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Alex Solnik

Alex Solnik, jornalista, é autor de "O dia em que conheci Brilhante Ustra" (Geração Editorial)

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O discurso do espantalho

Tal discurso sinaliza que embate PT vs. Bolsonaro está longe de terminar, o que não vai ajudar a pacificar o país e colocar comida na mesa dos brasileiros

Montagem (da esq. para a dir.): Luiz Inácio Lula da Silva, Jair Bolsonaro e o tenente-coronel Mauro Cid (Foto: Divulgação / Alan Santos-PR)

Toda vez que apanha, Lula reage lembrando como era o Brasil nos tempos de Bolsonaro. É como se dissesse: não estão contentes comigo?, não se esqueçam que os livrei de uma boa! Imaginem o horror que seria se eu perdesse a eleição! 

Usa o ex-presidente como espantalho - que também quer dizer “indivíduo inútil” e “pessoa feia, muito magra” - para espantar as aves do mau agouro, do mau olhado e os abutres. 

Até aí, tudo bem. Ele está certíssimo. Lançou-se a uma batalha duríssima na idade em que a maioria veste o pijama e cuida dos netos. E venceu a maior ameaça à democracia desde a redemocratização. Veio, viu e venceu. Merece todos os louros.

No entanto, uma das consequências desse discurso é que Bolsonaro não cai no ostracismo - que é onde já deveria estar. Toda vez que Lula cita um malfeito de seu antecessor para marcar a diferença com a realidade de hoje, mantém seu nome no noticiário e habilita-o como seu antagonista, seu principal adversário ou inimigo.

Nove anos mais jovem que Lula, Bolsonaro terá, daqui a oito anos - durante os quais provavelmente estará inelegível, a julgar pelo andar da carruagem - a mesma idade que ele tem hoje. Se for preso, estará livre em oito anos. 

Poderá, portanto, em tese, concorrer de novo à presidência em 2030, sem ter de enfrentar Lula, que não poderá se candidatar ao terceiro mandato - se é que vai se candidatar ao segundo.

O discurso do espantalho sinaliza que o embate PT vs. bolsonarismo está longe de terminar, o que não vai ajudar, com certeza, a pacificar o país e colocar comida na mesa dos brasileiros.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.