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Fernando Lavieri

Jornalista, com passagens pela IstoÉ e revista Caros Amigos

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O dilema do ocidente

Acertos de Putin colocam os EUA e a Europa em um impasse

Vladimir Putin discursa na Cúpula Rússia-África do Sul em São Petersburgo (Foto: REUTERS)

Por Fernando Lavieri

O principal erro estabelecido no contexto da Operação Especial quase custou a derrocada da Rússia. Utilizar cegamente os serviços do grupo Wagner se mostrou um equívoco enorme. Que foi antecipado, diga-se de passagem, pelo ministro da Defesa russo Sergei Choigu. Se Yevgeny Prigojin tivesse avançado sobre Moscou como, aliás, queria o ocidente, haveria um banho de sangue às portas do Kremlin, mas por outro lado o Wagner deixaria de existir como se conhece hoje. É necessário lembrar que em declaração pública, Vladimir Putin definiu o líder do grupo e seus assessores mais próximos como traidores da pátria. A história desse quase levante mostrou que Choigu estava certo. Ou seja,  ter à mão um grupo militar desse tipo pode representar uma vantagem, mas apesar de eles serem úteis, sobretudo, para realizar tarefas excepcionais, a aliança deve ser considerada em sua plenitude. 

Agora, sobre os acertos de Putin, os dois mais significativos vem sendo, primeiro, o fato de os russos estarem sempre adiantados nas batalhas de campo e assim conseguirem manter a disputa sob controle. Tal situação, de a Otan/Estados Unidos estarem perdendo a guerra, enfraquece, no âmbito simbólico, a noção de legitimidade da existência da Organização do Tratado do Atlântico Norte. A outra circunstância é a econômica. Nem Europa tampouco os EUA imaginaram que a Rússia se sairia tão bem em um momento de guerra quente. Putin foi sábio o bastante para encontrar alternativas e parcerias que permitissem manter a população em situação semelhante a de antes da instalação da Operação Especial. O encontro bilateral entre Vladimir Putin e Dilma Rousseff, presidenta do banco do Brics, durante a conferência Rússia/África, nesse sentido, faz parte do rol de acertos. Mais: a ideia de se fortalecer os acordos comerciais entre as nações do bloco e, no futuro, a criação de uma moeda única ao Brics, é essencial para economia da Rússia. Taís acertos de Putin colocam os EUA e a Europa em um impasse: dar continuidade à monstruosidade da guerra e relegar, assim, ainda mais mortandade? Ou aceitar a inevitável derrota e assinar um cessar-fogo imediato? Taís discussões estarão sobre a mesa de negociação na Arábia Saudita,  em agosto, mas somente serão chanceladas a boca pequena, sem holofotes.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.