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Jose Carlos de Assis

Economista, doutor em Engenharia de Produção pela Coppe-UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPB

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O fantasma de Tancredo persegue Bolsonaro

Aos que tem memória não é difícil reconhecer na saga cirúrgica de Bolsonaro elementos da tragédia de Tancredo Neves: flutuações nas condições clínicas, idas e vindas de boletins médicos, extrema ansiedade do paciente - um para tomar posse como presidente da República, outro para participar ativamente da campanha presidencial

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Aos que tem memória não é difícil reconhecer na saga cirúrgica de Bolsonaro elementos da tragédia de Tancredo Neves: flutuações nas condições clínicas, idas e vindas de boletins médicos, extrema ansiedade do paciente - um para tomar posse como presidente da República, outro para participar ativamente da campanha presidencial. Essa situação me ocorreu desde o dia seguinte ao da entrada de Bolsonaro no hospital. Ocorreu-me que ele é energético demais para tolerar um tratamento muito prolongado longe dos palanques.

Não será de surpreender que, em vista da demora dos resultados clínicos, Bolsonaro passe a insultar a equipe médica. Aparentemente já o fez com uma enfermeira. Tendo em vista sua inclinação para teorias conspiratórias não será difícil que conclua que o atentado foi uma cilada para tirá-lo da campanha presidencial. Agora há nessa interpretação também elementos externos: a revista "The Economist", um dos ícones da direita mundial, apontou nele um risco não apenas para o Brasil, mas para o mundo.

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Com seu temperamento paranóico e sua visão de mundo primitiva, o candidato Bolsonaro está amargando a solidão do hospital levantando todas as hipóteses possíveis para sua desdita. Terá compulsoriamente de encontrar culpados. Isso vai exasperá-lo na medida mesma em que ele não pode de maneira racional ir além do esfaqueador solitário. Assim, tende a ser comandado pela emoção. E a emoção será última companheira para um restabelecimento pleno dos ferimentos recebidos.

Isso nos leva inevitavelmente a pensar no vice. O general Mourão tem dito tanta coisa imprópria na campanha que nos apavora a possibilidade de assumir a Presidência. Entretanto, ele apavora menos que Bolsonaro porque parece menos errático. Suas declarações tem merecido da mídia mais atenção que o conteúdo. A menção ao 13º. salário, por exemplo, com que tentaram crucificá-lo, não passou de um observação ligeira, pessoal, que de forma alguma se confundia com uma intenção política de eliminá-lo.

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Isso, aliás, é típico do raciocínio linear dos militares. A existência de 13º. salário se deveu a uma correção no valor dos salários anuais dos trabalhadores. Se falarmos em salário anual, e não salário mensal, o 13º. salário desaparece dentro dele. Nessa condição, ele está definitivamente incorporado à forma de pagar salários no Brasil, não importando as patacoadas de assessores empresariais, como o sociólogo José Pastore, que atacam o 13º. como se fosse um valor adicional à parte do salário do trabalhador.

O general Mourão não é muito diferente de outros militares que são doutrinados por "pensadores" civis que rondam os quartéis. De fato, desde o golpe de 64 que uma espécie de doutrina civil de direita penetrou na caserna. Mais recentemente, com a abertura da Escola Superior de Guerra, o ambiente militar ficou mais arejado ideologicamente. Eu próprio fiz diversas palestras lá, em situação de plena abertura, mas sinceramente gostaria que a Escola desempenhasse um papel mais ativo no desenvolvimento do pensamento civil-militar.

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Acho que, em algum momento, generais quatro estrelas como Mourão passarão por um processo de pedagogia da realidade de que não escapa ninguém com senso de responsabilidade, principalmente se o objeto de pedagogia for o país. Se os fados indicarem, Mourão acabaria sendo presidente da República como aconteceu com Sarney. E da mesma forma que Sarney foi drasticamente rejeitado pela esquerda, que lhe negou o voto, Mourão pode assumir pelo menos enquanto Bolsonaro não estiver em perfeitas condições de saúde, construindo uma ponte com forças progressistas.

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