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Lejeune Mirhan

Sociólogo, Professor (aposentado), Escritor e Analista Internacional. Foi professor de Sociologia e Métodos e Técnicas de Pesquisa da UNIMEP e presidente da Federação Nacional dos Sociólogos – Brasil

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O fim da unipolaridade e a consolidação de um mundo multipolar

Já podemos dizer que vivemos plenamente em um mundo multipolar ou ainda é certo dizer que estamos em transição?

Presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da China, Xi Jinping (Foto: REUTERS)
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Por Lejeune Mirhan

Em todas as análises que tenho feito nos diversos programas em que participo semanalmente, tenho dito que o mundo vive uma transição da unipolaridade de 1991 para a multipolaridade. Nem bem a unipolaridade acabou, porque ainda é forte o poder dos Estados Unidos e, nem bem a multipolaridade se consolidou. Estou evoluindo meu pensamento sobre a possibilidade de a transição estar conclusa. Já estamos em um mundo multipolar. Trata-se de uma tese que é preciso comprovar (1).

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Eu sempre trabalhei com a tese de que o mundo multipolar é composto por muitos polos. Então, de fato hoje temos Rússia e China, além, claro, dos EUA. Brasil e Índia, ainda que estejam subordinados ao imperialismo estadunidense, também não deixam de ser polos. A União Europeia-UE, ainda que subordinada aos EUA, também é um polo. Existem contradições nos polos da União Europeia e Índia.

Mas, se formos ver corretamente, a concepção não é esta. A concepção de mundo multipolar que esposo no momento, afirma que pode existir apenas um polo alternativo e, ainda assim, poderíamos entender o mundo como multipolar, ou seja, quando um ou mais polos – não importa quantos –, consegue conter o projeto hegemônico do outro polo.

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E, se formos olhar de forma mais atenta, temos vários exemplos de que isto já está acontecendo. Os Estados Unidos já não conseguem mais dominar a maior parte do mundo como antes. Minha pretensão neste novo ensaio é tentar demonstrar exatamente isso, com dados e fatos ocorridos no mundo desde 26 de dezembro de 1991, quando a bandeira soviética foi arriada no Kremlin e a bandeira tricolor do czarismo foi hasteada.

Os principais fatos desde 1991

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Cinco importantes datas que, a meu julgamento, são fundamentais para percebermos as grandes movimentações dos polos alternativos vieram fazendo ao longo desses trinta anos. Percebam que a primeira data vai ser registrada apenas cinco anos depois do fim da URSS.

E ainda assim, era uma formação preliminar, que só se concretizaria cinco anos depois, ou seja, dez anos após a derrocada completa do chamado “campo do socialismo real”, que devemos ler como “área de influência da URSS”. Vamos aos fatos, todos eles explicados em detalhes a seguir em cada ano:

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  • 1996 – Como já antecipei acima, nesse ano, houve uma primeira articulação visando a criação da Organização de Cooperação de Xangai, que só seria fundada propriamente cinco anos mais adiante (2);
  • 2001 – A fundação propriamente dita da primeira configuração da OCX, dá-se em junho de 2001. Ela posteriormente, nestes vinte anos, iria se ampliando cada vez mais;
  • 2003 – ONU nega autorização aos EUA para atacarem o Iraque. Isso não demove o imperialismo estadunidense que, reunindo ao seu lado países serviçais e vassalos, acaba por atacar o Iraque a partir de março de 2003 e lá permanecendo até os dias atuais (Biden menciona que vai retirar as últimas tropas até 31 de dezembro deste ano)(3);
  • 2006 – Na Assembleia Geral das Nações Unidas em setembro desse ano, o ministro das Relações Exteriores do Brasil sob o governo Lula, articula com Rússia, China e Índia, a possibilidade de criação de um bloco mundial, que levaria a sigla de BRIC (4);
  • 2009 – Neste ano formaliza-se a criação do bloco BRIC, posteriormente com a incorporação da África do Sul, transforma-se em BRICS e passa a realizar Conferências/Reuniões anuais (5);
  • 2012 – Aqui a data mais significativa. Li um artigo à época, dando conta que o fato que narro a seguir, pode ser considerado o fim formal do mundo unipolar, portanto já há nove anos passados. Trata-se de uma reunião em 4 de fevereiro desse ano, do Conselho de Segurança da ONU. Os EUA, apresentam uma proposta de Resolução exatamente igual a que tinha sido aprovada no ano anterior, que levou o número de 1.973/2011, que tratava da autorização para que a OTAN/EUA garantissem os “direitos humanos” (sic) do povo líbio. Essa resolução foi aprovada por 13 votos a favor e duas abstenções (Rússia e China). Daí em diante, vimos o que ocorreu na Líbia. A sua completa destruição e assassinato de seu líder. Desta feita, uma nova resolução, que é cópia da anterior, propõe “levar ajuda humanitária à Síria, cujo ditador estava massacrando o seu povo” (sic). A votação foi 13 a favor dois contras, da Rússia e da China que, pela primeira vez em muitos anos – talvez décadas – vetava uma proposta vindo dos EUA (6).

Os fatos mais atuais

No Oriente Médio, os EUA, a Arábia Saudita e os fascistas do mundo inteiro, perderam a guerra na Síria. Houve uma vitória não só do governo sírio, com a ajuda da Rússia, mas das forças que lutam contra a dominação hegemônica dos EUA. Isso é apenas parte do exemplo. Se expandirmos para Oriente Médio como um todo, eles perderam no Iraque, no Líbano e estão perdendo no Iêmen, país que vive uma guerra civil (7).

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Outra importante questão na atualidade é respondermos o porquê a República Bolivariana da Venezuela não caiu ainda? Em 2020, o país, naquele sufoco de não poder refinar o seu petróleo – e o que o país menos precisa é de petróleo, pois tem a maior reserva do mundo – pois eles precisam de insumos para o refino e a produção dos derivados, bem como, às vezes, precisam de peças que faltam para fazer funcionar suas refinarias. Ela não tem acesso a essas peças, nem aos insumos, porque está sob sanções e bloqueios impostos pelo imperialismo.

Em maio de 2020, o Irã mandou cinco superpetroleiros, cada um com dois milhões de barris de gasolina (8). O quinto petroleiro tinha também insumos para o refino, bem como peças de reposição para o funcionamento de suas muitas refinarias. O Irã, além disso, abriu no país, uma rede de supermercados que fornece alimentos para a população (9).

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Quando os superpetroleiros estavam saindo do Irã, o almirante Craig Faller, comandante da IV Frota Naval dos Estados Unidos, que “cuida” do Hemisfério Sul, disse em entrevistas que concedeu: “estamos preocupados com o apoio do Irã ao governo de Maduro”. Esta frota está no mar do Caribe, que banha a Venezuela, onde está imposto o bloqueio naval pelos EUA. Todos os petroleiros passaram, nas barbas do almirante, e nada aconteceu (10).

Por que os EUA não impediu a chegada dos petroleiros à Venezuela? Claro que eles queriam impedir que isso ocorresse. Mas não o fizeram. Porque, no caso, não se tratava de mexer apenas com o Irã, mas também com a Rússia, que fornece o melhor sistema antimísseis do mundo e está presente na Venezuela.

Esse sistema é muito melhor que o sistema Patriot dos EUA, que já não protege mais nada de tão obsoleto. No dia 14 de setembro de 2019, vários drones, que devem custar no máximo uns 10 mil dólares, saíram do Iêmen, percorreram em torno de mil quilômetros e conseguiram invadir o espaço aereo saudita e atacar duas maiores refinarias de petróleo da Arábia Saudita, parando toda a sua produção. E esse espaço aereo é “protegido” pelo sistema Patriot completamente obsoleto (11).

Objetivo dos Estados Unidos hoje no mundo

De meu ponto de vista são três os seus grandes objetivos. O primeiro deles é lutar para que o mundo continue sendo unipolar, mantendo a sua hegemonia. Joe Biden, neste sentido, pode fazer o melhor governo internamente, mas, do ponto de vista externo, está fadado a cumprir um outro papel. O de tentar ser o algoz de vários países. Mas, não conseguirá. Será derrotado em todos eles.

O segundo objetivo é fazer de tudo para afastar a Rússia da China que, para eles, é uma aliança perigosa. Isso vem se mostrando claro pelas reuniões bilaterais, que já vinham ocorrendo desde gestões anteriores, nos EUA com esses dois países.

O terceiro grande objetivo, entre outros menos importantes, é impedir, com todas as forças, que a Alemanha se aproxime da Rússia. Isto ocorrendo, estaria se aproximando da teoria defendida pelo geógrafo John Mackinder (12), que é uma espécie de fundador intelectual da geopolítica moderna, que desenvolveu a teoria do Heartland (o coração do mundo), afirmando que uma união entre esses dois países os tornariam imbatíveis.

Essa é, de fato, uma região do mundo que nunca foi conquistada integralmente, ainda que vários impérios e países tenham tentado. Eles sempre estiveram em lados opostos nas duas grandes guerras e, hoje, há um esboço de aproximação, para irritação de Trump, primeiro e agora, de Joe Biden.

Apresento a seguir, diversos temas sem uma ordem de hierarquia. São fatos e situações geopolíticas dos últimos anos e todos esses fatos, são seguidos de comentários. Esta lista comentada pode ser as provas de que já vivemos um mundo multipolar. E que a transição já se concluiu.

  1. República Islâmica do Irã

A República Islâmica do Irã, fundada pelo Aiatolá Khomeini, em fevereiro de 1979, firma-se como um grande polo e lidera no Oriente Médio, o que lá nós chamamos de “eixo da resistência” que engloba também: Iraque, Síria, Líbano e o Partido Hezbollah. Seu prestígio cresce a cada dia e seu novo presidente – Dr. Ebrahim Raisi – que tomou posse dia 6 de agosto, impõe novo ritmo ao país e um novo entusiasmo entre o povo, tamanha a sua representatividade nas eleições.

  1. EUA perdem força no Oriente Médio

Os EUA vêm perdendo força gradativamente no Oriente Médio, numa proporção inversa do que ganha força e presença, a Rússia e a China. O mundo todo está acompanhando a retirada de tropas dos Estados Unidos dos países da região. Acompanhamos também, a derrota sofrida por eles na guerra da Síria.

Faltam a retirada completa das tropas no Iraque – que está anunciada para 31 de dezembro de 2021 – e algumas tropas – clandestinas – em pequenas regiões de fronteira da Síria. O tal projeto de “levar democracia” para aquela região, idealizada pela direitista Condoleeza Rice naufragou completamente (13).

  1. Fortalecimento militar da China

A República Popular da China ruma, até 2030 para se consolidar como a segunda potência naval da Terra. Até lá ela terá sete porta-aviões. Ter porta-aviões, demonstra um grande poder de projeção naval em qualquer lugar do mundo.

O Clube dos possuidores de porta-aviões é tão seleto quanto o Clube Atômico (os países que têm ogivas nucleares), que são nove países. O outro clube de donos de porta-aviões, tem apenas seis “integrantes”, a saber: EUA (11), China (2), Itália (2), França (1), Índia (2) e Reino Unido (2). Quando falo de porta-aviões, estou considerando aqueles com capacidade para deslocar acima de 70 mil toneladas (14).

Para se ter uma ideia, o maior destroier da Terra, até hoje fabricado e em operações, tem 30 mil toneladas. Um porta-aviões funciona como se fosse um aeroporto flutuante. Os EUA têm 11 porta-aviões e estão renovando a sua frota, quando serão aposentados os porta-aviões atuais, todos da série Nimitz e entrarão em operações os novos e mais modernos da série Gerald Ford.

A China tem dois, o terceiro entra em operações em 2022 e já está construindo mais quatro. Esses quatro novos serão nucleares e a plataforma de lançamento será por sistema eletromagnético. Bem mais modernos do que os atuais, que precisam de uma rampa para lançar ao ar seus aviões.

  1. Avanços na América do Sul e Central

Detectamos uma mudança no perfil político nos países da América do Sul, integrada por 12 países. Não sabemos se vamos chegar à quase totalidade, nunca se alcançou isto desde 1998, de nações com governos progressistas, para não usar o termo “esquerda”. A Colômbia é um exemplo de país onde nunca se conseguiu isto. Em maio de 2022, com eleições presidenciais naquele país – completamente influenciado e na órbita dos EUA – deve eleger, pela primeira ver na sua história, um presidente progressista, que é o Gustavo Petros.

Mas, houve um momento, na América do Sul que chegamos a dez países governados por presidentes progressistas. Houve um recuo, foram caindo um a um, através de golpes desfechados por tribunais eleitorais, pelos seus parlamentos e outras formas. Manuel Zelaya, em Honduras em 2009; Fernando Lugo, no Paraguai em 2012; Dilma Roussef no Brasil, pelo Congresso em 2016 e Evo Morales na Bolívia, em 2018.

Além da Argentina, vive-se já a retomada na Bolívia, Peru (ameaçado de golpe), Honduras e Chile. A Venezuela luta para consolidar a sua República Bolivariana. É possível ainda vencer no Uruguai, com a volta da Frente Ampla ao poder central.

Na américa Central, registra-se a vitória de Daniel Ortega Saavedra com sua reeleição na Nicarágua Sandinista, além de Honduras, com a vitória de Xiomara Castro (esposa do ex-presidente deposto em 2009, Manuel Zelaya). E, claro, a nossa querida Cuba socialista, sempre acossada pelo imperialismo estadunidense.

  1. Contradições interimperialistas

Cresce de forma bastante clara o que as esquerdas chamam de contradições interimperialistas e que nós devemos aproveitar tais contradições, estudá-las e, na medida do possível, estabelecer determinadas alianças, visando isolar um mal maior.

Apenas um exemplo disso foi a reunião do G7, ocorrida em 15 de julho de 2021, onde John Biden foi com a missão de sacar um documento ao final, muito duro contra a Rússia e a China, mas ele não conseguiu. No documento originado do encontro, há uma ou outra frase num tom um pouco mais elevado contra a China, mas nada preocupante e não saiu como Biden queria. Tanto que a China nem emitiu uma nota de resposta.

  1. Queda dos governos fascistas

Uma série de governos fascistas no mundo estão caindo ou vivem com dificuldade. As duas derrotas mais emblemáticas no campo internacional são a de Donald Trump (EUA) e Benjamin Netanyahu (Israel), depois de 12 anos de governo.

No caso do Brasil, todas as pesquisas indicam o amplo favoritismo do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva. Até jornais da burguesia brasileira, como O Estado de São Paulo, porta-voz da burguesia financeira no Brasil, bem como Folha de São Paulo e O Globo têm estampado em manchetes e mesmo editoriais suas discordâncias com Jair Bolsonaro. Alguns chegaram até a propor o seu afastamento.

  1. Acordo Rússia-China

Dia 28 de junho de 2021, foi renovado por mais cinco anos um acordo de boa vizinhança entre a Rússia e a China, que foi assinado, pela primeira vez, em 28 de junho de 2001. A reunião entre Vladimir Putin e Xi Jinping comemorou não só os 20 anos de acordo como renovou por mais cinco.

Lembremos que 2001 foi o ano do ataque às Torres Gêmeas. No mesmo ano, completavam-se 10 anos do fim do mundo bipolar: EUA-URSS, com o fim desta última. Em 26 de dezembro de 1991 foi arriada no Kremlin a bandeira da União Soviética e hasteada a bandeira tricolor do czarismo. Uma derrota retumbante para os que defendem o mundo multipolar, defendem uma alternativa ao capitalismo (15).

Vejam um trecho do documento assinado, do acordo de Boa Vizinhança, que foi melhorado e aperfeiçoado: “Sempre que surgir uma situação uma das partes contratantes se percebam confrontadas com uma ameaça ou uma agressão, as partes contratantes deverão, de imediato, entrar em contato e proceder a consulta visando eliminar essas ameaças”. Aqui está claramente expressa a disposição de irem à guerra em conjunto caso os EUA ataque um dos dois parceiros.

No dia 15 de junho de 2001, foi consolidada a chamada Organização de Cooperação de Xangai-OCX, que já vinha sendo articulada desde 1996. É bom prestar atenção nesta sigla, pois ainda vão ouvir falar muito nela. Em inglês a sigla é SCO (Shangai Cooperation Organization).

A formação atual é Rússia, China, Cazaquistão, Índia, Paquistão, Quirguistão, Tajiquistão, Uzbequistão e Irã, com três observadores: Afeganistão, Bielorrússia e Mongólia. Existe ainda a condição de Parceiros de Diálogo, que são: Arábia Saudita, Armênia, Azerbaijão, Camboja, Qatar, Egito, Nepal, Sri Lanka e Turquia. Por fim, existem os convidados, que são: Comunidade dos Estados Independentes (sucessora da URSS), Turcomenistão e ONU.

A OCX é uma organização praticamente de cooperação militar e, secundariamente, econômica. Nada de diplomacia ou de política. Pelo menos três são os seus objetivos declarados em sua carta de constituição: a luta contra extremismos, separatismos e terrorismos.

O efetivo somado das tropas desses países, é de cerca de dez milhões de soldados na ativa e cinco milhões na reserva. Os EUA têm dois milhões. Claro que se houver um conflito direto, os Estados Unidos ganhariam a guerra, mas não é esta a questão. De qualquer forma, é uma grande organização militar.

  1. Derrota dos EUA na Síria

Se a Síria caísse, nós perderíamos o último bastião da resistência ao imperialismo no mundo árabe. O presidente da Síria, dr. Bashar al-Assad, expressa um sentimento que ficou quando Gamal Abdel Nasser, presidente do Egito (1956-1970) morreu, que eles chamam de “nasserismo”, uma espécie de nacionalismo árabe, que não governa nenhum país, mas tem muito eco na população. O que consolida a aliança do eixo da resistência, formada atualmente pelo Irã, Síria, Iraque e Líbano e mais o grupo Hezbolláh.

  1. Retirada das tropas do Iraque e Afeganistão

Já mencionei acima este item. Biden retirou todas as tropas de ocupação em agosto de 2021 no Afeganistão (na prática foi enxotado daquele pequeno e pobre país). Sobre a retirada das tropas no Iraque, prometida para dezembro de 2021, ainda não ocorreu. Devem restar pelo menos cinco mil soldados em cinco bases militares ainda instaladas. Especificamente no caso da Síria, não chegou a ocorrer uma ocupação pelas tropas estadunidenses, que deram apoio aos terroristas que planejavam derrubar o presidente do país. Mas, eles mantém um estimado de dois mil soldados por lá.

  1. Formação do maior bloco comercial da história

Relembro um fato da maior relevância, ocorrido em 2020, que ganhou grande destaque na imprensa internacional. As manchetes diziam: “Foi formado o maior bloco de livre comércio da história”. Isso ocorreu em 15 novembro de 2020. Xi Jinping, presidente da China, assinou acordo de cooperação e livre comércio com os países asiáticos a ASEAN, integrada por dez países: Indonésia, Malásia, Filipinas, Cingapura, Tailândia, Brunei, Vietnã, Mianmar, Laos e Camboja (16).

Além desses dez países da Ásia, eles puxaram para o bloco, a Austrália, Nova Zelândia, Japão e Coreia do Sul. Um bloco de livre comércio com isenção de tarifas por 20 anos. Isto foi um golpe fenomenal nos Estados Unidos.

O Obama, por exemplo, fez de tudo para construir o Tratado Transpacífico com a liderança de seu país ao bloco, visando isolar a China (18). Ele estava quase conseguindo. Trump tomou posse em janeiro de 2017 e tirou os EUA do bloco.

Aproveitando esse “vácuo” político, diplomático e comercial, a China fundou este novo bloco sem a participação dos Estados Unidos. Esta é uma rasteira que acontece em num mundo multipolar.

  1. Aproximação entre França, Alemanha e China

No dia 21 de julho de 2021 houve uma reunião virtual entre Emmanuel Macron, Ângela Merkel e Xi Jinping. Isto é tudo o que os Estados Unidos nunca quiseram. Esta “pequena desobediência” desses dois estados clientes dos EUA, já se conseguiu verificar no giro que John Biden fez pela Europa no mês de junho desse ano, sem conseguir atingir seus objetivos.

Dos grandes do G7, sobra a Inglaterra que segue absolutamente subserviente, sem esboçar qualquer reação ao domínio imperialista.

  1. Derrota dos EUA nos organismos da ONU

Os Estados Unidos sofrem sucessivas derrotas dos organismos multilaterais da ONU. Especialmente, na Assembleia Geral. A derrota mais emblemática se deu pela 29ª vez, em 24 de junho de 2021, quando os países membros votam pela exigência do fim do bloqueio sobre Cuba.

Votaram a favor do fim do bloqueio 184 países. Estados Unidos e Israel votaram contra e, três países se abstiveram, dentre eles, vergonhosamente, o Brasil que sempre votou a favor de Cuba em outras ocasiões, mais a Colômbia e a Ucrânia governada por Vladimir Zelensky, um notório direitista (veja artigo específico sobre isso).

No Conselho de Direitos Humanos, um dos mais emblemáticos, com 47 membros, os Estados Unidos não ganham uma proposição. Eles já fizeram de tudo para impedir que Cuba, Rússia, China fossem membros e queriam patrocinar o ingresso da Arábia Saudita no Conselho. Um país que esquarteja jornalistas, entre outras atrocidades. O Conselho barrou a Arábia e aceitou os outros três.

  1. Aliança estratégica entre Rússia e China

Não são apenas pelos fatores que mencionei anteriormente: Tratado de boa vizinhança e OCX, mas também em outros aspectos, em especial o documento de mais de dez páginas lançado no dia 4 de fevereiro de 2021 (ver artigo especial sobre isso).

  1. A conquista do espaço sideral pela China

O domínio sobre o espaço não é mais privativo dos estadunidenses. Neste momento, há uma estação espacial exclusiva da China, com três astronautas chineses que orbita a Terra. Também, neste exato momento, um veículo chinês fotografa Marte, colhendo amostras do solo, faz a pesquisa e retransmite os dados. Isso sem mencionar o projeto de construir uma base permanente na Lua.

Por todos os argumentos acima enumerados, estes fatos reforçam minha absoluta convicção que concluímos a transição entre a unipolaridade e já vivemos em um mundo multipolar (em outro artigo tratarei da guerra na Ucrânia em curso que, do meu ponto de vista, trava-se uma luta ali exatamente a consolidação da multipolaridade).

Notas:

1) Tratei desse tema em um longo capítulo de um dos meus livros, mas um ensaio meu sobre isso pode ser lido aqui <https://bit.ly/3Hj3Q17>;

2) Toda a história da OCX, seus membros, objetivos e perspectivas podem ser lidos aqui <https://bit.ly/3fXZT5g>;

3) Neste link <https://bit.ly/3c6GCwL> pode-se ler a reportagem sobre a saída das tropas do Iraque;

4) Jim O’Neill foi quem usou a sigla BRIC pela primeira vez. Veja neste link mais informações sobre ele <https://bit.ly/3ojDAuQ>;

5) Tudo sobre a historia dos BRICS pode ser lida aqui <https://bit.ly/3n9yh1J>;

6) Neste link <https://bit.ly/3wF7QUM> pode-se ler todos os detalhes dessa histórica reunião do CS/ONU;

7) Sobre a guerra de guerrilhas que ocorre no Iêmen neste link <https://bbc.in/3nerNPf> pode-se obter maiores informações;

8) Escrevi um ensaio especial sobre esse envio de combustível pelo Irã para a Venezuela que pode ser lido aqui <https://bit.ly/3nclxYj>;

9) Veja neste link <https://bit.ly/3c6M6Yn> os detalhes sobre a rede de supermercados abertos na Venezuela pelo Irã;

10) Vejam neste matéria os relatos da elevação das tensões sobre o envio dos petroleiros iranianos à Venezuela <https://bit.ly/3JyQr65>;

11) Neste link <https://bit.ly/3BjQ7TO> detalhes sobre os drones iemenitas que destruíram a segunda maior refinaria da Arábia Saudita;

12) Aqui neste link <https://bit.ly/3yXpSlx> pode-se ler um breve resumo sobre a vida de Halford John Mackinder;

13) O professor da USP, Peter Demant, que expressa posições conservadoras fala em “exportar democracia” neste link <https://bit.ly/3FdcjAX>;

14) A história dos porta-aviões e quantidade por países pode ser vista neste link <https://bit.ly/2UVWJI7>;

15) Deixo de falar sobre o histórico acordo Rússia e China de 4 de fevereiro de 2022, que tratarei em outro artigo;

16) Veja neste link <https://bit.ly/36nlUZN> mais informações sobre a ASEAN;

17) O Tratado Trans-Pacífico, também chamado de Parceria Transpacífica e os detalhes estão neste link <https://bit.ly/36gQvZ8>;

18) Aqui neste link <https://glo.bo/3JhGUzP> reportagem sobre esse importante acordo;

19) Neste link <https://bit.ly/3I8BXYF> os detalhes sobre a 29ª vez que a ONU vota pelo fim do embargo à cuba, jamais cumprido pelos EUA.

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