O estranho no ninho
"Como no filme, onde um prisioneiro simula estar insano para ser transferido para um sanatório, tenho a impressão de que Bolsonaro também tenta iludir a população de suas deficiências intelectuais e de compreensão da realidade para justificar sua falta de capacidade administrativa", escreve Florestan Fernandes Jr., do Jornalistas pela Democracia
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Por Florestan Fernandes Jr., para o Jornalistas pela Democracia - Nesta terça-feira, 17 de março, ocorreu a primeira morte confirmada por coronavírus no Brasil. A vítima é um homem de 62 anos que tinha diabetes e hipertensão e estava internado em um hospital da Prevent Senior, um plano de saúde para idosos.
O falecido é três anos mais novo que o presidente Bolsonaro, que tem desdenhado não só dos riscos de contrair o vírus, como de propagar a doença. As imagens de populismo insano e irresponsável que ele protagonizou no domingo passado (15/03), em frente ao Palácio da Alvorada, vão ficar para sempre como referência do período mais obscuro da nossa República. O primeiro chefe de Estado brasileiro que, em plena crise econômica e de ameaça à saúde pública é incapaz de desempenhar minimamente as funções exigidas pelo cargo que ocupa.
Ao abraçar, cumprimentar e tirar selfies com militantes fanáticos, Bolsonaro não só colocou em risco a vida dele e dos que o rodearam na patética manifestação contra o Congresso e o Supremo, mas também a de milhões de brasileiros que tem no presidente da República a referência maior a ser seguida.
Seu ato foi reconhecido como insano por todos, da esquerda à extrema-direita. A deputada Janaína Paschoal pediu o afastamento do ex-companheiro de campanha. Críticas também vieram do governador de Goiás, Ronaldo Caiado. E o jurista Miguel Reale foi ainda mais longe: quer um exame de sanidade mental de Jair Bolsonaro.
Realmente, o olhar ensandecido de Bolsonaro lembra muito o do personagem Randle Patrick, interpretado magistralmente por Jack Nicholson em “O Estranho no Ninho”. Como no filme, onde um prisioneiro simula estar insano para ser transferido para um sanatório, tenho a impressão de que Bolsonaro também tenta iludir a população de suas deficiências intelectuais e de compreensão da realidade para justificar sua falta de capacidade administrativa.
Nos quase 30 anos como parlamentar, Bolsonaro teve como seus principais interlocutores políticos os três filhos, o mentor intelectual deles, Olavo de Carvalho, deputados do baixo clero ligados a igrejas pentecostais e os ex-colegas de farda, boa parte deles envolvida com as milícias do Rio de Janeiro. Um grupo incapaz de elaborar um projeto mínimo de governo. Nomes que não servem sequer para compor o terceiro escalão de governo. Não à toa, Bolsonaro quis fazer do filho mais velho embaixador nos EUA. O mais novo tem liberdade e desenvoltura para indicar e demitir ministros como aconteceu com Gustavo Bebianno.
Sem nomes para o primeiro escalão, Bolsonaro tem lançado mão dos generais. São tantos que, hoje, a Esplanada dos Ministérios mais parece um imenso quartel-general. Mesmo assim, Bolsonaro é um estranho no ninho que construiu. Ele desconfia de todos que se empoleiraram no poder, sejam eles generais, almirantes, marechais-do-ar ou até de ministros civis como Guedes e Moro.
Bolsonaro procura sua base radical para se sentir fortalecido. A proposta autoritária é típica dos fracos que não tem envergadura e conhecimento suficientes para enfrentar uma pandemia e uma crise econômica sem precedentes.
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