Jair de Souza avatar

Jair de Souza

Economista formado pela UFRJ, mestre em linguística também pela UFRJ

285 artigos

HOME > blog

O escândalo do Banco Master e a autonomia do Banco Central

Creio que os partidos do campo popular deveriam levar adiante uma campanha conclamando pela realização de um plebiscito que venha a pôr fim a autonomia do BC

São Paulo (SP) - 11/08/2025 - O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo (Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil)

Em fevereiro de 2021, em pleno governo de Bolsonaro e seu “posto Ipiranga”, Paulo Guedes, publiquei um artigo (https://www.brasil247.com/blog/a-autonomia-do-banco-central-e-um-golpe-muito-forte-contra-a-soberania-popular) para alertar sobre a fase de graves riscos que a nação estava prestes a adentrar caso o Congresso Nacional viesse a aprovar a proposta de autonomia do Banco Central que estava por ser votada.

Lamentavelmente, apesar de nossa oposição e resistência, a aliança da extrema direita bolsonarista com os interesses do grande capital financeiro e a mídia corporativa a este associada conseguiu se impor e, no final, a autonomia foi aprovada.

É certo que, naquele momento, com um governo bolsonarista inteiramente subserviente ao grande capital financeiro, haveria poucas diferenças em termos práticos, ou seja, tudo continuaria na mesma toada, com os grandes grupos financeiros ditando a seu bel prazer os rumos de nossa política financeira. Aliás, tinha sido por seu consentimento prévio com esta particularidade que a extrema direita bolsonarista recebeu o apoio maciço de todos os setores vinculados aos interesses da lucratividade rentista.

No entanto, como procuramos expor naquela oportunidade, aquela medida não representava uma ameaça especificamente para a situação vivenciada por então, visto que, com o governo bolsonarista, as grandes instituições já mandavam e desmandavam na conduta do Banco Central. O grande problema dessa formalização é que ela poderia inviabilizar quaisquer propostas que desagradassem os donos do capital, mesmo que um novo governo de cunho popular viesse a substituir o dos entreguistas e antipovo constituído pelo bolsonarismo.

Infelizmente, agora, ao chegarmos ao final do ano 2026, estamos constatando que todas aquelas previsões negativas se confirmaram. Ainda que tenhamos derrotado a podridão do nazibolsonarismo nas urnas em 2022, o novo governo que assumiu se vê impossibilitado de levar adiante da maneira como pretendia as medidas econômicas necessárias para aliviar as dificuldades de nosso povo e gerar melhores condições de vida para as maiorias. Avançou-se bastante, é verdade, mas muito menos do que poderia ter ocorrido caso o novo governo tivesse um Banco Central operando como aliado, e não como principal adversário.

Se estamos falando sobre a crise do tal Banco Master e o papel do Banco Central e do Judiciário na mesma, isto se deve, em grande medida, ao fato de que a principal instituição reguladora do mundo financeiro em nosso país não está mais sob o controle de quem foi eleito pelo povo.

Atualmente, com a junção do poder fático, que sempre tiveram, e o poder formal, que adquiriram no governo bolsonarista, os grandes conglomerados rentistas estão cada vez mais em condições de fazer e desfazer a política financeira. E esta não afeta tão somente aos banqueiros e seu reduzido grupo de apaniguados, mas à totalidade de nossa população. A bem da verdade, os ganhos ficarão apenas com os primeiros, já as perdas serão devidamente socializadas.

Por tudo isso, creio que os partidos do campo popular deveriam ter como uma de suas principais propostas para o início deste novo ano levar adiante uma campanha conclamando nosso povo a pressionar pela realização de um plebiscito que venha a pôr fim a autonomia do Banco Central, para que o BC volte a ser um instrumento a serviço do governo eleito pelo conjunto do povo, e não somente para atender os donos das instituições que vivem do rentismo.

Aproveito para sugerir a todos que releiam o artigo mencionado ao princípio deste texto (https://www.brasil247.com/blog/a-autonomia-do-banco-central-e-um-golpe-muito-forte-contra-a-soberania-popular), para conferir se o panorama ali descrito confere com o que a atualidade nos está apresentando.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.