos Judeus pela Democracia, se recolheram e silenciaram.

Os católicos deixaram os amigos do padre Julio Lancelotti quase sozinhos como voz do papa Francisco no Brasil. Sim, há outros, centenas de Lancelottis, mas todos abaixo das altas hierarquias da Igreja, falando alto como emissários de Francisco. Há muitas religiosas destemidas, mas sem força institucional para resistir.

Os católicos convivem com o paradoxo da liderança de um papa progressista, mas com uma igreja retraída em seus comandos no Brasil.

Por isso prospera o Deus hegemônico de Bolsonaro, que é o mesmo de Edir Macedo, Crivella e Malafaia, mas não é, pelas suas múltiplas peculiaridades, o Deus de Martinho Lutero.

Ao dizer que só Deus é capaz de tirá-lo do poder, Bolsonaro está avisando que, pela deliberação divina sumária, ele continuará presidente, de qualquer forma, contra tudo e contra todos, entrincheirado com seus filhos, seus militares e seus milicianos.

Bolsonaro ameaça com o seu Deus fascista por saber que o Deus combatente do tempo da ditadura está em recesso.

Somos ameaçados por uma figura caricata do Antigo Testamento, com a pretensão de controlar o que Deus determina. É com esse Deus acima de tudo e de todos que ele pretende ir em frente.

Não há eleição, não há democracia, não há vontade popular que possa mandá-lo embora, porque Deus deseja o voto impresso para bagunçar tudo.

Bolsonaro grita e ameaça por saber que estão quietos demais os seguidores dos evangelistas católicos. Prevalece a versão dos evangelistas do absolutismo, que parecem ser outros personagens a orientam sua fala em nome do bem contra o mal.

Bolsonaro não busca verdade alguma. O que ele faz blefando com  o golpe é abusar da omissão dos que deveriam pelo menos tentar imitar os combatentes católicos dos anos 60 até o final dos 80.

O genocida blefa por saber que os cristãos, que já estavam recolhidos, encolheram-se ainda mais diante das suas pregações. Bolsonaro está vencendo, com o seu Deus racista, homófobo, machista e golpista.

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