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Michel Zaidan

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O 'fenômeno' Bolsonaro

Quanto mais simples e apelativo, melhor. Dispensa o trabalho duro da reflexão crítica, do contraponto das idéias e a importância do contraditório. Então começa o desfile dos esteriótipos, dos preconceitos, das idéias feitas

O 'fenômeno' Bolsonaro

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Viajei, neste fim de semana, com 3 jovens, trabalhadores autônomos, que votam em Jair Bolsonaro e são encarniçadamente anti-lulistas. Fiquei imaginando o que leva essas pessoas tão jovens e de escassa experiência na vida política brasileira a defender a candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência da República e a anatemizar a figura do ex-presidente LULA, isso numa cidade que é majoritariamente lulista, mas que também realiza nesses próximos dias um Congresso Eucarístico Nacional. É quando me lembro da foto de um outro congresso, o congresso dos integralistas, realizado em 1937. Teria a religião - numa modalidade de fé fundamentalista, ultramontana e conservadora - sido responsável pela formação de uma mentalidade pequeno-burguesa tão reacionária, sobretudo entre os mais jovens.? Fiquei com uma interrogação na cabeça e pus-me a refletir sobre as fontes que alimentam o 'fenômeno' bolsonarista.

Em primeiro lugar, dei-me conta de que é mais fácil impressionar o eleitor (jovem) desapontado com os rumos do país e seus reflexos na vida pessoal de cada um, se o discurso de campanha for simplório, reducionista, bem simples. Candidatura mais elaboradas, com agendas complexas demais, não empolgam um eleitor acostumado a formar sua opinião pelos veículos de comunicação de massa, onde quase tudo é "fake" e quase nada é fato. Quanto mais simples e apelativo, melhor. Dispensa o trabalho duro da reflexão crítica, do contraponto das idéias e a importância do contraditório.

Então começa o desfile dos esteriótipos, dos preconceitos, das idéias feitas : primeiro, é preciso combater a corrupção, a roubalheira, prender e punir exemplarmente os ladrões. E só um candidato - de origem militar - como Bolsonaro tem a mão forte suficiente para acabar com a bandalheira. Os outros, são meros demagogos. São do mesmo ramo dos ladrões. Não falam sério. Vão fazer a mesma coisa. Segundo, o candidato bolsonarista vai acabar com a violência urbana, os assaltos, os homicídios, a insegurança pública, a ameaça ao patrimônio - duramente conquistado - das pessoas. E isso porque não acredita na chorumela dos direitos humanos e seus defensores. Não pode existir direitos humanos para ladrão, assassino, estuprador etc. Terceiro, Bolsonaro vai proteger a família brasileira da ameaça do homossexualismo, das lésbicas e transsexuais. Uma vergonha para as pessoas de bem (bens) da nosso amado país. As minorias sexuais serão banidas do território nacional, caso ele vença. Quarto, LULA é ladrão, enriqueceu através da roubalheira e é de esquerda. E aqui o preconceito junta-se à desinformação para produzir o eleitor bolsonarista típico.

O PT, os candidatos petistas e o ex-presidente LULA, em especial, são execráveis porque são, ao mesmo tempo, gatunos e esquerdistas, amigos de Cuba, de Maduro, de José Mojica Mariz e Rafael Correia. Aqui a ignorância campeia e alimenta o ódio. De nada adianta argumentar que LULA nunca se definiu como candidato comunista, socialista ou esquerdista. Que o PT foi na melhor das hipóteses um arremedo de partido socialdemocrata (apesar da existência de diversas correntes em seu seio), num país que nunca conheceu "estado de bem-estar social. Que as políticas redistributivas do governo petista nunca colocaram em risco patrimônio nenhum. Que quando o ensaio de política anti-cíclica foi posta em prática pela Presidente Dilma, apoiada no fundo público, todo mundo estava satisfeito. Que LULA, como qualquer presidente, tornou-se o maior incentivador e promotor da venda das'commodities' brasileiras no exterior. Enfim, a ignorância é mesmo o caldo quente onde proliferam as bactérias da intolerância, do fascismo, do desrespeito aos direitos humanos.

Só é mais lamentável ainda porque infectam, como uma peste - a cabeça daqueles que deveriam estar aberto aos ventos da renovação, da mudança, mas que estão sendo capturados pela tempestade do autoritarismo e da manutenção de privilégios e injustiças sociais.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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