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Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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O filme da Petra é insuportável para a direita

"O filme da Petra já está consagrado. Expõe a nível mundial o que aconteceu e segue acontecendo no Brasil, ao mesmo tempo que chama a atenção sobre os riscos que a democracia corre no mundo", escreve o sociólogo Emir Sader. "Quem nega o golpe de 2016 se situa diretamente no campo da antidemocracia", acrescenta

(Foto: Divulgação)
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A simples indicação do filme da Petra Costa para o Oscar de documentário causou verdadeira vertigem na direita brasileira. O sucesso de uma diretora de esquerda, uma mulher, de grande trajetória cultural, já por si incomoda à direita.

Mas o filme é muito mais do que isso. O filme atinge o nervo da narrativa fabricada pela direita brasileira sobre a nossa história nestes anos dolorosos e cruciais. Há muita gente que confessa que se equivocou ao votar no Bolsonaro. Há os que chegam a confessar o arrependimento de ter aceito as acusações falsas ao Lula.

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Mas há um momento na realização da implantação do regime de exceção, momento essencial, sobre o qual nenhum deles reconhece que se equivocou. Foi o golpe contra a Dilma, o impeachment sem fundamento, que representou a ruptura da democracia, restaurada com grande esforço no Brasil, depois de mais de duas décadas de ditadura militar.

Além do sucesso de uma jovem diretora brasileira, além do desmentido de que não fazemos bons filmes, além de tudo isso, o filme desmente a versão oficial da direita. O golpe, o que eles chamam de impeachment, foi o momento decisivo que mudou radicalmente a vida política do Brasil. Ali se dividiram frontalmente democratas e antidemocratas.

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Da mesma forma que o golpe de 1964 opôs diretamente democratas e antidemocratas, o golpe de 2016 fez o mesmo. A transparência daquele episodio é tal, a falta de justificativa jurídica para a derrubada de uma presidenta reeleita democraticamente pela maioria dos brasileiros menos de dois anos antes, que até hoje o STF não julgou o episódio mais grave que pode ocorrer na democracia. Não o julga, porque se encarar os fatos e abrir a Constituição, não ia encontrar nenhum fundamento para validar o impeachment. A chamada “pedalada fiscal” não se encontra entre os causais de impeachment. O STF teria que ficar entre reafirmar seu papel no Estado de direito de garantia da Constituição ou de – da mesma forma que tinha feito em 1964 -, aderir a essa ruptura da democracia e compactuar com esse novo golpe.

Então ha lista de arrependidos de ter apoiado o presidente atual, de ter aderido à condenação do Lula, mas não há arrependidos de terem apoiado o golpe de 2016. Porque o discurso da direita depende daquele elo indispensável – que a derrubada da presidenta foi constitucional. Jornais que despotricam contra o presidente atual, que o consideram completamente despreparado para o cargo, que chegam a mencionar o apelo a um novo impeachment, não se atrevem a reconsiderar sua adesão ativa e indispensável ao golpe de 2016.

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Sem o que ninguém conseguiria explicar porque um miliciano e seus filhos assaltaram o governo e, desde ai, dirigem o pais como quem dirige uma milícia. Não fosse aquela ruptura, o pais teria tido eleições democráticas em 2018, em que um candidato com a trajetória daquele à que a direita se jogou nos braços, teria que ter enfrentado debates. Em que teria que se enfrentar ao Lula, em que a polarização real do pais entre neoliberalismo e antineoliberalismo, entre prioridade das questões sociais e prioridade do desmonte do Estado, estaria no centro dos debates, como havia estado nas quatro eleições precedentes, com todas as possibilidades de um resultado similar.

As verdades do filme da Petra são insuportáveis para a direita, em todas suas vertentes. O governo apela para recursos públicos e espaços públicos, para atacar a Petra e seu inquestionável filme, como se atacar a esse governo fosse atacar ao Brasil. Temer financia um documentário para reivindicar sua medíocre visão de tudo o que passou. O biografo do seu patrão na Globo, se irrita com o sucesso de Petra e do seu filme, que o descoloca como cineasta e como biografo fracassado.

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O filme da Petra já está consagrado. Expõe a nível mundial o que aconteceu e segue acontecendo no Brasil, ao mesmo tempo que chama a atenção sobre os riscos que a democracia corre no mundo. Incapacitados para discutir a versão que o filme expõe com clareza, buscam desviar a atenção para outros temas. Porque a oposição entre democracia e antidemocracia é fatal para a direita. E quem nega o golpe de 2016 se situa diretamente no campo da antidemocracia. 

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