O ex-presidente que prometeu moralizar a política e acabou preso
Fernando Collor de Mello que, com apoio da Globo, prometeu "caçar marajás", encerra trajetória marcada por escândalos e reincidência, escreve Aquiles Lins
A prisão de Fernando Collor de Mello nesta sexta-feira (25) encerra uma das trajetórias mais controversas da política brasileira. O “caçador de marajás”, que em 1989 venceu Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno das eleições presidenciais com o total apoio da Globo, o político alagoano que seduziu o país no primeiro pleito direto pós-ditadura encerra a carreira como réu condenado por corrupção, exposto por provas robustas de favorecimento a empreiteiras em contratos milionários da BR Distribuidora. Collor foi detido às 4 horas da manhã, "quando estava se deslocando para Brasília para cumprimento espontâneo da decisão do ministro Alexandre de Moraes".
Com uma pena de oito anos e dez meses em regime fechado, o ex-presidente, que está com 74 anos, foi considerado culpado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, com base em delações, planilhas de pagamento, mensagens interceptadas, registros de visitas e contratos suspeitos. Segundo o Ministério Público Federal, Collor usou sua influência política para interferir diretamente na BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras, e favorecer a UTC Engenharia. O esquema teria rendido a ele cerca de R$ 20 milhões. As provas foram consideradas consistentes pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que rejeitou os recursos da defesa e autorizou a prisão, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes. O plenário virtual do STF já iniciou o julgamento que decidirá se mantém ou revoga a decisão de Moraes. A análise ocorre no plenário virtual da Corte e deve durar até as 23h59, com a participação dos 11 ministros.
Precisamos combinar que este caso da UTC não é nada parecido como um debut para o ex-presidente. Como sabemos, Collor já protagonizou outro episódio dramático da política nacional: o primeiro impeachment da história republicana brasileira, em 1992. Na época, as denúncias de corrupção envolvendo seu tesoureiro de campanha, PC Farias, deflagraram uma crise institucional que o levou a renunciar para tentar escapar do julgamento político. Não conseguiu: teve os direitos políticos cassados por oito anos.
Retornou à vida pública em 2006 como senador por Alagoas, evidenciando a capacidade de regeneração política de figuras envolvidas em escândalos — e, talvez, a memória curta de parte do eleitorado. De lá para cá, o ex-presidente sempre esteve alinhado aos interesses do neoliberalismo selvagem e da extrema-direita. Apoiou o impeachment sem crime de responsabilidade de Dilma Rousseff, ou seja, coadunou com o golpe de 2016, e apoiou incondicionalmente o governo fascista de Jair Bolsonaro, bem como sua reeleição fracassada.
O caso de Collor também nos serve uma lembrança incômoda: o falso combate à corrupção como ferramenta de manipulação política pela direita e extrema-direita no Brasil. Figuras que surgem com discursos moralistas, como Collor, Sérgio Moro, Jair Bolsonaro e tantos outros, frequentemente acabam tragadas pelo mesmo sistema que prometeram reformar. E a punição, quando chega, é lenta, tardia e, muitas vezes, insuficiente para restaurar a confiança da sociedade nas instituições.
O que sobra é o homem que chegou à Presidência com a promessa de modernizar o Brasil terminando sua carreira como símbolo de tudo o que prometeu combater. Que sua queda definitiva sirva ao menos como alerta para o presente: carisma, juventude e retórica moralista não bastam — sem compromisso com a ética, toda promessa de renovação é apenas mais uma farsa.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

