O diabo na rua, no meio do redemoinho
A cabeça de 1500 anos de história no Brasil parece ter sido decapitada nesse momento e a Bastilha da república derrubada pelas cagadas da própria corte. Não sobra uma letra para qualquer narrativa política, nem para a esquerda e nem para o fascismo da Casa Grande
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No que vai dar não sabemos. Mas acredito que esses últimos acontecimentos políticos colocam um ponto final na narrativa da direita colonial. Falta realizar o exorcismo no espírito de uma grande parcela da população, para livrá-la do espírito mau que a acorrenta no fascismo tupiniquim, sendo que essa tarefa cabe à esquerda, construindo uma narrativa que não reproduza a experiência petista das alianças mal sucedidas, da crença de que quem ganha muito dinheiro também tem coração.
A cabeça de 1500 anos de história no Brasil parece ter sido decapitada nesse momento e a Bastilha da república derrubada pelas cagadas da própria corte. Não sobra uma letra para qualquer narrativa política, nem para a esquerda e nem para o fascismo da Casa Grande. E foi um desmantelamento muito rápido daquilo que começou nas diretas-já e culminou na Constituição de 88. Um grupo de policiais federais derruba num sopro essa cidadela de cartas de baralho, que parecia tão bem fortificada. A esquerda, nós pequenos burgueses que ainda trazemos desde os anos 60 a mudança do mundo num saco velho, pegamos na mão o Brasil de hoje, olhamos, coçamos a cabeça, pensamos em Sergio Buarque de Holanda, Darcy Ribeiro etc e não sabemos o que fazer com isso e nem no que vai dar. Nós envelhecemos precocemente.
Meganhas, gringos, afogamentos, choques elétricos ainda compõem o epílogo de um romance que ainda não escrevemos ou se escrevemos não foi publicado. Há apenas um prefácio mal escrito dessa novela de horror.
Algo ficou pela metade nesse país, como uma paixão que por alguma razão não deu certo e que ainda não nos conformamos.
A esquerda no Brasil não construiu uma narrativa de seu projeto para o país, para se contrapor à narrativa das elites, até porque não dispõe dos instrumentos midiáticos necessários. Transformações profundas da sociedade pelos moradores do andar debaixo necessita de uma concepção de mundo, pois sem essa concepção de mundo dispersa-se o "espírito de luta" contra aqueles do andar de cima. O papel do intelectual, em seu conceito gramsciano , seria participar com o povo do andar de baixo no desvelamento de seu mundo, na busca de suas raízes históricas, para a criação de uma narrativa que impulsione o espírito de luta.
Nas narrativas construídas pelas elites, as causas integram o mesmo plano ficcional, pois ao fragmentar a realidade que vai compor essas narrativas as causas verdadeiras desaparecem. Hoje a elite tem a tecnologia, mas não tem o discurso. Repete a comida requentada.
A rua da história, nesse momento no Brasil, está vazia e não sabemos quem vai surgir em meio a poeira. O momento lembra a frase de entrada de Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa: "O diabo na rua, no meio do redemoinho".
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