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Aldo Fornazieri

Professor da Fundação Escola de Sociologia e Política e autor de "Liderança e Poder"

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O erro de Freixo

"A não constituição da frente de esquerda no Rio de Janeiro não justifica a desistência de Freixo na disputa municipal. Até porque o gesto da renúncia à candidatura não produziu nenhum efeito nas esquerdas pelo país afora", escreve Aldo Fornazieri

Deputado federal Marcelo Freixo (PSOL) (Foto: GILMAR FELIX/Câmara dos Deputados)
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A decisão do deputado Marcelo Freixo (PSol) de não disputar a prefeitura do Rio de Janeiro é eivada de equívocos. Ele só aceitaria ser candidato se houvesse uma unidade dos partidos de esquerda em torno do nome dele. Não há razão para tanto. O fato de Bolsonaro ser presidente do Brasil não é uma condicionalidade da unidade das esquerdas. Bolsonaro não disputará as eleições municipais com uma poderosa força partidária própria. Apoiará candidatos que tenham alguma afinidade com ele e, outros, que possam lhe agregar dividendos políticos.

O outro argumento alinhado por setores da esquerda em defesa da unidade – o de que o Brasil estaria sob a ameaça de uma ditadura fascista – também não procede. Bolsonaro não tem força objetiva para dar um autogolpe. Um terceiro momento alinhado por Freixo também não tem fundamento real: o de unir as esquerdas para construir um projeto para o Brasil. Eleições municipais podem até contribuir para tal projeto, mas não são seu eixo articulador principal. 

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Eleições municipais, inclusive as alianças, se definem por dinâmicas locais e não pela dinâmica nacional, como quer sugerir Freixo. Os partidos de esquerda precisam pensar em definir como enfrentarão o problema Bolsonaro em 2022 e não nas eleições municipais. Eleições municipais representam o momento de maximização dos interesses dos partidos, pois é na base da pirâmide federativa que eles devem se construir enquanto alternativas partidárias. Isto, contudo, não significam que em várias cidades, a depender dos interesses e das dinâmicas locais, não se formem frentes de esquerda. Isto está ocorrendo, por exemplo, e salvo mudanças de última hora, em Florianópolis e em Belém.

Mas, note-se, então, que a formação de frentes de esquerda não é a marca das eleições municipais deste ano. E não é a marca porque a realidade política não impõe esse processo. Frentes podem se constituir por vários motivos, mas não por aqueles apontados por Freixo. A chance de vitória de um candidato pode atrair os demais partidos de esquerda. Este pode ser o caso de Belém. Em Florianópolis, a frente parece ter se definido porque houve uma pressão externa aos partidos, vinda de movimentos sociais, para que a frente se constituísse. Unidades de partidos de esquerda geralmente se formam nas lutas concretas. E como estamos vivendo um momento de escassez de mobilizações políticas, torna-se difícil que a pressão unitária das bases consigam constranger os interesses das cúpulas partidárias pela unidade.

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Diante disso, a não constituição da frente de esquerda no Rio de Janeiro não justifica a desistência de Freixo na disputa municipal. Até porque o gesto da renúncia à candidatura não produziu nenhum efeito nas esquerdas pelo país afora. Sequer produziu efeitos no PSol. A unidade de esquerda se formaria no segundo turno, dada possibilidade forte que Freixo teria chegar em primeiro ou segundo lugar no primeiro turno. Ao contrário do que pensa, Freixo contribuiria mais para a unidade das esquerdas no Rio se fosse candidato mesmo sem a frente e disputasse o segundo turno com o apoio dos demais partidos de esquerda

Ao desistir da candidatura, Freixo sonega a muitos eleitores do Rio de Janeiro a possibilidade de apoiar uma opção altamente competitiva, principalmente num momento de crise política generalizada na cidade. Freixo deixa de contribuir com o próprio fortalecimento do PSol num momento em que o partido tem vários candidatos competitivos em cidades importantes.

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O PT é o maior partido de esquerda e ainda vai sê-lo por um bom tempo. Mas, neste momento, o PT vive um momento de relativo isolamento. A direção burocrática do PT tem impedido que o partido se refaça dos reveses e se fortaleça com uma nova perspectiva. Essa direção tem feito o partido perder potência e capacidade hegemônica, entendida como capacidade de coordenação de outros agrupamentos partidários e políticos e de movimentos sociais. Para exercer a hegemonia, um partido precisa lutar pelos seus interesses, mas sabendo atender também os interesses dos aliados. Foi esta capacidade que o PT perdeu. O pronunciamento de Lula do dia 7 de Setembro foi uma sinalização para que tanto ele, Lula, quanto o partido, saiam da defensiva.

Essas dificuldades do PT abriram espaços para o crescimento do PSol. O PSol poderá sair das eleições com uma nova condição de força política. O fortalecimento do partido, a organização e consolidação de força política, dariam a ele mais capacidade de interferir no cenário do jogo político nacional de forma mais incisiva em relação à sua força atual. A candidatura de Freixo contribuiria de forma aguda para que o partido adquirisse essa condição.

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Na história, raramente a renúncia fortaleceu um ator político ou contribuiu para fortalecer alguma causa, algum partido, algum exército, alguma nação. O que se ganha com a renúncia da candidatura de Freixo? Nada! Absolutamente nada. Freixo perde, o PSol perde, a esquerda do Rio perde e o eleitorado progressista da cidade perde. Esse somatório de perdas são provas de que Freixo está equivocado ao não concorrer. 

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