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Fernando Horta

Fernando Horta é historiador

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O erro de Bolsonaro que nós não podemos cometer

"Se é verdade que Bolsonaro subestimou o povo e superestimou seus poderes e seu apoio, nós, na esquerda, não podemos devolver o favor", alerta Fernando Horta

Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
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Bolsonaro subestimou o povo brasileiro. Como o pensamento xucro da elite brasileira, para Bolsonaro o povo é burro e não tem memória. O desenho do governo Bolsonaro, se tomarmos os quatro anos, era bem claro. Nos primeiros três anos eles fariam todas as medidas para favorecer as elites e o sistema financeiro, enquanto mantinham a massa empobrecendo e atenta à “pauta de costumes”. Uma tática de ilusionista que com uma mão mostra algo desimportante, enquanto o truque está acontecendo em outro lugar. No último ano, pensavam Guedes e Bolsonaro, fazem um dispêndio volumoso e “compram” o voto do povo desorientado.

Descontada a pandemia (que alterou um pouco o planejamento), é possível ver isso nos gastos ano a ano de Bolsonaro. O ano de 2022 foi completamente fora da curva. A teoria que ampara essa estratégia é exatamente a neoliberal. Os trabalhadores, enfrentando 3 anos de cinto apertado, estariam no quarto ano ávidos por qualquer melhoria. Esse tipo de estratégia maximiza os ganhos políticos por unidade de riqueza investida no gasto. Não há nenhuma preocupação com o bem-estar das pessoas, com as obrigações do Estado ou mesmo com qualquer direito. Palavras que não existem no vocabulário neoliberal.

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Este tipo de desenho de estratégia política só funciona se a população não tiver capacidade de memória ou se exista um sistema de comunicação hegemônico, que seja capaz de capturar e pautar a discussão social num dado momento. Além disso, Bolsonaro ainda colocou o componente do crime, aparelhando a PF, a PRF e tudo o que pode usar das Forças Armadas. Na sua cabeça, não havia forma de perder. Se perdeu, foi porque “roubaram”. Na base de tudo está o já evidente desdém que o fascismo tem pelo povo.

Bolsonaro nunca imaginou que a esquerda poderia colocar um aparato de resistência efetivo. MST, CONTAG, CUT e outras centrais sindicais e movimentos políticos saíram a campo e fizeram de cada direito retirado, uma consciência acordada. O trabalho que foi feito entre 2018 e 2022, tanto para a retomada dos direitos políticos do presidente Lula, quanto pela manutenção dos focos de resistência e formação política por todo território nacional têm o dedo dos partidos de esquerda. Resistir é uma palavra que une e compele a militância a fazer mais do que seria o “possível”, e eu vi a luta por cada argumento e cada voto até a eleição de Lula.

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Bolsonaro também não acreditava na mídia independente. Os “blogueiros” como a elite política dirigente costuma adesivar de forma pejorativa. O fato é que, quando todos os espaços de comunicação da mídia monopolista estavam abertos para Bolsonaro, foi o trabalho de formiguinha na internet, que abriu espaço num campo hostil da disputa das explicações do mundo. Bolsonaro criou o “gabinete do ódio” e usou todos os seus recursos para fazer os canais de extrema direita crescerem. Contou com verba pública, de partido e de “empresários” e criou um ecossistema criminoso de comunicação que o STF ainda está penando para desmontar. Assim como o regime militar não acreditou nos micro jornais (como o Pasquim), e como a Alemanha nazista não acreditava nos panfletos dos partidos de esquerda, Bolsonaro não acreditou no vigor da mídia independente.

O resultado, nós comemoramos em outubro de 22.

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Ocorre que, se tivéssemos o poder de retornar a outubro de 2021, muito provavelmente, as avaliações que Bolsonaro fazia do seu próprio governo e das chances de reeleição eram tão otimistas quanto as avaliações que hoje fazemos do primeiro ano de governo Lula. Hoje, cometemos o grave erro de nos compararmos com “o governo Bolsonaro” e eu tenho apontado o quanto isso nos desvaloriza. Com a régua tão baixa, qualquer coisa parece bom. O governo atual precisa se comparar com o segundo mandato do próprio presidente Lula. Precisamos olhar para o desânimo e a falta de apoio que o governo enfrenta entre professores e alunos por todo o país. Precisamos perceber o quanto a base de esquerda esta rachada pela discussão entre os que defendem antiquadas teorias econômicas e aqueles que pregam que o aumento de gastos pode gerar crescimento.

É preciso perceber o quanto o bolsonarismo recuperou terreno entre a classe média brasileira através de ações equivocadas de economia e da falta de uma comunicação vigorosa com este setor. É preciso ver o quanto a proximidade com Lira e a contração das pautas de esquerda nos prejudicam com a mesma militância que foi a chama viva da resistência entre 2018 e 2022. Nos cálculos de cargos por votos, nunca entram variáveis como “apoio popular”, “mobilização da base”, “projeto nacional”, “estratificação de interesses” e “representação pedagógica da política”. Parece que tudo se resume a um mesmo cálculo batido da política analisada pelo economicismo utilitarista.

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Se é verdade que Bolsonaro subestimou o povo e superestimou seus poderes e seu apoio, nós, na esquerda, não podemos devolver o favor. Luiz Inácio Lula da Silva foi o único líder, na história do mundo a vencer democraticamente um líder fascista. Isso nunca tinha ocorrido. Seja porque o fascismo controla o Estado e organiza fraudes, seja porque o discurso fascista desmobiliza a base política da própria esquerda. A fala da presidenta Gleisi Hoffmann, do PT, é muito acurada: “se a popularidade do presidente Lula cair, este Congresso nos engole”. A mesma fala porém, traz um componente de uma crítica dura. Um governo não vive apenas do capital político do seu líder. 

O fim de 2023 não é hora de o Narciso adorar sua beleza. Não podemos devolver o favor ao bolsonarismo fascista. 

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