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Daniel Quoist

Daniel Quoist, 55, é mestre em jornalismo e ativista dos direitos humanos

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O escorregador-geral do Brasil

Aécio muito em breve será conhecido como aquele presidenciável que muito fala e nada diz. Pode perder a presidência do Brasil, mas ganha o cargo de Escorregador-Geral do Brasil

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Mais um pouco e Aécio Neves, o candidato do PSDB à presidência da República, ganha o prêmio de Escorregador-Geral do Brasil. Isto ficou mais que evidente ao longo da entrevista que concedeu na segunda, 2 de junho, à Roda Viva, da TV Cultura. Indecisão e hesitação vieram para ficar em seu discurso onde tudo é incerto, nada é assertivo, e frases afirmativas só existem como reforço de lugares-comuns.

Aécio fala em cortar em 50% o número de ministérios. Isso seria por volta de uns 20. Mas Aécio não dá nenhuma pista de qual ministério seria guilhotinado. Tudo no mais profundo breu. O que se presume que, como vem sendo costume seu, suas propostas de governo são vazias de conteúdo e atendem apenas à orientação de seu marqueteiro político.

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Aécio fala em manter o Bolsa Família e o Mais Médicos. À guisa de fundamentar racionalmente o porquê da manutenção, a resposta é aquela que se presta a qualquer outro assunto, de jogo de futebol a cartas do Tarô, "só que com alguns aperfeiçoamentos". Mas Aécio é incapaz de elencar ao menos um – apenas um único - desses aperfeiçoamentos. Ao contrário, opta pelo uso de surrados chavões: "Bolsa Família para o PT é ponto de chegada, para o PSDB é de partida".

Aécio fala que apoiará reforma política para reduzir o número de partidos para "sete ou oito", para estabelecer o voto distrital misto e listas partidárias, o fim da reeleição, coincidência das eleições municipais, estaduais e nacionais e mandato de cinco anos para todos os cargos eletivos. Mas Aécio deixa nas brumas de Avalon os nomes dos 7 ou 8 partidos sobreviventes e não mencionar nem meia dúzia dos quase 30 partidos políticos que em sua visão simplesmente deixariam de existir. Poderia aproveitar para falar sobre como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a maior liderança de seu partido, conseguiu aprovar a emenda da reeleição, mas preferiu ficar apenas na manchete. Quanto a voto distrital misto e listas partidárias também não tem deixado quaisquer pistas sobre seu pensamento.

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Aécio fala sobre drogas, aliás, tema que parece ser recorrente desde a semana passada até o dia das eleições, na primeira semana de outubro de 2014. Mas o que ele fala?

Sobre maconha: "Fumei uma vez quando tinha 18 anos de idade e nunca mais" e "sou contra a descriminalização da maconha". Fica difícil acreditar na sinceridade do candidato: fumou uma só vez, alguém da classe média alta que passou quase toda a juventude na zona sul do Rio de Janeiro, transitando célere entre Copacabana, Ipanema e Leblon, bairros conhecidos por uma juventude muito chegada ao uso de drogas, reduto de atores, atrizes e demais funcionários da TV Globo. E se alguns de seus amigos geracionais vierem a público afirmar que 'deram uns tapas' alguns anos depois, época em que ele já tinha 20, 25, 30 anos?

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Sobre cocaína: "Não conseguem dizer que sou desonesto, incompetente, então de alguma forma alguns dos ataques precisam vir." No Roda Viva, o conceituado jornalista Barros e Silva, agora na revista Piauí, citou uma partida da seleção brasileira contra a Argentina em 2008, no Mineirão, em que os torcedores fizeram um grito relacionando Aécio com Maradona, que já teve problemas com o uso da droga.

A resposta de Aécio, sentindo-se acuado pela contundência do questionamento, foi uma clássica tentativa de mudar o enfoque, fugir do assunto pela tangente. "Não vale a pena perdermos tempo com o submundo" e também "... a calúnia, a infâmia, não podem tomar o tempo de jornalistas tão qualificados como os que estão aqui [no Roda Viva] e nem o meu" afirmou ele.

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Ainda no Roda Viva, coube a Barros e Silva personificar a verve do bom jornalista, aquele que vai direto ao ponto, sem tergiversar, no momento em que candidamente refrescou a memória dos demais entrevistadores e, principalmente, do ilustre entrevistado: "E artigo de José Serra em fins de 2013, ele que já travou disputas internas contra Aécio no PSDB, escreveu que o debate sobre o consumo de cocaína deveria pautar o debate eleitoral em 2014."

Estamos vendo que José Serra, além de político reconhecido pelo elevado grau de desagregação e de cizânia que engendra em qualquer campanha eleitoral de que participe, possui também dom quase proféticos. O certo é que perguntas relacionando o presidenciável de seu partido com o uso de drogas é já uma realidade incontornável. E isso, nem tendo ainda iniciado oficialmente a campanha e seus muitos debates televisivos programados.

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Aécio vai precisar de bom estoque de argumentos para rebater a questão das drogas. Desviar o assunto para o campo das calúnias virtuais dificilmente arrefecerá o debate. Ao contrário, vai inflamá-lo.

Aécio muito em breve será conhecido como aquele presidenciável que muito fala e nada diz. Pode perder a presidência do Brasil, mas ganha o cargo de Escorregador-Geral do Brasil.

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P.S.: Por que sempre perguntam ao Aécio essa questão da cocaína?

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